🟢Capítulo 4/3

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Se pudesse ter previsto que não teria nenhuma emergência durante a noite de sábado, o que infelizmente era épico, pois as pessoas tendiam a fazer besteira no fim de semana, teria marcado uma cirurgia eletiva para otimizar o meu plantão.

Durante a madrugada, auxiliei Smith na cirurgia de um paciente de dezesseis anos, depois fiquei na biblioteca até o dia amanhecer, todavia dormir não estava estre as opções.

Comecei o dia dobrando o turno, para cobrir Sullivan, que teve uma intoxicação alimentar. Intoxicação esta, que eu bem desconfiava ser seu fígado avisando que as rotineiras doses de vodca era demais para metabolizar.

Deixei que Neville passasse as visitas e apenas a supervisionei. Thompson não apareceu, o que me deixou irritado, depois curioso, por fim um pouco preocupado, já que a mesma constantemente se atrasava, porém era a primeira vez que nem sequer aparecia.

Acionei o pager da residente depois que não a encontrei na biblioteca, nem na galeria da Cinco, onde Perry operava. Não obtive resposta. Enviei uma mensagem ao chefe de cirurgia, porque se alguém tinha como localizar alguma pessoa dentro deste hospital era o Cortez. E mais importante: se alguém tinha autoridade para pegar um residente sem comunicar a ninguém e fazê-lo ignorar seu superior, também era ele.

- Baia três na ala das cortinas - disse Cortez, quando levantei os olhos num sobressalto após sua entrada quase instantânea na sala de descanso. - É lá que ela está.

- Se soubesse que estava do lado de fora, não teria perdido tempo digitando.

Cortez cruzou a sala, indo até a bancada onde estava a cafeteira, depois, por não receber nenhuma alusão de que ele acrescentaria alguma coisa, voltei a encarar a tela do MacBook sobre a mesa, cuja equação na área de trabalho eu havia olhado por dois minutos e catorze segundos, antes dele do cirurgião entrar, sem saber como resolver.

Minha mão espalmada sobre a mesa captou a vibração, tão logo busquei o que a causara. Uma xícara de louça azul. Em seguida, fitei a face de quem a colocara sobre a superfície de mármore, propositalmente, com demasiada força.

- Eu sei o que você está pensando - garantiu o cirurgião.

- E eu duvido disso, Cortez.

- Aposto vinte pratas que é algo do tipo "a Thompson está com a ortopedia de novo?."

A nota dobrada ao meio foi posta sobre a mesa.

- Você errou, mas não quero seu dinheiro. - Fechei o notebook. - E obrigada pela informação adicional.

- Ela está lá mesmo, mas desta vez é diferente.

- Aposto que é. - Revirei os olhos e cruzei os braços, relaxando no encosto da cadeira. - Nós dois sabemos que dada a experiência que ela já tem, a Thompson é mais eficiente com eles ou com a cardiotorácica do que comigo.

- Não mesmo - repreendeu sorridente. - Já te disse que não podemos transferi-la contra vontade dela.

Desta vez, Cortez disse bem mais que havia dito das vezes anteriores que o assunto surgira. Como ele deixou escapar que não podia fazer contra a vontade dela, deduzi que se ela desistir do programa de neurocirurgia por conta própria, ele não teria outra opção senão transferi-la.

- Você, mais do que ninguém, deveria respeitar a escolha dela - acrescentou ele, aproveitando meu silêncio.

- Thompson e eu não temos nada em comum.

Ele deixou escapar uma risada sardônica. Permaneci taciturno, tão logo Cortez se recompôs, cessando o riso, passando a mão pelos mexas grisalhos que haviam se desprendido nas têmporas quando balançou a cabeça, e finalmente perguntou:

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