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Acordei com o alarme.

Pulei da cama, fui ao banheiro, fiz xixi, enxaguei a boca, fui à cozinha, coei café, tomei com leite acompanhado de pão com presunto e queijo.

Dirigi-me ao banheiro, tomei banho, troquei e fui caminhando para o trabalho.

Logicamente, esse tempo todo pensando no que havia acontecido ontem e também no Robson, que não dava sinal de vida.

Ao chegar ao depósito, fui para o escritório, liguei o computador, acessei o email da firma e havia um do contador, informando que o Robson havia pedido demissão e o procurado para fazer o acerto. Aquilo foi um soco na boca do meu estômago. Fiquei mal, pois senti-me culpado. Culpado por não valorizar tudo o que ele havia feito por mim: o carinho, a atenção, o respeito, as palavras e as ações que mostraram quem ele realmente é. Respondi o e-mail autorizando o contador a seguir com todos os procedimentos legais.

Dali um pouco os funcionários foram chegando e meu dia começou.

Tentei ligar para o Robson, mas o celular dele só dava caixa postal. Deixei muitas mensagens que não foram retornadas.

No meu horário de almoço, fui ao restaurante self-service, peguei o que queria e sentei-me em uma mesa no canto, bem afastado das demais pessoas. Estava lá, comendo e quieto, quando vejo o Robson entrar sozinho. Ele pegou um prato, foi se servindo, pegou os talheres, pesou, e ao se virar me viu. Ao fazer isso, ele foi para o outro lado do restaurante e sentou-se sozinho também. Fiquei olhando-o atentamente e esqueci de comer. Em nenhum momento ele me olhou. Percebi que comia rapidamente, quase sem mastigar. Ao terminar, foi ao caixa, pagou e saiu. Rapidamente, levantei-me, paguei também a comida que nem havia comido e o segui.

Ao sair para a rua, o vi já na esquina e gritei, apressando o passo:

___ Robson! Robson... me espera!

Ele não parou, acelerou o passo. Comecei a correr até alcança-lo já perto da praça.

Segurei seu braço e num movimento brusco ele se soltou, olhou para mim e disso:

___ O que você quer?

Fiquei olhando-o atentamente e ele estava sério, sem o lindo sorriso que sempre estava estampado em seu rosto sempre que me encontrava.

___ Quero conversar com você... tenho tanto para ti falar! – eu respondi, suplicando praticamente.

Ele levou o mão ao cabelo (algo que sempre fazia), olhou para mim e respondeu:

___ O que? Não temos mais nada para falar um com o outro.

___ Temos sim! – respondi enfaticamente. – Por que não atende minhas ligações? Não retorna as mensagens? Por que saiu do serviço? Por que não me deixa explicar o que aconteceu?

Ainda sério, ele me olhou seriamente por um bom tempo e simplesmente respondeu:

___ Não existe explicação, ou motivo para uma traição! Trair é ignorar a confiança depositada, os bons momentos arquitetados e o amor cultivado! Trair, acaba com os sonhos, sonhados, com a alma deliciada pelos carinhos dados, com à alegria de se sentir amado e respeitado. Traição, é a prova do amor acabado, o fim do respeito honroso e o orgulho de estar ao lado de quem você amava. É a morte do amor, o nascimento do ódio e a perpetuação da hostilidade entre um que amava o outro... me deixa em paz.

Virou-se e foi embora.

Fiquei ali, parado, vendo-o se distanciar e percebendo que uma pessoa muito, mas muito especial se despedia de mim de uma maneira que eu jamais havia imaginado. O que o Eduardo tinha feito eu havia feito em relação ao Robson. Senti-me mal com tudo isso, com as palavras que ele havia dito e que me atingiram como um tiro certeiro, fazendo-me perceber o tão vil e fraco eu havia sido. Senti as lágrimas descerem pelo meu rosto. Lágrimas quentes, de tristeza, de certeza de que o perdedor havia sido eu.

O cowboyOnde histórias criam vida. Descubra agora