Capitulo 24| Vitoria

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CAPITULO 24| EU PODERIA SENTIR SUA DOR PARA NUNCA MAIS TE VER SOFRER.

Rafael não sabia se andava de um lado para o outro ou se ocupava-se me olhando desesperado. Com certeza ele está aflito. E eu não o estou julgando, afinal, já estive em seu lugar. Contar uma parte da nossa vida para outra pessoa já é difícil mas contar a pior parte se torna ainda mais. É como sentir acido descendo pela garganta. Os olhos ganham vida própria e olhamos para tudo, menos pra pessoa que nos está ouvindo.

– Você pode deixar pra me contar depois. Eu posso esperar. — digo já aflita de vê-lo desse jeito. – você não precisa..

– não. Eu vou fazer isso agora. Eu preciso. Nós iniciamos uma nova etapa, está na hora de você saber o que houve..

– por que você faz soar como se fosse uma coisa terrível?  — pergunto receosa – o que a aconteceu de tão ruim pra você estar assim, Rafa?

– muita coisa aconteceu.. — ele sorri. – é difícil dizer em qual ponto os problemas começaram a aparecer. Eu não sei como começar essa merda de história! 

– então conte o que está sentindo.

Ele me olha, parece surpreso com a minha fala como se nem o mesmo soubesse responde-lá.

– Bom, eu estava no quarto quando meu pai entrou pela porta. Seus olhos estavam arregalados e cheios de lágrimas e eu juro que nunca o tinha visto daquele jeito. Eu não lembro bem como recebi a notícia da morte do meu avô, mas lembro que não podia ver a dor se multiplicar nos olhos do meu pai. Minha avó estava sozinha na Alemanha e sofria de Leucemia. Ela não tinha ninguém pra cuida-lá..

– você foi pra Alemanha pra cuidar da sua avó? — pergunto surpresa.– por que nunca me disse isso?

– Vitória, você acha que eu não quis te dizer?  — ele me olha nos olhos. – eu tentei diversas vezes, mas estava te perdendo cada vez mais. Nós quase não nos víamos, você vivia com o Isac. E.. Quando eu recebi aquela foto. Doce, eu senti tanta raiva.. Eu sei que foi a maior burrice da minha vida, mas por pelo menos uma noite na minha vida eu não queria te ver, te tocar ou ao menos pensar em você. Eu iria para a Alemanha no dia seguinte e, na minha mente fértil, tudo ficaria bem. — ele ri. – mas não ficou. Você apareceu aquela noite  e balançou tudo, eu sabia que não te veria por um bom tempo. E sabia que criar qualquer tipo de novo vínculo com você seria o meu pior erro. Mas quando eu te vi daquele jeito..  tão frágil, tão machucada.. Eu te quis, doce. Eu quis te tocar e nada mais importava. Eu tinha uma noite e não poderia disperdisa-la com intrigas. Depois de anos imaginando eu finalmente pude sentir o gosto dos teus lábios e eles eram incríveis, saber que talvez nunca mais os tivesse em contato com os meus me doía mais do que qualquer coisa que você possa imaginar. E por mais que aquilo parecesse o certo eu sabia que não era. Te beijar não era o certo, não quando as saudades pudessem  se duplicar assim que eu fosse embora. — ele se senta ao meu lado sem olhar para mim, olhando para fora da janela com o olhar vago.– quando  pisei o pé naquele avião eu senti meu coração se partir em tantos pedaços que pensei que nunca mais o veria inteiro novamente. E o engraçado é que mesmo com toda aquela dor eu sabia que em algum canto você estava a me odiar profundamente..

Ouvindo-lhe falar desse jeito é impossível não me sentir culpada. Eu o odiei durante anos, anos quais ele também sentiu minha falta. Eu não sabia de nada.. Se eu soubesse tudo teria sido diferente. Mas eu entendo, talvez se não fosse pelo ódio que eu sentia dele eu teria passado todos esses anos morrendo de saudades. Por que eu não me imagino sem pensar em Rafael pelo menos uma vez por dia. E o ódio que eu sentia talvez fosse mínimo a dor que ele sentiu em saudades e em remorsos.

– quando eu cheguei na Alemanha vi que não tinha mais nada o que fazer ali. Minha avó estava prestes  a morrer e eu com dezesseis anos não tinha nada pra fazer a respeito. Eu só a via morrer, dia após dia, cada vez mais triste e a cada dia menos alguém que se possa olhar nos olhos e sorrir. Eu não sei quando foi que comecei a ser fraco mas algo dentro de mim morria também, uma parte da qual eu sempre tive ao seu lado. Eu estava sozinho pela primeira vez e não te ver ao meu lado era quase tão horrível quanto ver minha avó morrer. Ela conseguiu sobreviver por mais alguns meses até que não conseguiu nem sequer acordar de seu cochilo.. E eu, Bom, eu estava uma merda. Sentia falta do seu riso, sentia a tristeza de carrega-lá em meu peito sem saber se o mesmo fazia por mim. Eu podia ter ido embora naquele instante, percorrer o mundo até chegar ao seu alcance, mas eu tive medo. E não era um medo superavel, eu tive medo de te procurar e te encontrar na vida de outra pessoa se não eu. E pode parecer egoísmo mas eu não suportaria te ver amando outra pessoa, não enquanto eu estivesse amando você.

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