Capítulo Dezessete

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As luzes, a música clássica, os garçons circulando sem parar, as pessoas elegantes... Tudo naquele lugar fazia-me sentir desconfortável, deslocada. Lauren estava sendo muito gentil explicando-me algumas obras, mas eu podia ver que ela queria conversar com seus amigos. Então, eu dei a desculpa de que queria ir ao banheiro para que ela pudesse socializar com seus amigos sem que eu me sentisse um encosto.

Comecei a caminhar sem realmente saber ara onde estava indo, até que uma pintura chamou minha atenção.

Um par de olhos completamente negros numa tela de fundo branco. Linhas negras abaixo dos olhos davam a impressão de que a tela estava com rachaduras, em meio a imensidão negra eu pude perceber um brilho vermelho e aquilo me fez pensar no que a obra transmitia para mim, afinal esse é o intuito da arte, não?

Eu imaginei alguém com aqueles olhos, talvez outras pessoas os temessem e eu podia entender a razão desse medo: Os olhos transpassavam, desejo, luxuria, fome.

Depois de alguns segundos percebi que não era a única observando a pintura. Elena estava bem atrás de mim, seu lábio entreaberto e seu olho semicerrado.

"Você não gostou?"

Ela suspirou sem olhar para mim: "Você gostou?"

"Perguntei primeiro."

Ela sorriu fraco.

"Eu... Não consigo ver beleza..."

Olhei mais uma vez para a pintura. No fundo eu havia, sem explicação aparente, gostado. Talvez pelo o que a tela me dizia, eu não conseguia sentir medo ou repulsa, sentia curiosidade. Qual era o desejo que os olhos tanto tinham? Por que amedrontar?

"Eu gostei."

Ela negou com a cabeça mas estava sorrindo.

"Você quer... Hum, caminhar comigo?" Eu perguntei insegura.

"Hum, claro. Adoraria fazer companhia para você."

Nós começamos a caminhar devagar para observar as obras, na verdade, ela observava as pinturas e eu a observava. Era irritantemente difícil tirar os olhos dela.

"Posso perguntar por que você veio para Lavenham?" Depois de um tempo Elena perguntou.

"Férias."

Ela me olhou com as sobrancelhas arqueadas.

"Por que uma adolescente escolheria um vilarejo no sul da Inglaterra para passar suas férias? Por que não um lugar tropical?"

Eu ri.

"Bem, eu..."

"Não precisa mentir para mim, Lana. Eu guardo segredo."

Encantadora e deliberadamente ela piscou para mim.

"A minha mãe morava aqui quando era jovem e ela... Ela morreu quando eu era criança."

"Eu sinto muito." Ela disse como se estivesse arrependida.

"Tudo bem."

"Então você veio para ter algumas espécie de comunicação com ela...?"

"É, mais ou menos isso."

"Mais ou menos?"

Eu sorri internamente pela sua curiosidade. Mas não respondi, se eu tentasse contar tudo o que eu passei para vir até Lavenham e os motivos da minha viagem, ela iria pensar que sou louca.

Ela apenas balançou a cabeça entendo que eu não contaria mais nada a ela.

Enquanto conversávamos nem percebi que havíamos nos distanciado das outras pessoas, estávamos perto de uma enorme vitral com a imagem de Maria.

Infinito - Livro IOnde histórias criam vida. Descubra agora