Capítulo Onze

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No café da manhã fiz algo que devia ter feito a muito tempo, li a carta da minha mãe novamente.

E algo me chamou atenção: 'Procure por Ania Lokaster' Ela dizia na carta. E eu

tinha a sensação de já ter visto aquele nome em algum lugar...

Peguei o pequeno papel em meu bolso. E lá estava:

'Biblioteca Lokaster'

Havia um endereço também. Nesse momento eu percebi que não importava se Dory estava mentido, as suas instruções se assemelhavam com as da minha mãe. Eu já sabia para onde deveria ir.

***

"Eu não quero ter que tirar você do seu trabalho... É só que, eu preciso muito ir a um lugar e não faço a mínima ideia de como chegar lá... "

Estava perguntando a Ethan, o mesmo rapaz que me ajudou ontem, se ele poderia me ajudar mais uma vez. Só espero não estar sendo muito aproveitadora.

"Claro que eu posso ajudar. De-me só alguns minutos eu vou trocar com um garoto que iria fazer compras e então lhe acompanho."

"Isso não vai mesmo te incomodar?" Perguntei. Odeio pedir favores.

"Claro que não, senhorita." Ele sorriu. Eu apenas balancei a cabeça positivamente e fiquei o esperando na frente do prédio.

Logo ele saiu. Mostrei-lhe o endereço e disse que não era muito longe de onde ele ficaria. Começamos a caminhar e Ethan parecia querer ficar cada vez mais próximo. Ele me perguntava os motivos de eu ter vindo para Lavenham. Ele era educado e eu não queria que ele pensasse que estava dando espaço para ele se aproximar de outras formas. E acho que ele entendeu. Chegamos ao local e Ethan seguiu seu caminho, talvez um pouco cabisbaixo.

'Desculpe Ethan'

A biblioteca parecia velha, mas não acabada. Era simples e elegante. Haviam alguns jovens entretidos com os milhares de livros que aquele lugar possuía. Fiquei maravilhada com tudo aquilo. Havia um cheiro bom de café no ar.

O silencio terno e aconchegante propiciava uma sensação de tranquilidade. Me aproximei de uma garota de cabelos longos e muito negros. Ela usava roupas de uma banda de rock e olhos incrivelmente verdes.

"Com licença..."

"Ah, oi." Ela sorriu de maneira simpática.

"Eu... Eu estou procurando por Ania Lokaster..."

"Oh! Só um minuto, vou chamá-la." Ela era americana, sorri com o pensamento de não estar mais 'sozinha'.

Sentei-me em uma das cadeiras e esperei por um tempo que para mim foi uma eternidade, mas tenho certeza de que não passaram de alguns minutos.

"Hum... Olá! Você estava procurando por mim?"

Uma mulher alta cabelos castanhos da mesma cor que os meus e olhos também na mesma tonalidade. Quando me levantei da cadeira onde estava ela hesitou por um misero segundo, como se levasse um susto. Seu corpo - braços e pescoço - era coberto por tatuagens tribais.

Ela era intimidadoramente linda.

Fiquei um pouco insegura e levei alguns breves segundos para responder sua pergunta.

"Ah... S-sim..."

"Uh, está procurando algo especial?" Ela perguntou, com um olhar sugestivo.

Isso me deixou um pouco mais nervosa.

"Na... Na verdade eu gostaria de lhe fazer algumas perguntas..."

Ela ergueu uma sobrancelha com olhar de desconfiança.

"Perguntas...?"

"Sim! Sobre Celeste Louise. Ela... Eu acho que você pode me ajudar com..."

"O que você tem haver com Celeste?"

Seu olhar era duro e feroz. Como um animal, ela me fitava com seus punhos cerrados. Meu coração errou a batida. A sua forma encantadora acabara de se transformar em uma fera intimidadora.

"Eu..." Ela se aproximou um passo. Tive medo e olhei ao redor, muitas pessoas circulavam por ali. Ela não me atacaria, principalmente porque não havia motivo. "Eu sou filha dela."

A frase saiu um pouco mais forte do que imaginei.

"Você... ?" Ela uniu as sobrancelhas parecendo chocada.

"Meu nome é Lana Daves Lokaster." Eu não tinha certeza se ela sabia ou não que minha mãe havia morrido. "Minha mãe me deixou uma carta antes..."

"Eu sei..." A mulher disse sentando-se em uma cadeira próxima, ainda parecendo atônita. Juntei-me a ela. "Você, até que parece com ela..." Ela disse depois de um tempo.

"É, me dizem muito isso..."

"Eu sinto muito. Você devia ser muito pequena quando ela se foi, não?"

"É..." Houve uma pausa sentimental.

"Você... Disse que queria fazer perguntas..."

"Sim, minha mãe me pediu para eu vir procurar..." Nesse momento me lembrei-me das palavras exatas de minha mãe. "Na verdade ela me deu a oportunidade de escolher... Ela disse que era algo grande de mais para pôr em uma carta..."

"Ela disse que você podia escolher?"

Afirmei silenciosamente.

"Isso é típico dela. Então ela não disse exatamente o que você devia procurar, não é?! Não deixou nada explícito?!"

"Não." Respondi um pouco chateada.

"Então eu não posso ajudar diretamente." Ela disse erguendo-se da cadeira.

Imitei seu movimento.

"Co... Como assim? Mas, minha mãe disse que eu devia procurar por você e Dory também me deu seu endereço..."

"Você falou com Dory?" Afirmei com a cabeça. "Bom! Sua mãe iria gostar de ter vocês próximas. Olhe... Eu não posso alterar o curso das coisas. Se você vai descobrir alguma coisa será por conta própria. Você tem uma biblioteca inteira para te ajudar..." Ela olhou ao redor.

"Mas... Mas porque você não pode me dizer de uma vez?" Perguntei um pouco alterada.

Ela sorriu calmamente.

"Sua mãe te deu uma escolha, eu não vou me meter no meio disso. Você terá de descobrir tudo sozinha e quando ou se quiser você quiser parar só você pode decidir. E além do mais você tem de deixar as coisas acontecerem da forma e no momento certos!"

"Isso não faz sentido!" Eu sussurrei quando ela me deu as costas.

"Um dia fará!"

Levei um leve susto, como ela ouviu isso? Caminhei atrás dela, eu não podia deixar as coisas assim! Eu vim atrás de respostas e vou obte-las.

"Certo, vamos supor que eu aceite isso! Por onde eu começo? E eu também ainda não sei que, exatamente é você..."

"Primeiro, eu acho que você deveria dar uma volta hoje. Sair, tomar uns drinks... Nós temos um pub excelente não muito longe daqui. E segundo, eu sou da família. Sou prima da sua mãe, o que faz de nós duas primas de segundo grau."

"Hum..." Foi tudo que eu consegui dizer.

"Hum" Ela me imitou com um sorriso, seu olhar estava calmo até com um certo brilho. Essa súbita mudança de humor me deixou confusa, mas eu sentia, numa parte bem profunda de mim, que mais cedo ou mais tarde eu iria entender isso tudo.

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