— Uma tônica com limão e gelo, por favor — solicitei ao bartender na mesa de bebidas.
Rivera havia se afastado há pouco, para bajular o Marshall e alguns investidores em potencial, que a psiquiatra sabia exatamente com persuadir a preencher cheques com vários dígitos. Agradeci a Deus por isso, assim ela não ficaria relembrando a cada dez segundo o quanto a residente estava linda, ou narrando cada movimento da mão de Guerra nas costas de Thompson e o quanto isso parecia lhe incomodar. Desviei a atenção dos homens de cabelo grisalho e ternos que valiam mais que o meu carro e fui à procura de Isaac. O avistei próximo a mesa de quitutes, junto de um grupo seleto, do qual faziam parte uma neurocirurgiã e cinco residentes de departamentos distintos.
Isaac veio ao meu encontro e me convenceu a acompanhá-lo até onde os outros estavam. Após cumprimentar a todos, mantive a atenção nos comentários cômicos de Elisabeth sobre minha presença ser a causa de futuros desastres naturais, ventando a curiosidade crescente para ver de perto como o longo macacão berinjela, que lhe delineava as curvas generosas, enaltecia a cor dos olhos da residente. A íris cor-de-jade provavelmente fora realçada pelo roxo, tornado notória a diferença entre elas, já que a outra era uma variação de âmbar quase tão clara quanto o mel.
A psiquiatra se juntara a nós logo após Guerra afastar-se, para atender a um telefonema. Neville fizera um comentário provocativo sobre ele não poder atender à namorada grávida em público. Notei quando o espanto e a raiva travaram uma luta silenciosa, para decidir quem se sobressairia na face de Thompson, que por fim acabou rindo como todos os outros, não tão espontaneamente como eles, claro.
Thompson fora até o jardim para fumar, desta vez Isaac não resolveu acompanhar, então, dispensando um convite, Neville decidiu lhe fazer companhia. O hábito desagradável parecia ser esporádico no caso dela, uma forma nada saudável de diminuir o estresse uma vez ou outra.
Acredito que nem mesmo um maço inteiro de cigarros, teria evitado a cena com a qual me deparei além das vidraças do corredor que dava acesso ao banheiro. Uma dose de propofol talvez pudesse deter a residente. Não, dada a fúria com que ela desferia cada um dos socos contra o rosto da Neville, mantida presa ao chão pelo peso da outra, montada sob seu abdômen — nem um tranquilizante para elefante derrubaria Thompson. Todavia, eu, em um momento de desordem mental, decidi correr até a saída de emergência e interromper a briga, sozinho e de mãos limpas.
Seu cotovelo atingira-me no meio da face no exato momento que minhas mãos agarram-na pela cintura e arrastou-lhe para o mais longe possível da outra residente. O líquido quente escorrera entre os pelos sobre minha boca, inundando-a rapidamente do fluido com gosto ferroso.
— Droga, Thompson! — exclamei após solta-la e cuspir o sangue no chão. — Você quebrou o meu nariz!
Joguei a cabeça para trás, em parte para diminuir o sangramento, mas principalmente para que pudesse tatear sobre a área dolorosamente sensível. A deformidade explicava o porquê de não conseguir respirar. Uma parte de mim sabia o que precisava ser feito para liberar novamente a passagem do ar, no entanto, esta também se lembrava da dor que experimentei na infância, quando o médico precisou voltar o osso no lugar depois do incidente envolvendo a porta do porão e minha mãe.
Contudo, eu não tinha mais nove anos, então fui rápido e preciso. Gemi como adulto, entredentes e baixo, mas meus olhos marejaram e escorreram como os de uma criança.
O sangue se esvaiu com mais intensidade, escorrendo pelo queixo, pescoço e tingindo a camisa que usava. Caminhei em direção ao carro, que por sorte havia estacionado do outro lado da rua. Thompson se pôs no meu caminho.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Não perca o Controle
Romansa[Obra Registrada] Medicina nunca foi o sonho de Melanie Thompson, mas desde a infância foi incumbida a acreditar que um dia seria. Depois da morte da mãe, a garota se viu obrigada a atender seu último pedido. No entanto, a neurocirurgia foi apr...