🔴Capítulo 12/3

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       Afastado da civilização, encontramos o chalé de dois andares, que exibia uma arquitetura rústica de tirar o fôlego. E o grande lago artificial bem em frente a varanda, circundado de postes de iluminação, trazia ainda mais deslumbre à paisagem.

    Olivia que estava exausta das milhares de palestras e apresentações ao longo da semana, acendeu a lareira, mostrou toda a casa como ótima anfitriã, indicou os quartos com seus respectivos banheiros próximos e nos deixou bem a vontade antes de ir dormir.

    Sem sono, pretendia assistir um pouco de tevê depois do banho, porém a presença na poltrona diante da lareira me fez parar bruscamente na entrada da sala. Seus olhos passaram do jornal que ele segurava direto para o meu rosto, depois desceu até a pequena porção das minhas pernas que estava exposta, pelo fato de eu estar usando apenas uma lingerie por baixo do sobretudo, e retornou ao papel. Acenei de modo exagerado com ambos os braços, afim de chamar novamente sua atenção.

      — Vou te atrapalhar se pôr um filme? — Ele apenas balançou a cabeça em sinal de negativo. Peguei o controle remoto e me sentei no sofá maior, de onde notei que ele ainda me olhava de viés. — Vou colocar legenda.

     Entendendo que a informação era um convite, Müller atravessou na minha frente, em uma velocidade que me fez perceber pela roupa casual que usava, que era a única despreparada no quesito roupa extra. Ele se sentou na outra extremidade do sofá e depositou o jornal no lugar vazio entre nós; eu fechei os olhos por alguns segundos, arrependida de ter checado como aquele moletom marcava tudo que não era da minha conta.

      Adormeci antes do filme terminar e só despertei a tempo de tomar café com Olívia. Junto a varanda, observei como o homem delicado também se saia muito bem com trabalho braçal. A força com que segurava o machado, deixava as veias de seus antebraço e mãos ainda mais salientes, ao cortar a lenha que alimentaria o fogo mais tarde, já que a anfitriã tinha ideias mais com alto teor alcoólico para resolver este problema a curto prazo.

      Antes do almoço, Olívia só serviu drinques suaves. Mas as bebidas foram ficando mais forte a medida que as horas passavam. Em contraponto, minha sanidade diminuía a cada rodada perdida no jogo de cartas. O único homem à mesa tinha a vitória como obrigação,  para não ter que tomar uma das doses generosas da coleção de destilados da cristaleira.
Olívia precisou ir à casa dos sogros depois do jantar, mas antes brindamos à perda de mais uma partida.

     — Você está alta — Müller garantiu quando ficamos a sós.

      — Ainda tenho um e cinquenta e sete, doutor. — Foi difícil conter o deboche.

     — Me referia ao sentido de estar bêbada. — Ele me entendeu a mão. — Vou te guiar até o quarto.

     — Não quero dormir — protestei me levantando, e logo o álcool emendou por mim: — Eu vou patinar.

     — Ficou maluca? Está fazendo seis graus negativo lá fora.

     — Jura? Seis? Que coincidência, é o seu número. — Comecei a rir como uma idiota, e na testa dele se formou uma ruga de interrogação. — Você que gosta desse lance de número nunca percebeu isso? Tudo que tem a ver com você é sempre seis, seis, seis. Não tem nada a ver com o número da besta, esse é totalmente diferente. Aquele é coisa demoníaca, e apesar da cara de lobo-mau, você tá mais pra chapeuzinho-vermelho. — Comecei a rir da associação que meu cérebro entorpecido fez. — E você já usa uma roupinha vermelha.

      Ele fez menção de dizer algo, mas seu celular tocou, e como se trava de uma chamada de vídeo dada a sua deficiência auditiva, o homem pediu licença e foi até a cozinha para ter privacidade. Em condições normais, que não incluíam um misto de todas as bebidas destiladas, eu não teria desgrudado do sofá, mas não o fiz. Peguei os patins no armário de casaco, exatamente na prateleira onde Olívia disse que estariam, e sai.

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