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Semana iniciando e eu morto por dentro.

Sem ânimo e vontade alguma, forcei-me a levantar, tomar banho e ir ao trabalho. Não fiz café, nem comi nada, pois meu estômago estava com um nó, doendo, martelando meu corpo todo... fui a pé, caminhando pelas ruas ainda silenciosas, cabeça baixa, olhos marejados.

Ao chegar no depósito, abri a porta, entrei, fechei-a, fui ao escritório, não acendi a luz, sentei-me e debrucei sobre a mesa, encostando minha cabeça no metal frio. Ali fiquei e só percebi que meus funcionários chegaram, porque um deles bateu na porta e, ao me ver daquele jeito, perguntou se eu estava doente, no que prontamente respondi que apenas uma dor de cabeça. Ele, sem saber de nada, colocou-se à disposição para me levar ao médico ou buscar remédio na farmácia. Agradeci e disse que passaria.

Assim, a manhã passou. Eu, nas poucas vezes que um deles me procurou, forcei um sorriso, ouvi e passei orientações relativas ao andamento do depósito. No mais, minha companhia era a dor e a incerteza de algo que nem eu sabia ao certo se algum dia existiu.

No almoço saí, avisei que comeria no restaurante perto da praça e que voltaria logo.

Fui caminhando, mil coisas na cabeça, cumprimentando automaticamente as pessoas que por mim passavam na rua. Não fui almoçar, não tinha fome, nem sede, nem nada. Queria apenas ficar quieto, sozinho. Sentei-me em um banco, fiquei ali parado, olhando para os canteiros, ouvindo os pássaros cantando, pessoas conversando, carros passando, mas eu me sentia só, mesmo rodeado por tudo isso. Num impulso, fui até a igreja, entrei naquele lugar silencioso, dirigi-me para um dos bancos bem na frente, ajoelhei, cruzei minhas mãos em forma de oração, fiquei olhando para a imagem de Jesus suspenso acima do altar. Conversei mentalmente com Ele enquanto chorava silenciosamente, sem me preocupar se alguém aparecesse ali. Primeiro, senti vergonha de estar ali, pois mesmo sendo católico eu não era praticante e no fundo não achava justo procurar consolo apenas quando estava tão triste. Segundo, fui fazendo as orações que minha mãe me ensinou quando eu era criança

"Com Deus me deito com deus me levanto..."

"Pai Nosso que estais no céu..."

"Ave Maria cheia de graça..."

"Mãezinha do céu, eu não sei rezar..."

Não sei ao certo o tempo que ali fiquei, só sei que a dor que sentia amenizou um pouco...

Sentei no banco, fiz uma única pergunta ainda olhando para a imagem de Jesus:

__ Por que tudo isso acontecendo comigo? Por quê?

Depois de um tempo, levantei, fui caminhando para o trabalho sem perceber o sol e o calor que fazia. Apenas caminhei.

Ao chegar lá, cumprimentei meus funcionários e um deles me avisou que no terreno atrás do depósito estava o tio do Eduardo me esperando para conferir o pedido de pedras e areia grossa. Nesse momento, meu peito se encheu de esperança e corri para lá. Ao chegar ao pátio, vi o caminhão parado e fui andando em direção a ele. Assim que o senhor me viu veio sorrindo com a mão esticada para me cumprimentar.

___ Boa tarde, senhor Marcos. Tudo bem com o senhor? – disse o tio

___ Boa tarde. Veio trazer minhas encomendas? – mas meus olhos buscavam o Eduardo dentro do caminhão.

___ Sim, o senhor pode conferir antes de eu descarregar? – disse ele me entregando as notas fiscais, que passei os olhos rapidamente e lhe disse que podia descarregar que estava tudo certo.

Ele foi ao caminhão, abriu a porta, falou algo, ouvi a porta do carona abrir e fechar e o Eduardo subindo em cima do caminhão para empurrar as pedras e a areia grossa no local onde deveria ficar.

E eu ali, debaixo do sol, com uma das mãos fazendo uma espécie de viseira para poder observá-lo se mexendo, fazendo força, contraindo os músculos todos ao fazer força com a pá. De repente, ele se virou e me viu ali parado. Não disse nada, virou as costas para mim e continuou seu trabalho. Fiquei triste. Mas, mesmo assim, fui até onde estava o tio dele, bem próximo do caminhão, e fiquei por ali conversando amenidades. Depois de um tempo, o Eduardo terminou tudo, desceu, subiu o tampo lateral, guardou a pá e a enxada e veio até nós. Olhou apenas para o tio dele e disse:

___ Pronto, tio. Tudo certo. Vou ali no banheiro lavar as mãos e jogar uma água no rosto e já venho.

O tio dele prontamente concordou, se despediu de mim e disse ao sobrinho que o esperaria na frente da loja.

Assim que ele entrou no caminhão, corri para o banheiro que o Eduardo havia se encaminhado. Ele tinha deixado a porta só encostada e eu, impulsivamente, empurrei, entrei e a tranquei por dentro.

Nesse momento, ele estava sem a camiseta, curvado sobre a pia, jogando água na nuca que escorria lentamente pelas costas fortes, suadas e perfeitas dele... senti meu coração parar... então, ele se virou, pegou a toalha pendurada, enxugou o rosto, a nuca e me olhou pelo espelho com uma expressão horrível, maquiavélica, debochada... eu não conseguia falar nada, apenas o olhava. Lentamente, ele vestiu sua camiseta, dirigiu-se para a porta onde eu estava encostado, pediu licença para sair. Não saí, não conseguia. Ele me olhou com raiva e disse:

___ Dá licença? Preciso ir. Meu tio está me esperando.

Já chorando, eu apenas disse baixinho:

___ Por que está agindo assim? O que eu ti fiz?

Ele começou a rir baixinho olhando cinicamente na minha cara e respondeu:

___ Você não fez nada... aliás, fez sim, você me chupou, me fez gozar, mas meu negócio é mulher, é buceta, entende? Como ti disse quando nos reencontramos, eu curto foder. Fodi você. Gozei. Pronto. Tchau.

Ajoelhei-me, agarrei suas pernas abraçando-as, chorando e ali fiquei. Ele ficou parado, olhando para a porta. Sem perguntar ou falar nada, ele chacoalhou as pernas me desvencilhando delas. Fez isso com tanta força que caí do lado. Ele simplesmente abriu a porta e saiu.

Fiquei ali, caído, chorando, me sentindo um lixo.

Depois de muito tempo, levantei-me, lavei meu rosto e fui para a frente do depósito. Lá, disfarcei como pude, conversei com meus funcionários e me tranquei no escritório.

Quando deu o horário, eles me avisaram que estavam indo embora, fecharam tudo e eu fiquei lá, vendo as sombras da noite invadir o lugar e também minha alma e meu coração.

O cowboyOnde histórias criam vida. Descubra agora