Capítulo Cinco

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A noite foi muito difícil. Quase não dormir, shonhei com coisas estranhas:

Eu estava em uma casa muito velha. Caminhava pelos corredores, era mais como se eu flutuasse pela casa, passando por quadros antigos. Todos com a mesma mulher: minha mãe. Havia uma sala onde se encontrava um enorme espelho. Eu não prestei muita atenção nele de incio, os enormes lustres tintilavam acima de mim, então mirei finalmente o espelho. Meu reflexo não era exatamente meu reflexo. No lugar do meu corpo magro e auto e meus cabelos castanhos e volumosos havia um enorme e furioso lobo cinza. Seus olhos cor de âmbar cheios de ódio me examinavam como se pudesse ver minha alma.

Tudo que eu fiz foi encara-lo de volta. Aos poucos eu pude perceber que o ódio que ele sentia estava sendo transmitido para mim. Uma fúria intensa crescendo gradativamente. O lobo parecia ler meus pensamentos, me conhecer profundamente... Um rosnado rasgou o silêncio e minha garganta queimou. Eu tinha roubado ou teria sido o lobo? Numa explosão inesperada o espelho quebrou-se em milhões de pedaços...

Assustada, suando e com a cabeça doendo eu acordei.

Mais uma vez meu quarto parecia estanho à mim.

Ainda eram cinco da minha manhã. Meu coração pulava que nem louco dentro do meu peito. Resolvi levantar, minhas pernas vacilaram um pouco no caminho até o banheiro. Lavei o rosto e, mesmo parecendo criancice, não me olhei no espelho, talvez o lobo ainda estivesse me rondando.

Não voltei para a cama, o receio de voltar a ter aquele sonho estranho me impedia fervorosamente.

Abri a janela do meu quarto, tendo completa visão do quintal cheio de flores. Construída na enorme e forte arvore estava a minha antiga casinha. Com uma enorme nostalgia lembrei-me de mim mesma e Mel quando éramos crianças brincando na casinha da árvore. Olhando em um canto qualquer do interior da casa, pela vista da pequena janela que ela possuía, tive um vislumbre de grandes olhos vermelhos me espionando. Rapidamente fechei as cortinas e me afastei da janela.

Meu Deus! Como um sonho pode mexer tanto com a gente.

Olhei ao meu redor. Acho que estou ficando claustrofóbica. Peguei uma das fotos da minha mãe, simplesmente porque achei que iria precisar. E resolvi dar uma volta, nesse horário haveriam algumas pessoas na rua fazendo uma caminhada.

Ao chegar na cozinha me surpreendi com a imagem de Igor e a Senhora Penelope sentados à mesa de jantar, com um semblante cansado ele sussurrava algo para ela. Eles pareceram não notar minha presença de tão concentrados na sua conversa. Havia uma caixa em cima da mesa, uma caixa familiar.

Sentei-me à mesa e eles finalmente perceberam que eu estava ali também.

"Filha... O... Que está fazendo acorda essa hora?" A mulher de cabelos grizalhos perguntou assustada.

"Pergunto o mesmo." Disse olhando significativamente para a caixa. Percebendo isso Igor a escondeu de minha visão.

Respirei fundo.

"Você devia estar dormindo, aproveitando que ainda..."Ele começou

"Não precisa esconde-la de mim." Disse fazendo um gesto em direção a caixa.

"Eu... Eu não estou escondendo, só..."

"Está sim. E eu sei porquê." Tirei a foto de minha mãe do bolso do meu moletom. "Eu já vi."

"Onde...? Você mexeu nas minhas coisas?!"

"Na verdade essas coisas pertencem à mim. Ela as deixou para mim quando partiu, as fotos, a carta..."

"Lana, calma..." Penelope aproximou-se de mim e segurou meu ombro.

"Você leu? Lana! Não devia ter mexer nas minhas coisas. Eu confiei em você!" Ele gritou.

"Eu também confiei em você. Confiei nos dois." Disse afastando a mão de Penelope de mim. "A minha vida toda. E vocês esconderam essas coisas de mim, parte da minha vida. Podiam ter me entregado aquela carta a muito tempo. Mas parece que eu não sou madura o suficiente pra vocês, né?"

"Lana isso não é verdade..." A senhora veio ma minha direção

"Claro que é!" Gritei "Você não tem o direito... É meu direito decidir o quanto eu devo saber sobre minha mãe."

"Não. Não é. É meu direito e dever te proteger de certas coisas... E a sua mãe... A família dela... Eles..."

"Eles o que, Igor? Vocês sabem de alguma coisa não é? O que é?"

"Não. Eu não sabemos de nada sobre eles, só que são perigosos. Sua mãe... Ela não foi embora Ela fugiu!" Penelope agora estava bem próxima de mim.

"Fugiu de quê?" Perguntei atordoada.

"Eu não sei! Durante todos esses anos eu nunca descobri. Eu só... Só fiquei aqui e perdi o amor da minha vida." Igor desse com a voz carregada de tristeza, sua cabeça estava tombada.
Ele parecia extremamente cansado e infeliz. Jogou-se na cadeira parecendo derrotado. Me senti culpada pelo seu estado. Então era isso, Igor era apaixonado pela minha mãe.

Penelope respirou fundo. As palavras e raiva estavam entaladas na minha garganta pela nova e chocante informação.

"Igor... Eu... Me desculpe." Eu disse, me aproximando dele.

"Não. Está tudo bem..."

"Não. Eu... Eu fui egoísta..."

"Tudo bem, querida." Ele afagou meu rosto com delicadeza, um sorriso sem felicidade alguma estava preso em seu rosto. "Só me prometa que ficará longe de tudo isso. Pro seu bem!" Seus olhos marejados eram tão suplicante. Olhei para Penelope que estava com o mesmo olhar. Eu não poderia responder de outra maneira.

"Ok."

Infinito - Livro IOnde histórias criam vida. Descubra agora