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Acordei na segunda-feira com a campainha do telefone tocando insistentemente.

Levantei meio zonzo, atendi e era um dos meu funcionários, o Robson, perguntando se estava tudo bem comigo, pois já eram 9h e eu ainda não havia chegado ao depósito.

Assustado por ter perdido a hora, respondi que estava gripado e que não trabalharia e, caso algo acontecesse que precisassem de mim, era para ele me ligar.

Preocupado, pois eu jamais havia deixado de trabalhar, ele perguntou:

___ Você está bem mesmo? Quer que eu ou outro vá até aí para ti acompanhar à farmácia ou ao médico?

___ Não, não... é só uma gripe mesmo. Já tomei remédio. Obrigado.

___ Tudo bem. Precisando, é só chamar. Melhoras.

Desliguei o telefone, sentei-me no sofá ainda sonolento e cansado. Havia tido um pesadelo durante à noite. Sonhei que via o Eduardo correndo muito em um carro e se espatifava em um caminhão. O vi preso nas ferragens, sangrando, olhando para mim e eu nada podia fazer, até que ele fechava os olhos e morria, sendo que eu tentava falar e não saia voz, tentava me movimentar mas estava preso por algo invisível que me segurava.

Chacoalhei a cabeça tentando tirar essas imagens dela, fui ao banheiro, tomei banho na água fria, coloquei apenas um short, fui à cozinha, fiz café bem forte, tomei. Não comi nada, pois não estava com fome. Voltei ao quarto, deitei, fiquei olhando pro teto, dormi novamente.

Acordei bem tarde, sem fome, sem ânimo. Peguei meu celular e não havia ligação nem mensagem (a quem estou tentando enganar?) Arrastei-me para a sala, liguei a TV e fiquei assistindo programas sem noção alguma do que estava vendo.

Percebi que a noite havia chegado ao ver o ambiente ficando escuro. Não me levantei, nem acendi as luzes. Fiquei ali, esparramado no sofá olhando a tela da televisão colorida, com som e pessoas falando, mas sem entender nem ver nada. Meu corpo estava ali, mas meus pensamentos em tudo o que havia acontecido ontem, desde o almoço até à noite, quando o Eduardo veio aqui em casa. Flashes dele falando, de nós jantando, do sexo doido à tardezinha, dele me ignorando e falando que estava namorando durante o almoço na casa dos tios dele. Tudo, tudo vinha e sumia da minha mente... uma tortura sem fim.

Por fim, fui até à cozinha, bebi um copo de leite, fui para meu quarto, peguei meu celular e enviei uma mensagem ao Robson dizendo que não trabalharia amanhã também, para ele tomar conta de tudo. Feito isso, desliguei o aparelho e capotei na cama. Nem sei que horas eram, mas meu corpo pedia cama, cama, cama...

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Um barulho intermitente martelava minha cabeça...

Coloquei o travesseiro sobre ela, mas não adiantava... o barulho continuava lá.

Abri os olhos, vi no relógio da cabeceira que já eram 12h30.

Nesse momento, percebi o barulho de novo e só então me dei conta de que era a campainha.

"Meu Deus, quem será uma hora dessas? Por que não me deixam em paz?"

Sem querer, levantei e fui até à porta só de short mesmo, cabelo emaranhado, corpo com cheiro ruim de não ter tomado banho.

Destranco, abro só um pouquinho a porta e vejo o Robson parado ali.

___ Posso entrar? – diz ele já empurrando a porta.

Sem opção e nem vontade de falar nada, o vi entrando, olhando tudo e parando os olhos em mim, fazendo uma cara assustada e feia ao mesmo tempo.

___ Marcos... o que é isso? Que cara é essa? Você está com cheiro ruim! O que está acontecendo? Gripo já percebi que você não está!

Olho para ele com raiva: quem ele pensa que é para falar comigo desse jeito? Nunca dei intimidade para nenhum dos meus funcionários. Nunca chamei nenhum deles pra vir a minha casa.

___ Nada que ti interessa. – respondi grosseiramente.

Ele sorriu calmamente, o que me deixou mais irritado ainda.

___ Se não interessasse eu não estaria aqui, cara.

___ Ah, é? Veio porque quis, não ti chamei.

___ Deixe de ser criança. – dizendo isso, pegou-me pelo braço e me fez sentar no sofá, sentando-se de frente para mim e falando:

___ Não sei o que está acontecendo, você não quer falar, mas mesmo assim estou preocupado contigo. Agora é horário do meu almoço e vim aqui ver você, tentar ti ajudar de alguma forma.

Fiquei olhando-o e me sentindo um idiota por ser tão rude com alguém, talvez a única pessoa, que estava preocupado comigo. Mas não poderia desabafar com ele. Não dava. Assim, apenas o olhei e comecei a chorar copiosamente...

Ele se assustou, veio até o meu lado, sentou-se, passou o braço pelos meus ombros, deixei minha cabeça encostar no peito dele e aí o choro veio feroz... chorava, soluçava e as lágrimas caiam. Ele só me apertando contra si, sem falar nada, apenas ali.

Depois de um tempo, consegui me controlar, ele perguntou onde era o banheiro e eu falei. Então, ele me pegou pelo braço e foi me levando até lá. Ligou o chuveiro na água morna, desceu meu short e me conduziu para debaixo na água que caia morninha... não fiquei com vergonha, pois essa já tinha sumido faz tempo de mim. Apenas coloquei as duas mãos na parede e fiquei com a cabeça entre meus braços enquanto sentia a água escorrendo pelo corpo.

De repente, sinto ele ensaboando minhas costas, ombros... não viro a cabeça, apenas deixo acontecer. Então, sinto um corpo me abraçando por trás, viro-me assustado e o Robson estava ali, pelado, debaixo do chuveiro comigo, sério, com a bucha cheia da espuma do sabonete esfregando-me com carinho e força ao mesmo tempo.

Ele não diz nada, nem eu. Não consigo olhar para baixo, apenas nos olhos dele. Ele também. Sem delongas, ele pede que eu abra as pernas e levante os braços. Eu obedeço. Ele passa a bucha suavemente nas minhas axilas, braços, ombros, mãos. Depois, ensaboa meu peito, minha barriga os pelos pubianos. Passa pela virilha, pega em meu pau, o ensaboa e o meu saco também. Não fiquei excitado. Então, ele se agacha, lava minhas coxas, pernas, pés. Coloca mais sabonete líquido na esponja, lava entre meu saco e meu cú, passando levemente a bucha ali. Pede que eu vire de costas. Viro. Ele começa todo o ritual novamente: nunca, ombros, costas. Passa a bucha circularmente por toda a extensão. Então, lava minha bunda, abre meu rego e lava-o também, passando, agora, sua mão direita com sabonete no meu ânus. Ele fica fazendo movimentos circulares ali bem devagarinho. Depois, desce para as coxas, pernas e pés novamente. Estou todo ensaboado. Ele pega o chuveirinho e me enxagua todinho. Então, pede que eu sente no banquinho que tem ali, o que faço sem pestanejar. Ele ensaboa meus cabelos massageando meu couro cabeludo. Enxagua, Passa o condicionador. Enxagua. Então, pede que eu espere um pouco, sai, se enxuga, me puxa e começa a me enxugar também. Deixo. Sinto-me um bebê sendo cuidado. Não vejo malícia. Não fico excitado. Estou vazio. Depois de estarmos secos, ele me conduz para meu quarto, pega uma cueca numa das gavetas, coloco, ele tira o lençol e as fronhas do travesseiro, troca por limpas, deita-me, cobre-me com um lençol. Se veste na minha frente, vem até mim, pega nas minhas mãos e diz:

___ Um dia você aprende que as verdadeiras amizades continuam a crescer, mesmo sem muito contato. E o que importa não é o que você tem na vida, mas quem tem na vida. Aprende que não temos que mudar de amigos, se compreendermos que os amigos mudam. A pior solidão é não ter amizades verdadeiras.

Disse isso, informou que voltaria à noite e saiu para o trabalho novamente.

Fiquei pensando nas palavras dele e um fio de luz ameaçou adentrar meu coração.

O cowboyOnde histórias criam vida. Descubra agora