Capítulo 36

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"Não!" A palavra ecoou como um tiro de canhão pelo lugar. "Isso está fora de questão!"

"Elena eu ag..."

"Eu já disse!" Ela me olhou com tamanha rispidez que meu chão tremeu. "Não basta eu ter que conviver comigo mesma, tenho ainda que carregar o fardo de transforma-la num monstro? Não, obrigada."

Não havia outras pessoas na sala, não havia outras pessoas na cidade, nem no resto do mundo. Apenas eu e Elena.

"Elena eu sei que consigo! Eu não vou..."

"Eu já decidi! Tem noção do quão perto da... Do quão difícil foi da última vez que te dei meu sangue!"

"Você não me deixa falar, droga! É minha decisão, não sua, não deles, minha!"

"Acha que eles fariam isso? Acha que minha própria família me machucaria dessa maneira?" Ela sorriu debochada. "Ou você quer pedir isso a eles?" Ela apontou para a porta.

"Era isso que eu devia fazer mesmo não é? Me entregar, pelo menos assim alguém sairia vivo!" Elena abriu a boca diversas vezes, com um misto de incredulidade e aflição seu rosto de porcelana se contorcia enquanto pensava. "Se vocês querem tanto morrer para salvar uma humana indefesa eu sinto muito, mas eu não sou o tipo de pessoa que assiste enquanto os outros se sacrificam por ela!" Eu sabia, por mais que eu quisesse, nunca sairia por aquela porta. Fui para o meu quarto.

"Lana!" Eu ouvi sua voz e por mais que meu coração doesse, não olhei para trás.

"Deixe-a, vocês precisam de um tempo." Ouvi alguém diser, mas não distingui a voz.

Irônico pensar que a única coisa que precisávamos era a que menos tinhamos: Tempo.

Não havia tempo! Tínhamos quatro dias até eles que ataquessem e eu tinha no máximo uns cinquenta anos de vida. Eu nunca havia pensado que cinquenta anos seria pouco tempo, porém imaginando todos os anos que eu poderia ter com Elena...

Afundei-me na cama e deixei cada lágrima presa sair. Eu queria chorar desde do momento em que ouvi o nome de Ryan pela primeira vez  no dia anterior. Não havia nada que eu pudesse fazer, ele não desistiria e eu também não desistiria. No final das contas talvez se tratasse de nós dois.

Talvez a história não fosse sobre Elena e eu... Talvez fosse para as coisas serem assim, Ryan perdeu o seu amor e agora era hora de eu perder o meu. Parecia justo, numa perspectiva diferente. Contudo eu não queria essa justiça, era egoísta e se pudesse acabaria com Ryan com minhas própria mãos. Eu tinha mais coisas a perder... Mesmo que só tivesse Elena, ainda valia cada gota de sangue que provavelmente seria derramada. Me assustei por pensar assim, por colocar minha felicidade acima dos outros... Mas essa droga de amor era assim, não era?

Ele te consome por inteiro e te faz mudar. Tudo se transforma e ganha novas cores, novas formas... Nada nunca terá o mesmo gosto de antes, nada nunca será como antes!

Não percebi quando peguei no sono. Apenas quando Elena entrou nos meus sonhos afugentando um terrível pesadelo.

"Oi." A Elena de meu sonho disse. Ela tinha transformado o lugar escuro onde eu estava em um lugar cheio de vida e plantas, um lugar cheio de nós, com florzinha brancas espalhadas pelo chão.

"Oi." Respondi timidamente.

"Se você não me amar nada fará sentido." As batidas do meu coração tropeçaram umas nas outras.

"Eu ainda amo você, é claro que eu ainda amo você!" Toquei seu rosto e ao meu toque ela fechou os olhos deixando uma lágrima rolar por sua bochecha. "Você ainda me ama?"

Infinito - Livro IOnde histórias criam vida. Descubra agora