9

961 100 14
                                    

Depois de uma noite de pesadelos em que eu era perseguido no meio de uma floresta pelo Eduardo com um facão na mão (sou louco mesmo!), acordei com o corpo quebrado, com a boca seca e a cabeça fervilhando... demorei um pouco na cama, mas me forcei a me levantar, fui para o banheiro, fiz minhas necessidades, enxaguei a boca e lavei o rosto. Dirigi-me para a cozinha, fiz café, esquentei pão com manteiga no forno, comi e bebi. Em seguida, tomei banho, me troquei e fui para o trabalho.

Chegando lá (cedo, como sempre), lembrei-me do Eduardo me esperando... tirei rapidamente essa ideia da cabeça, abri a porta, entrei, liguei meu computador e dali a pouco meus funcionários chegaram também o dia de trabalho iniciou.

......................................................................

Na parte da tarde, um pessoal chegou e quis falar comigo e, logicamente, autorizei. Eram os membros da comissão de festa de peão de uma cidade vizinha, e vieram pedir patrocínio e também se poderiam colar cartaz sobre a festa no depósito. Depois de pensar, resolvi patrocinar um prêmio e claro que deixei eles afixarem o cartaz. Fiz isso em um impulso, pensando se o Eduardo estaria montando nessa festa... coisa de pessoa carente mesmo.

Restante do dia passou, como de praxe. Depois de fechar a o depósito, fui para casa, fiz minha janta, comi vendo "Criminal Minds" (não me conformo como há pessoas maldosas no mundo... santo Deus, se arrependimento matasse Ele não teria criado o ser humano). Lavei toda a louça, tomei banho, escovei os dentes, deitei novamente no sofá. Então, me lembrei de verificar meu celular (não havia levado para o trabalho). Vi uma chamada do telefone dos meus pais. Rapidamente, liguei de volta e conversei com minha mãe, que queria saber as coisas de sempre: se eu estava bem, se estava me alimentando direito, quando iria visita-los...), depois, meu pai também quis trocar umas palavras comigo, mas o assunto foi sobre o andamento das vendas do depósito, se estava tudo bem. Deixei-o a par de tudo, nos despedimos, desliguei. Vi também que havia uma mensagem no WhatsApp, acessei e era convite dos organizadores da festa de peão que eu havia patrocinado um prêmio, para que, se eu quisesse, poderia ir no camarote da comissão todos os dias. Sorri.

Depois da noite de ontem, em que o Eduardo me atiçou de todas as formas e depois me deixou como ele fez (triste, pra baixo, me sentindo um lixo), decidi que iria nessa bendita (ou maldita?) festa. Pensei em enviar uma mensagem de boa noite para ele, mas não. Não quis dar o braço a torcer e deixa-lo mais arrogante do que já era, achando que eu o queria tanto assim (claro que queria, mas não ia deixar isso tão claro para ele de novo). Desliguei a internet do celular, assisti mais um pouco de TV e fui dormir. Porém, ao deitar-me, todos os breves momentos que aquele desgraçado do Eduardo havia passado comigo, os toques, as palavras, os olhares, tudo, voltaram com força total na minha mente, fazendo-me sentir a solidão invadir meu quarto, minha cama, minha alma...

20 dias depois

O restante dos meus dias foram normais, a mesma coisa de sempre. O Eduardo? Não entrou mais em contato. Eu o vi raras vezes pela cidade, mas ele não me viu e nem o cumprimentei, mas toda vez que isso aconteceu, senti meu corpo se acender, o desejo me consumir...

Finalmente havia chegado o primeiro da festa de peão na cidade vizinha. Não falei nem para meus funcionários que iria. No primeiro dia da festa, cheguei em casa do trabalho, tomei um banho caprichado, me troquei (calça jeans justa, camisa xadrez em vários tons de azul, bota e cinto), peguei meu carro e fui para a cidade que ficava a 15km da que eu morava. Ao chegar lá, próximo a recinto, a balbúrdia de carros, pessoas, motos quase me fizeram desistir e voltar para o conforto, segurança e solidão do meu lar. Mas não! Deixei meu carro em um estacionamento, fui a pé para o recinto. Lá, me apresentei, meu nome estava na lista de quem poderia entrar no camarote. Assim, subi as escadas (camarotes ficavam em um nível acima da arquibancada, com visão privilegiada). A festa começou com a apresentação da comissão, do prefeito municipal, autoridades, bandeiras (nacional, estadual e municipal), entoação do Hino Nacional, rainhas e princesas da festa. No último momento, os peões foram chamados e apresentados na arena (os de cavalo e os de touro), e logo visualizei o Eduardo, que estava lindo e se destaca dos demais pela sua altura e postura. Todos entraram com seus trajes e chapéu. O locutor foi falando também o valor dos prêmios e os patrocinadores. Fixei meu olhar no Eduardo e quando foi falado o nome do meu depósito ele se assustou, ficou procurando na multidão e, ao olhar para o camarote da comissão, ele me viu, fez uma cara de surpresa e só. E, assim, a festa de peão teve início com as montarias, brincadeiras dos palhaços salva-vidas dentro da arena. O povo gritava, aplaudia. Som altíssimo. Locutor narrando montarias, nomes dos peões, notas dos jurados. Eu estava ansioso em ver o Eduardo montando e, quando foi anunciado o nome dele, aproximei-me do beiral camarote para ver melhor. Meu coração disparou e fiquei pensando nele caindo e o boi o pisoteando. Assim que abriu a porteira, o boi começou a pular como um demônio no meu da arena. O povão gritava, o Eduardo se sacolejava, mas não caia... e eu com os olhos vidrados naquela loucura toda. Após breves segundos, o boi deu um pinote bem alto, e o Eduardo caiu de pé, tirou o chapéu cumprimentando a plateia. A gritaria foi infernal!!! O boi foi preso novamente enquanto o Eduardo se dirigia para até a frente do camarote onde eu estava e se curvou tirando o chapéu da cabeça. As pessoas que estavam ali presentes, inclusive eu, batemos palmas para ele. Ele ficou de pé, olhou para meu rosto que demonstrava todo meu medo do que havia acabado de presenciar e se dirigiu para os bretes.

O cowboyOnde histórias criam vida. Descubra agora