— Algumas técnicas levam muito tempo para serem aperfeiçoadas. Mas olha só você, operou poucas vezes com ele e já sutura da mesma forma. — Cortez se referia a alguém que estava a estados de distância, há quase uma semana.
— Olha quem fala — zombei, encarando a pinça com a qual ele segurava a agulha.
— Os pupilos tendem a aprender com seus mentores, não ao contrário.
Cortou o fio de nylon ao fim do seu último ponto, então me encarou.— Você é cirurgião-plástico.
— Nem sempre o Müller foi neurocirurgião.
Minha estranheza competiu com a curiosidade, mas fingi desinteresse quando comentei:
— Pagaria para ver ele corar toda vez que tivesse que examinar uma paciente de mamoplastia. — O chefe riu de forma audível por trás da máscara cirúrgica. — Por que ele desistiu?
— Ele escolheu a neurocirurgia antes mesmo da medicina, não dá para competir com isso. — Cortez começou a se livrar das roupas de proteção ao fim do curto procedimento, o imitei. — Ninguém queria ter um residente surdo na cirurgia, por isso ele fez um especialização clínica antes. Então um dia, precisei de um infectologista no caso de fasciíte necrosante. Pedi a ajuda dele no centro cirúrgico... O garoto era um prodígio com o bisturi.
Com um brilho diferente no olhar, o cirurgião finalizou com um tom e sorriso que pareciam ser de orgulho. Não sabia se era sincero, ou uma forma de diminuir minha atual apatia pelo Müller, por meio de uma manipulação tola.
Em menção de dizer que já era de costume do Müller passar por cima do que for para conseguir o queria, abri a boca, mas a fechei quando um homem loiro de olhos turquesa e corpo atlético, roubou minha atenção ao cruzar nosso caminho, usando um pijama cirúrgico vermelho-escuro. E Brittany serpenteando em seu encalço.
— Quem é aquele? — sussurrei para que só o chefe pudesse ouvir. — E por que a Brittany não está em Washington?
— Barry Coleman, do hospital universitário. Veio fazer as cirurgias de alta complexidade que não podemos adiar por mais tempo. — Ele fez uma pausa. — O Müller deve ter mando ela de volta. Os planos mudaram e ele não aguentaria a Neville por mais nem um dia.
Pelo que concluí, o neurocirurgião, que eu não sabia se podia mais chamar de supervisor, não retornaria no fim de semana como previsto. Não prolonguei a conversa, e em silêncio, Cortez e eu tomamos rumos diferentes depois da porta dupla.
* * *
O cheiro de poeira misturado ao de papel envelhecido me fez espirrar assim que abri a porta da sala de arquivos. Adentrei a sala, vasculhei as caixas nas prateleiras à procura dos históricos antigos de dois pacientes da cardiologia e fui até a biblioteca para estudar os casos.
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Não perca o Controle
Romance[Obra Registrada] Medicina nunca foi o sonho de Melanie Thompson, mas desde a infância foi incumbida a acreditar que um dia seria. Depois da morte da mãe, a garota se viu obrigada a atender seu último pedido. No entanto, a neurocirurgia foi apr...