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Debruçada sobre uma das extremidades da mesa de cor verde vibrante, estudei o melhor ângulo para arremessar a bola branca na borda oposta, passando por um campo minado de esferas adversários, e assim ricochetear de encontro à última bola que eu precisava encaçapar. Isaac praguejou como os outros quatro que me desafiaram antes dele.— Dobro a aposta se... — Sua reticência era proposital. — Se conseguir convencer o Nathan a jogar com você.
— Por que sinto que você quer me ferrar?
— Ele demonstra interesse, mas sempre diz que não joga.
Correspondi ao olhar, daquele que acompanhava nossos movimentos pelo reflexo do espelho atrás das prateleiras de bebidas, fazendo-o desviar a atenção.
— Joga comigo? — perguntei depois de me debruçar ao seu lado no balcão e ganhar seu olhar, diretamente desta vez.
— Você já é perigosa de mãos limpas, não vou pagar para ver o que pode fazer armada. — Seu olhar foi de encontro ao taco de madeira que manipulava de uma mão para outra. — E também nunca joguei bilhar antes.
— Deixe que hoje seja a noite das primeiras vezes. — Indiquei a garrafa verde, cuja transparência não escondia faltar um único gole. — As holandesas costumam ser fortes.
— Como você consegue gostar disso? — Dei de ombros.
— Posso te sugerir algo mais doce?
— Considerando sua resistência a éter, acredito que se refere a um destilado, que me derrubaria no terceiro gole.
— É um drink brasileiro, que eu ensinei ao Ian, e ele colocou no cardápio de tão bom. — Puxei a garrafa dele para mim, e tirei um gole prolongado, depois solicitei a bebida ao Patrick. — Lá o nome é caipirinha, é a base de suco de limão, gelo e muito açúcar, então apenas um-quarto é álcool. Normalmente cachaça, mas na falta foi substituída por vodca.
Seus olhos percorreram o cardápio e o dedo deslizou pela linha que oferecia os ingredientes citados e a forma como Ian apelidou a bebida: mestiça.
— Em sua homenagem, eu suponho. Pelo visto o senso de humor é algo compartilhado entre os irmão. — Se referia a Ian e Isaac. — Assim como a compulsão de te apelidar, o que vai além dos Marshall’s.
— Mas você parece ser imune, já que se recusa a me chamar até pelo meu, quem diria criar um. — O silêncio que se estendeu ficou estranho. — Posso te ensinar a jogar. É que... eu meio que vou faturar cinquenta dólares do Isaac se te fizer jogar comigo.
Müller deu de ombros, como quem não via problemas em aceitar, ou para fugir do clima entre nós. Junto à mesa, distribuí as bolas de forma aleatória, com a mão mesmo. Após uma rápida explicação, endireitei sua postura e o modo como as mãos posicionaram o taco.
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Não perca o Controle
Romantizm[Obra Registrada] Medicina nunca foi o sonho de Melanie Thompson, mas desde a infância foi incumbida a acreditar que um dia seria. Depois da morte da mãe, a garota se viu obrigada a atender seu último pedido. No entanto, a neurocirurgia foi apr...