Capítulo 34

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A morte sempre parece algum tipo de adversário, em qualquer lugar que você procure. É praticamente impossível encontrar uma pessoa que enxergue a morte como aliada, e para mim ela é muito mais que isso... Para mim, a morte é minha pior inimiga.

Uma maldição que anda à anos rondando a minha historia. E mais uma vez, por mais distante que ela possa estar agora, a morte ameaça descaradamente o meu final feliz. A ideia desse destino onde eu perderia Elena era terrível, e para ela eu seria apenas um pequeno espaço de tempo, uma velha lembrança para alguém que tem a eternidade.

Do lugar escuro em minha mente se encontrava eu podia ver aquela luz dourada tentando se aproximar... Meu medo era que se eu deixasse a luz me aquecer por muito tempo a ferida seria grande de mais para se curar... Nem a morte seria capaz de me fazer esquecer a dor.

"Lana?" Não. "Lana, meu amor, abra os olhos pro favor." Não me peça isso, não com esse tom de suplica. Eu queria poder voltar para aquele lugar onde encontrei minha mãe, sentir-me segura lá.

"Lana!" Outra voz suplicava, os braços gélidos da primeira pessoa me envolviam enquanto a mão de uma outra segurava a minha firmemente. Tudo era tão frio... Eu não sabia o que estava fazendo ou por que não queria acordar... Só sabia que eu era humana e que minha vida, um dia, teria um fim, enquanto eu envelhecia e corria em direção a morte, Elena, o amor da minha vida, permaneceria petrificada no tempo infinitamente linda e saudável.

Dor não era bem a palavra certa para o que eu senti quando abri os olhos, estava mais para angústia. O rosto lindo de Elena me fitava preocupado.

"Você está bem?"

"Sim." Menti. "Só fiquei tonta de repente... Não sei." Menti de novo.

"Os batimentos estão um pouco alterados!" Cecília informou.

"Aqui querida, beba isso." A senhora, que se chamava Vivian, me estendeu um copo com água.

Eu congelei por alguns segundos.

"Lana, tem certeza que está tudo bem?"

"Claro." Peguei o copo e forcei um sorriso para a mulher. Se eu mal podia mover os músculos do rosto, nem queria imaginar como eu iria fazer para caminhar.

"Elena, acho melhor vocês pegarem suas coisas e levarem Lana de volta. Talvez Lucas possa fazer um check-up!" Thadeus se pronunciou.

Só agora olhei de fato para onde eu estava. Sentada em um sofá branco que não se destacava do resto das coisas na sala. Tudo naquela casa parecia estar em diferentes tons de cinza e branco.

Havia várias fotografias espalhadas pela casa, algumas mostravam uma versão mais jovem de Vivian. Ela não se preocupava? Não percebia que a cada dia que se passava estava mais próxima de dizer adeus ao homem que ela ama e que ele continuaria por aqui, completamente trite por tê-la perdido?

Não. Na verdade, eu parecia a única ciente daquilo. Elena ainda segurava minha mão com estrema delicadeza.

Eles quase voltaram ao normal depois de um tempo. Algumas vezes um dos vampiros me olhava esperando que eu caísse de novo. Não demoramos muito, eles também pareciam ter pouco para conversar...

A viagem de volta foi muito silenciosa se comparada com a de ida. Eu podia sentir o olhar de Cecilia sobre mim e sentia também que cada músculo de Elena estava rígido. Durante o percurso ela perguntou no minimo umas três vezes se eu estava sentindo algo.

"Eu devo ter labirintite ou uma coisa assim... Só isso, nada para se preocupar." Já estava cansada de mentir. Queria ir para algum lugar em que eu pudesse pensar em cada detalhe sobre minha fatídica descoberta.

Quando chegamos Cel desceu do carro como um raio e eu nem subi o segundo degrau ela já estava de volta com Lucas ao seu lado. 

"Lana, está tu..."

"Ai, eu não aguento mais vocês perguntando isso!" Eu disse "Por que não vamos logo fazer esses exames, então vocês vão ver como não tem nada de errado comigo. Foi só um mal estar, acontece com todo mundo."

"Só queremos ajudar." Elena disse.

"Eu sei." 

"O.K." Lucas disse antes que eu pudesse falar qualquer outra coisa. "Vamos." Ele me puxou pelo braço e me levou para a biblioteca de Amélia. "Por que não esperam aqui fora?" O rapaz pediu a Elena e Cecilia enquanto fechava a porta. "Não se preocupe, elas não vão ouvir nada. Será uma consulta apenas entre medico e paciente."

Apenas afirmei com a cabeça. Nós sentamos no sofá que havia ali, ele pegou meu pulso e checou minha frequência cardíaca. 

"Porque fez isso se pode ouvir meu coração à metros de distância?" Ele sorriu.

"Faz as pessoas se sentirem mais confortáveis..."

"Entendo." Respirei fundo, meu cérebro começou a dar voltas e meus pensamentos estavam se organizando. "Você não parece tão martirizado quanto Elena... Digo, por ser um vampiro."

"Hum, sim. Sempre foi mais difícil para ela... As... Ela achava que não merecia, ter a imortalidade ou que tinha feito mal uso dela... Bom, isso mudou..."

"Quando nos conhecemos! Ouvi isso..." Nós rimos. "Como aconteceu com você? Quem te transformou?"

Ele me olhou questionador por uma fração de segundos. 

"É uma velha e desinteressante historia, mas eu gosto." Ele deu uma risadinha curta. "Em setembro de 1797 eu tinha apenas 17 anos e morava em Baltimore, lugar onde nasci e fui criado. Eu trabalhava na construção da USS Constellation, a primeira fragata lançada na cidade, uma das primeiras do país... Eu estava feliz, não tinha uma vida perfeita mas, não passava fome, minha mãe e pai estavam vivos e eu provavelmente me casaria com Angelina Roberts no ano seguinte..." Ele olhou para os livros por um demorado espaço de tempo. "Não é uma vida da qual eu sinto falta... Porém, não sei se deixaria tudo se tivesse a chance de escolher." Eu levei um pequeno susto com aquela afirmação. Ele me olhou e sorriu. "Não é coisa mais fácil do mundo ser uma criatura sobrenatural que se alimenta de sangue humano e queima ao sol... Bom, no dia em que aconteceu era uma segunda muito tempestuosa. Estávamos todos desistindo do trabalho no momento e então eu me lembrei que havia deixado meu par de luvas no chão do convés, eu voltei para pegar e uma das cordas do navio arrebentou, ela me atingiu e rasgou quase que todo o meu tronco."

"Nossa!" Eu exclamei sem pensar.

"Eu sobrevivi ao impacto da corda, mas havia uma infeção muito grande se espalhando por todo meu corpo. Eu não me lembro de muita coisa daquela noite agonizante... Apenas... Apenas do choro baixo da minha mãe ao lado da minha cama no hospital e é claro, a voz aveludada e doce do médico que me perguntou se eu era forte o suficiente. Eu sempre me pego pensando se ele estava fazendo aquela pergunta pra mim ou para ele mesmo... Bem, de qualquer forma, ele me fez beber seu sangue quando eu disse que seria capaz de tudo para fazer o choro de minha mãe acabar. Eu nunca o vi novamente, ele me deixou um livro apenas. Um diário. Estavam ali anotadas todas as informações que eu precisava saber sobre essa nova criatura que eu era. Aprendi a saciar minha sede com sangue de animais, procurava sempre uma desculpa para fugir do sol, o que não era necessário já que qualquer um naquela cidade faria exatamente o que eu mandasse... Eu não me aproveitei disso. Procurei viver da forma mais normal que conseguisse. Até encontrar Alekei, um jovem lobo solitário que tentou me matar, ele me contou da Marca do Lobo... Então eu esperei apenas os anos de vida que ainda restavam aos meus pais aqui na terra acabarem e parti em busca da minha libertação daquela prisão noturna em que vivia. Depois daí é apenas história que você já deve imaginar... Conheci Elena e Amélia e logo depois encontrei minha Cecília!"

"Então você não se arrepende?"

"Nunca me arrependi, sempre vi esse infortúnio que me aconteceu com uma visão científica. O que aconteceu tinha de acontecer, não há nada que eu possa ou queria mudar." Ele passou a mão pelo queixo quadrado. "O que tem lhe preocupado tanto, Lana? Seja o que foi que causou o seu desmaio, está aqui dentro." Ele pôs o dedo indicador na minha testa e sorriu.

"Você é bom!" Ele riu "Mas, não se preocupe. Se meu único problema é esse que está na minha mente, então ele é completamente solúvel."

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