Acordei com uma sensação de vergonha e derrota depois das palavras do Eduardo por telefone ontem. Vergonha porque, apesar da falta de educação dele, o que ele disse era apenas a verdade a meu respeito: eu estava na seca há muito, mas muito tempo mesmo. Derrota porque me senti um lixo, pra baixo, questionando-me sobre as escolhas que fiz na minha vida e que resultaram como vivo e como sou hoje.
Como não adiantava ficar pensando muito, levantei, arrumei a cama, fui ao banheiro, fiz as necessidades, fui à cozinha, coei café, tomei com leite, comi pão, voltei ao banheiro, tomei banho, me troquei e fui para o depósito.
Lá, o rotina de sempre, sem novidades, apenas as conversas com alguns clientes e com meus funcionários. Coisas do dia a dia de uma cidadezinha onde todos se conhecem.
Não saí para almoçar, comi um marmitex mesmo e fiquei por ali, fazendo uma coisa e outra, mas meu pensamento estava naquele moreno lindo, gostoso e másculo, que na sua simplicidade e sinceridade havia me falado na cara coisas que eu sabia, mas jamais havia admitido para mim mesmo.
Não levei o celular para o trabalho (não tenho esse hábito, esqueço sempre meu celular onde vou... e também não nasci grudado nele! Não sou de ficar em redes sociais 24h por dia, prefiro conversar cara a cara, olho no olho).
À tardezinha, voltei para casa, mas antes entrei na igreja matriz da praça central e fiquei sentado no último banco, sozinho, naquele silêncio gostoso e que me confortava... minha família sempre foi católica, fui criado nessa religião, frequentei missas a vida toda, mas há algum tempo deixei de ir... tudo o que era falado ali eu sentia que era para mim. Mas, em momentos como esse, eu considerava a igreja o local ideal para sentar, refletir, pensar... fiquei ali muito tempo. Depois, fui para casa, entrei, tirei a roupa, tomei um banho revigorante, fui para a cozinha preparar minha janta, e como estava sem vontade de fazer algo mais elaborado, cozinhei macarrão e fiz um molho com pescada mesmo. Comi na sala, assistindo a telejornais que só exibiam porcaria e notícias ruins. Terminando, lavei a louça, escovei os dentes e me deitei. Então, lembrei do celular, peguei-o na gaveta do criado-mudo e tinha muitas ligações o dia todo do Eduardo. Também havia mensagens nas quais ele perguntava onde eu estava, se estava bravo com ele, por que eu não atendia as ligações e a última ele me mandando tomar no cu. Fiquei com muita raiva quando li essa e respondi para ele que no cu não se toma, se come, e se ele quisesse tomar algo que tomasse no copo ou no gargalo mesmo. Enviei. Depois me arrependi: por que responder algo assim? Deveria ter ficado na minha e apagado o número desse rapaz. Estava pensando isso, quando o celular toca, vi no visor que era ele. Não não atendi. Tocou até cair na caixa postal. Tocou de novo, e de novo e de novo. Desliguei o celular, liguei o notebook e fiquei navegando em sites de carros, notícias, esportes. Meus olhos começaram a doer, desliguei o note, escovei os dentes, deitei e dormi que nem pedra.
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No outro dia, acordei 6h, e fiz todo o ritual: banheiro-cozinha-banheiro-trabalho. Ao chegar no depósito, uma supresa: Eduardo estava encostado na porta, de calças jeans escuras, botas, camisa xadres azul e vermelho e com boné na cabeça. Ao me ver vindo, ele fixou os olhos em mim, acompanhando meus passos. Eu? Quase caí... minhas pernas pareciam gelatina, mas continuei firme, olhando para ele e caminhando para a porta que eu teria que abrir para entrar no meu trabalho.
Cheguei perto dele, e disse:
___Bom dia, Eduardo. Tão cedo aqui? Veio comprar alguma coisa?
___Bom dia nada... você acha que sou palhaço para você não responder minhas mensagens e ligações ontem?

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O cowboy
RomansaO impossível pode acontecer... quando menos se espera, o amor e o desejo nascem , mas será que sobrevivem?