Saí do serviço e fui vagarosamente para minha casa, meus pensamentos nas nuvens.
Desde sempre, nunca me envolvi emocional ou sexualmente com alguém. Minha pouca experiência sexual datava da época da infância e da adolescência, com punhetação e esfregação com colegas... depois, me fechei em mim, talvez por medo da família, da sociedade da cidadezinha onde moro. Talvez por não ter encontrado ou procurado um homem que me completasse. O pior de tudo é que a calmaria e a zona de conforto a que eu estava acostumado haviam desaparecido com o surgimento do Eduardo e minha vida.
Fiquei pensando nele, em tudo o que ele falou para mim nesses dias. Percebi claramente que ele queria apenas sexo e nada mais. Talvez por ter percebido que sou tímido, inexperiente, quieto, ele tenha se interessado. Talvez ele quisesse apenas transar comigo para ter o que contar para os amigos de rodeio ou até para as pessoas da nossa cidade. Também pensei em mim: sem sexo, sem amor, sem vida social...
Com a cabeça totalmente confusa, cheguei em casa, esquentei o que tinha na geladeira, comi. Fiquei um tempo na sala com a TV ligada mas sem prestar atenção em nada. Depois, fui tomar banho e coloquei uma camiseta e uma bermuda, o que costumava quando estava em casa.
Lá pelas 20h ouvi me chamarem lá na frente. Reconheci a voz do Eduardo. Meu coração acelerou, parecia que ia saber pela boca. Não sabia se atendia ou deixava-o lá me chamando. Ele chamou novamente mais alto. Meu celular tocou no quarto e fui atender. Era ele.
___Não vai me receber não? – perguntou na lata.
___Estou indo.
Fui para a sala, abri a porta, fui até ao portão, abri também e ele entrou. Quando passou por mim senti o cheiro de perfume amadeirado. Ele estava de calça jeans, camisa de manga comprida enrolada até o cotovelo, botas. Tranquei o portão e o convidei para entrar. Ele entrou, ficou observando a sala. Sem esperar que eu convidasse sentou-se em uma poltrona. Fechei a porta e sentei no sofá maior. Ele me olhou com a início de um sorriso nos lábios e disse:
___E ae? Como foi o trampo hoje? Muito movimento?
___A coisa de sempre... aqui você sabe como é.
___Sei. Tem alguma coisa pra comer? Tô morrendo de fome. Saí do trabalho e só fui em casa tomar banho e vim pra cá.
Olhei-o confuso e me recriminei por não ter feito nada. Respondi:
___Não tem nada. Quer que eu faça algo?
___Se não der trabalho... – respondeu ele me olhando fixamente e com aquele sorriso meio cínico que me deixava desconfortável e excitado ao mesmo tempo.
Fui para a cozinha, abri o freezer e peguei duas lasanhas. Coloquei-as no forno e liguei. Arrumei a mesa, peguei uma garrafa de vinho que tinha na geladeira e ofereci para ele que tinha ficado na sala mexendo em seu celular. De lá, ele falou que aceitava e foi para a cozinha. Pegou a taça da minha mão, seus dedos roçando nos meus... arrepiei.
Ele se sentou em uma cadeira, sem esperar convite e ficou ali, mexendo no celular, bebericando o vinho e me olhando de vez em quando. Eu? Não sabia o que fazer. Toda hora olhava a lasanha, abria gavetas dos talheres fingindo que estava arrumando algo, enxuguei toda a louça e guardei... de repente, ele começou a rir e me falou:
___Sossega! Parece que tá com o bicho carpinteiro. Não para!
___Não costumo ter visitas... – respondi olhando-o.
___Mas hoje tem! – respondeu ele se levantando, deixando sobre a mesa o celular e a taça, e foi se aproximando de mim lentamente, me olhando diretamente nos olhos.

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O cowboy
RomanceO impossível pode acontecer... quando menos se espera, o amor e o desejo nascem , mas será que sobrevivem?