Enfim, segui para minha casa, cabisbaixo, olhando para meus próprios pés que se arrastavam como se tivessem ligados em um GPS.
Ao chegar lá, entrei, tranquei a porta, encostei-me nela e fiquei olhando para o vazio. Um vazio infinito, gelado, solitário. Fui ao meu quarto, tirei minha roupa, fui ao banheiro, liguei o chuveiro na água gelada e entrei num impulso. O choque térmico me fez acordar de imediato. Lavei minha cabeça e corpo com vigor, esfregando muito, querendo tirar de mim todo o sofrimento. Depois, enxuguei-me, coloquei apenas o calção do pijama, fui até à cozinha e fiz um sanduíche e um suco de laranja. Forcei-me a comer e a beber. Lavei o prato e o copo. Deixei no escorredor mesmo. Sentei no sofá, fiquei zapeando os canais de televisão. Sem querer, parei no Discovery Home & Health, no programa Say yes to the dress. Fiquei ali, vendo noivas com suas famílias e amigos escolhendo e palpitando sobre os vestidos. No final, exibiram o casamento de uma delas e a música ao fundo me fez chorar muito, mas muito mesmo... os noivos na igreja, as pessoas, familiares, a festa, a dança dos dois... tudo o que eu nunca terei em minha vida. Foi um golpe, mais um golpe na minha autoestima que estava mais baixa que o Mar Morto...
Após o final do programa, desliguei a TV, fui ao meu quarto, deitei na cama, peguei meu celular. Não tinha ligação, não tinha mensagem alguma. Como sempre. Minha vida solitária.
Deitei-me em posição fetal, meus olhos pesados e ardendo de tanto chorar. Dormi. Sem perceber, sem sentir.
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Acordei 6h em ponto, sem despertador nem nada.
Levantei em modo robô: banheiro, cozinha, café, leite, pão, banheiro, banho, escova, pasta, dentes, roupa, trancar porta, ir para o trabalho quase duas horas antes do expediente começar.
Lá, entrei em meu escritório e fiquei observando tudo em seu devido lugar, organizado, limpo, como eu sempre o mantive.
Levei um susto com o telefone do depósito tocando. Por ser tão cedo, logo imaginei que meus pais. Logo veio à cabeça algo de ruim que pudesse ter acontecido com um dos dois ou com ambos. Atendi prontamente e não reconheci de imediato a voz.
___ Senhor Marcos? – voz grossa de homem.
___ Sim, mas quem é?
___ Nossa, o senhor não está reconhecendo minha voz não? Estive aí ontem, fiz entrega pro senhor!
___ Ah... tudo bem com o senhor? – era o tio do Eduardo.
___ Sim, sim... olha, desculpe a hora, mas já tô indo fazer entrega, então era a hora que podia ligar.
___ Tudo bem... aconteceu algo?
___ Não, nada não. É que eu e minha esposa vamos fazer um almoço domingo lá na chácara e queríamos muito que o senhor fosse.
Um baque! Fiquei mudo. Não sabia o que responder. Não queria ir. Não queria ver o Eduardo nem pintado de ouro.
___ Senhor Marcos? Tá aí?
___ Estou sim.
___ E então? Eu e a patroa fazemos muito gosto que o senhor vá no almoço. É só os chegados mesmo.
___ Olha...
___ Não, não... por favor, não faz essa desfeita não!
___ Está bem... que horas e o que levo?
___ Pode chegar lá pelas 10h... precisa levar nada não, queremos sua presença lá.
___ Tudo bem. Muito obrigado pelo convite.
___ De nada. Tenha um bom dia.
Desliguei o telefone e me perguntei o porquê de não ter inventado uma desculpa qualquer... não queria ir, não podia ir. Ver e ficar no mesmo lugar que o Eduardo seria sofrimento demais. Sentiria vergonha de mim mesmo por toda a humilhação que eu mesmo proporcionei para mim. Mas agora estava feito...
Depois disso, os funcionários foram chegando, abrindo o depósito e atendendo os primeiros fregueses. Fiquei lá com eles, queria me distrair, tirar da mente pensamentos ruins.
Assim o dia passou.
Ao retornar para casa, toda a solidão me esperava. O sofrimento. Os pensamentos incômodos. A famigerada dor no estômago, causada pela tristeza infinita que estava sentindo...
O restante da semana foi da mesma forma. Sem mais, nem menos.

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O cowboy
Любовные романыO impossível pode acontecer... quando menos se espera, o amor e o desejo nascem , mas será que sobrevivem?