Capítulo Seis

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Havia uma semana desde que as aulas começaram. A Universidade é um lugar assutador quando você está despreparada como eu estava.

Decidi seguir o conselho do meu tutor e optei pelo jornalismo.

Os sonhos estranhos ainda não tinham acabado, todos diferentes mas sempre com os mesmos elementos: Lobos, florestas escuras com olhos vermelhos me vigiando e um espectro dourado. As vezes eu não conseguia dormir, lia a carta de minha mãe umas mil vezes...

Não era fácil cumprir a promessa que fiz para Igor e Penelope, a cada dia ficava mais curiosa, mais intrigada e acima de qualquer outra coisa: assustada.

Eu estava na aula do senhor Jones, um dos melhores professores daqui, quando ouvi um sussurro.

Meu nome. Apenas meu nome.

Não liguei. Essas coisas estranhas vinham acontecendo comigo à um tempo. Mas a voz continuou me chamando. Cada vez mais auto, cada vez mais nítida. Sussurrando; chamando-me...

"Lana... Você tem que me ouvir... Lana... Tem que ir atrás da verdade... Tem que liberta-lo ou ele vai destruir você... "

"O quê?" Eu disse, achei por um momento que alguém de verdade estava falando comigo.

Todos olhavam na minha direção.

"Senhorita Davis, algum problema? Não compreendeu o que eu disse?" Professor Jones me questionou.

"Ah, não senhor. Eu entendi. Anh... Pode continuar. Me desculpe."

Ele assentiu e continuou.

Eu juro que tentei me concentrar no que ele dizia, mas era impossível. A mulher na minha cabeça continuava falando. Repetindo as mesmas coisas.

Mas uma vez eu interrompi a aula. Pois me levantei abruptamente, todos me olhavam com se eu fosse de outro planeta. Saí da sala o mais rápido que pude.

"Lana... ouça-me..."

"Me deixa em paz!" Eu disse em voz alta quando cheguei no corredor vazio.

"Você tem que vir... É o seu destino" Ela insistia.

"Para!" Eu ia caminhando enlouquecida, o final do corredor parecia cada vez mais longe.

"Entenda, já está escrito... É o seu futuro!"

De repente me senti tonta, minha cabeça deu mil voltas. E então, eu estava em outro lugar. Minha visão estava embaçada, vozes distorcidas me atormentavam, um zumbido.

Assustei-me ao ouvir minha própria voz:

"O que está fazendo aqui?" Eu dizia.

Havia duas outras pessoas no local, um quarto bem iluminado. Uma das pessoas, eu não conseguia ver seu rosto, se manifestou.

"Vou deixar vocês à sós..." Era uma mulher, julguei pela voz aguda e aveludada. E ela estava sorrindo.

A outra também era mulher. Podia ver suas mãos e seu lindo vestido branco com nitidez.

"Da azar ver a noiva antes do casamento." Eu disse com nervosismo.

"Não..."

E então tudo voltou a girar. O sol estava brilhando forte entre as árvores, o vento corria muito rápido... Parecia me embriagar com o perfume da relva.

Alguém saia de trás das árvores.

"Então, quem foi dessa vez?" Eu perguntava.

Uma garota alta, cabelos negros e olhos tão azuis e frios que dariam arrepios a outras pessoas. Mas eu parecia sentir uma afeição enorme por ela. Podia sentir meu coração inflar só em vê-la sorrir.

"Eu, é claro. Mas eu acho que dessa vez mamãe fez corpo mole pra me deixar ganhar!"

"Claro que não..." Disse a mulher que vinha atrás dela. Não tive tempo de ver seu rosto, pois tudo virou um borrão de novo e logo eu estava no quarto da primeira visão.

Sozinha dessa vez, me olhava fixamente no espelho. Eu estava linda e radiante. Sentindo uma felicidade imensurável, me distanciei do espelho para me olhar por completo. Eu estava num vestido branco. Um vestido de noiva...

Mais uma vez as imagens se embrulharam e eu estava de volta a Universidade. Percebi que estava sentada no chão, tremendo e suando, minha cabeça doía.

"Mas que porra foi isso?"

***

"E aí eu 'acordei' sentada no chão..." E esta sou eu contando minhas alucinações para a psicóloga que Mel me recomendou. Quando eu era criança eu fui à um psiquiatria, foi de grande ajuda na época, por isso resolvi voltar a fazer sessões. Talvez os sonhos sumam de uma vez por todas.

"Eu acho que talvez você esteja com medo crescer e ter o mesmo destino de sua mãe, Lana. Você sempre conviveu com as pessoas dizendo que vocês eram muito parecidas, não foi?"

Concordei com a cabeça. Isso fazia sentido.

"E o lobo que você vê em seu sonhos pode simbolizar esse medo..."

"É. Acho que você tem razão." Eu disse.

"Certo, então... Sabe o que eu acho que você deveria fazer? Deveria pegar a carta e se livrar dela. Livre-se desse medo. Diga a sua mãe que você a ama, mas que você não é ela."

"Sim. Eu... Eu vou fazer isso!" Disse decidida. "Muito obrigada, Margot."

Me despedi dela e fui para casa o mais rápido possível.

Talvez isso mude tudo!

"Oi querida!" Penelope me cumprimentou assim que cheguei em casa. "Como foi com a Margot?"

"Ótimo. Eu acho que vou me livrar de uma vez por todas dos sonhos."

"O que vai aprontar?" Ela perguntou, não parecia preocupada de verdade.

"Vou queimar a carta." Disse simplesmente.

Estava tão decidida. Cega pela possibilidade de fazer o medo passar. Ia subindo as escadas pensando em todos os sonhos. No lobo, na garota, no vestido de noiva e na mulher que as vezes aparecia como um espectro dourado e com cheiro de jasmim. O cheiro pareceu tão forte quando apanhei a carta...

"Está tudo na sua cabeça" Sussurrei tentando me convencer disso.

Passei pela cozinha. Igor havia se juntado a Penelope e me observava atentamente.

"Tem certeza que vai fazer isso?" Ele perguntou

Parei. E o olhei no olho. Não era isso que ele queria? Que eu me desfizesse de todas essas coisas? Meu corpo não se movia. Parada. Era como se eu pudesse ler seu pensamento. Ele sabia. Eu tenho que fazer, mas eu não posso...

De repente me vi caminhando para o quintal. Álcool, fósforo e a carta. Igor vinha atrás de mim.

"Querida..."

"Estou confusa! Não era isso que queria que eu fizesse?"

"Eu também não entendo. Eu só acho..." Ele parecia inseguro.

"O que,?" Disse abruptamente. Eu olhei para Penelope.

"Só ouça, Lana." Ela disse.

Nada daquilo fazia sentido, eu queria mas não queria queimar a carta. Igor aprovava mas não aprovava. Que droga tá acontecendo?

"Eu também tive sonhos com a sua mãe..."

"O que...?"

"Eu sei o que eu disse... Mas... Eu acho que você tem que ir!"

"Como...?" Estava perplexa. Minha mãe apareceu pro Igor em sonho. Isso é loucura!

"Igor..."

"Eu sei... É insano, mas eu acho que é o certo a se fazer..."

Infinito - Livro IOnde histórias criam vida. Descubra agora