🔴Capítulo 14/2

7.3K 625 137
                                    

     O fato de nunca ter bebido antes, contribuiu para que aquelas doses reduzidas de cada drink o embriagasse. O homem sociável e risonho, que não precisei usar de muitos argumentos para levar até onde estavam os outros médicos, se divertiu com conversas que, se estivesse sóbrio, classificaria como tolas.

     — O álcool desidrata — disse depois de parar ao seu lado e lhe tocar o ombro. Abri a garrafa de água mineral e a entreguei. — Vai ajudar seu fígado metabolizar todo esse coquetel Molotov dentro de você. Quem sabe também diminuir sua ressaca, que não será nada agradável.

      — Você é engraçada, Thompson. — Deixou escapar outra risada, esta provocou um rebuliço no meu corpo, o coração mandou  o sangue de órgãos que o cérebro julgou menos importante para os músculos, preparando-os para uma possível fuga, o que explicava a sensação de borboletas no estômago que veio a seguir. — Realmente parecia uma bomba de combustível quando desceu queimando o que encontrou pela frente.

     Com a inteligência reduzida e a coordenação motora comprometida, nem parecia o mais brilhante dos cirurgiões quando resolveu gesticular enquanto segurava uma garrafa aberta. O sacudir abrupto das mãos espalhou o líquido transparente por toda a frente do colete preto e parte de uma das mangas da camisa escura.  Quando ele passou por mim indo em direção ao banheiro, entendi porquê ele não bebia. Ele precisava de destreza com o bisturi e ser introspectivo com os residentes, grupo do qual eu não pertencia mas, então o pensamento que me ocorreu depois não pareceu tão errado.

        Não tinha fila no corredor que levava aos banheiros, sem pestanejar passei pela única porta entreaberta e de luz acesa, ignorando a placa com desenho azul sobre minha cabeça.

      — O banheiro masculino já está virando um hábito para você.

       A voz grossa e zombeteira chegou a mim antes que meus olhos tivessem tempo de se colocarem sobre seu peito nu, o que me fez hesitar enquanto fechava a porta atrás de mim. Desta vez, não tinha o álcool para justificar a minha impulsividade. Logo, também não teria desculpas para o que fiz na sequência.

      Andei até o secador de mãos que ele usava para diminuir a umidade de suas roupas. Com uma anormal urgência, mas parei de modo brusco a menos de um passo dele. Elevei os olhos até sua face e me surpreendi que desta vez tivesse uma expressão, uma que consegui ler com facilidade. Seu olhar era quase predatório e os dentes sendo afundados ao longo do lábio inferior por um breve instante, me serviu como um convite.

      Ao entreabrir de sua boca após a mordida, fiquei nas pontas dos pés e coloquei meus lábios entre os seus. Uma de suas mãos foi direto para meu pescoço, e mesmo que mínima a pressão de seus dedos, senti a necessidade de abrir um pouco mais a boca, em busca de mais ar. Por consequência, deixando um caminho mais amplo para que sua língua adentrasse, sedenta pela minha.

    Passeei pelo abdômen plano, ouriçando  a pele e os poucos pelos sobre ela, então avancei até tocar o volume maciço sob o tecido da calça. Trilhei um caminho sem volta quando o toquei, indo em direção à extremidade. Contudo, as mãos de Müller ao redor do meu antebraço, além de impedir que eu percorresse toda sua extensão, ele ainda me conduziu até seus ombros.   

      Agora seus olhos pareciam confusos. Não por ele não querer prosseguir, pois ele queria, mas sabia também que não podia, era contra tudo que acreditava, e o profissional politicamente correto dentro dele deveria estar bombardeando-o com regras, códigos e mais um milhão de outras provas do quão errado era o que ele queria, mas o álcool se tornou uma variável inesperada. Baixando seu escudo impenetrável, assim, expondo que dentro dele também existia um homem submerso naquele desejo reprimido, que por anos ele soube como controlar, entretanto, agora era o que lhe estava controlando.

      Uma fera faminta culpando-se por sentir vontade de se saciar, Nathan Müller não passava disso. A culpa lhe corroeria por dentro como uma doença maligna se ele o fizesse. O médico era certo demais para infligir as regras, então apenas o livrei de um martilho futuro quando retirei as mãos se seus ombros e revirei um passo para longe dele.

      — Estou evitando seu arrependimento, quando não tiver álcool tomando as decisões por você.

      — Eu estou no controle — disse sério e com firmeza. — Possivelmente ele tenha inibido alguns neurotransmissores e ativado outros, que inundaram meu sistema nervoso de hormônios, de modo que eu não consiga resistir a você e tenha criado coragem para tomar decisões a cerca di...

      Minha boca colada a sua foi o que lhe impediu de continuar. O homem me segurou pela cintura desta vez. Müller tinha um tipo de pegada que fazia o princípio da impenetrabilidade parecer piada, nós estarmos a ponto de nos fundirmos um ao outro, me levando a crê que talvez dois corpos pudessem ocupar o mesmo lugar no espaço. Eu estava tão colada a ele que parecíamos um só. Dois coração batendo no mesmo ritmo acelerado, como um espelho. Pulmões funcionando na mais impressionante sincronia, igualmente ofegantes.

     O chão desapareceu, não como uma forma figurada de dizer que estávamos flutuando, o médico havia corrigido a envergadura de sua coluna, por consequência, me elevando junto, assim, não precisou parar de me beijar enquanto me conduzia até a bancada de mármore da pia, onde me colocou sentada.

      Suas mãos deslizaram pelas laterais das minhas coxas, desfazendo os laços de cetim de ambos os lados, antes de seguir para o joelho, de onde traçou lentamente o curto caminho até o tecido rendado sobre o vestido. Müller abriu os olhos no meio do beijo, capturei aquele momento pois tinha feito o mesmo, no instante que deslizou a calcinha entre minhas pernas e a guardou do bolso, logo senti seu polegar me acariciar com uma precisão cirúrgica.

     Com a mão livre desatou habilmente o nó na base da minha nuca, expondo meus seios ao cair da frente única da peça que eu vestia. Meus mamilos ganharam atenção de sua boca quente e molhada, então, fora da sua linha de visão, joguei a cabeça para trás, de olhos fechados e deixei escapar um gemido abafado pelos lábios vedados com força.

    Aproveitando o ângulo do meu pescoço, Müller roçou a barba na pele sensível antes de chupá-la. Voltei a encará-lo quando não senti mais seu toque em parte nenhuma de mim. A pausa proposital foi usada para levar o polegar até sua boca, para lamber como se fosse um de seus doces. Tentei fechar as pernas diante da resposta latejante e úmida, apertando com força seu quadril.

      A digital molhada de sua saliva deslizou pela parte de baixo do meu lábios, pressionando delicadamente para baixo, até conseguir abertura suficiente para que os dois dedos vizinhos, mais longos e quase tão grossos quanto o polegar, pudessem adentrar minha boca. Seu indicador e dedo médio deslizaram para dentro, depois para fora com a mesma sutileza. Sob a simples menção deles saírem por completo, lhe agarrei pelo pulso com ambas as mãos e os abocanhei, sugando todo o comprimento da superfície delicada, por fim, meus dentes exerceram pressão na região mais rica em terminações nervosas: as pontas.

     Uma baforada desprendeu dos seus pulmões, com a intensidade que deixava nítido que antes estava prendendo a respiração. Seu olhar se manteve preso ao meu, enquanto os dedos me penetraram novamente, porém agora minha boca estava livre para beijá-lo. 

     Nunca pensei que um simples movimento de pinça com os dedos e conhecimento da anatomia pudessem me levar ao mais intenso dos orgasmos. Meus gemidos entrecortavam o silêncio quando meu rosto afundou contra seu peito, a procura de estabilidade para meus tremores.

     Mesmo com o ouvido zunindo, escutei quando a porta se abriu, mas não ousei olhar na direção dela como Müller, que por reflexo ou por sua super visão periférica, encarou Isaac sobre os ombros.

      — Fala para a Mel que o paiger, que ela deixou na mesa, estava avisando do desabamento do prédio na décima avenida. — Já estava fechando a porta quando acrescentou: — O Cortez quer pelo menos ela lá, junto com os outros que já foram.

      Aquele era o pior cenário possível para se ter espectadores, mas fiquei aliviada por saber que mais nenhum colega de trabalho saberia de um segredo que, se eu tivesse me atentado a trancar a porta, seria apenas nosso.

     — Não posso voltar para o hospital sem o que guardou no bolso — lembrei quando amarrava as alças do vestido apressada. — Ainda  mais com essa roupa.

     — Preciso de uma prova, caso meu cérebro tente me convencer que não passou de uma alucinação.

Não perca o Controle Onde histórias criam vida. Descubra agora