🔴Capítulo 3/1 - Thompson

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Por vários metros corredor a dentro, o som dos meus passos foram os únicos que percutiram. Desde que deixei o elevador e tomei a direção contrária da que fora o Dr. Müller, eu parecia estar completamente sozinha, por isso me assustei quando a voz aveludada atrás de mim presumiu:

- Você deve ser a exceção. - Me virei de imediato, sem ter certeza de que ela falava comigo, e se fala, eu não fazia ideia do que aquilo significava. - Sou a Dra. Smith. Camille Smith.

A negra de feição harmoniosas, tinha um sorriso gentil e as covinhas profundas marcaram suas bochechas quando me estendeu a mão.

- É a neurocirurgiã-geral - afirmei, apertando sua mão. - Veio para o Golden pela sua subespecialização.

O uniforme que Camille usa também era vermelho-escuro, o que, de acordo com o que John havia me explicado sobre a hierarquia dos departamentos, significava que ela estava um degrau acima dos residentes, portanto eu me reportava a ela também.

- John foi bem eficiente com você. Isso é bom, pois com a outra residente ele só fala quando não tem escolha.

A outra residente era a bela Brittany Neville, cuja falta de tempo me impossibilitava de concluir algo sobre a loira, exceto pelo que era óbvio e que não precisava de trocar mais que meia dúzia de palavras que para perceber: aqueles seios enormes eram comprados.

- Por isso disse que sou uma exceção?

- Ah, não. - Camille deixou escapar uma risada ponderada. - Isso não tem nada a ver com o Sullivan, na verdade nem sei se tem a ver com alguém. Só ouvi o chefe se referiu a você dessa forma numa conversa com o Isaac e achei legal.

- Com chefe você se refere ao Dr. Müller?

- Não, ao Cortez. - Ela se distraiu pelo breve instante em que checou o conteúdo que fez seu celular tocar. - A proposito, o Müller não gosta que o chamem assim.

A informação me soou com um alerta.

O neurocirurgião-chefe, que também era chefe do departamento de neurologia, não gostava de ser chamado de chefe. Não fazia sentido, mas eu não podia me esquecer de anotar isso também, bem ao lado de onde tinha feito minha primeira observação: "não chamá-lo de senhor de novo".

- Eu sei que não faz muito sentido, ainda mais com as considerações que está fazendo nesse exato momento - disse como se pude ler minha mente. - É sério, você não vai querer escutar todos os porquês dele para justificar isso.

A voz de Müller, apesar de muito grave, era agradável aos ouvidos, principalmente pela mansidão ao pronunciar cada palavra e por seu sotaque incomum, que não me remetia a nenhum país. No entanto, mesmo que fosse para mim um desafio descobrir de onde seu sotaque era proveniente, não valia a pena ter que escutar um discurso quilométrico com todos os porquês dele não ser o chefe, até porque também tinha uma probabilidade enorme do médico apenas me olhar com desdém, o que não seria a primeira vez.

- Pode me acompanhar até a ala pediátrica? - perguntou Camille, me trazendo de volta. - Quero te apresentar alguns dos nossos pacientes antes do Enzo chegar para a ronda.

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