Terminei de limpar tudo às 18h mais ou menos. Nesse meio tempo, comi um lanche bem simples, verifiquei o celular várias vezes (coisa que raramente faço, nem ando com ele), mas nenhuma mensagem do Eduardo. Não sabia direito o que pensar: estava feliz por tudo o que havia acontecido, estava triste por não receber nem um oi.
Assim, chegou a noite. Pensei em ir novamente para a festa. Desisti. Às 21h, num impulso, tomei banho, me troquei, peguei carro e fui. Lá, a mesma coisa: deixar carro no estacionamento, ir para o recinto, ficar no camarote assistindo às montarias, ouvindo conversa de bêbados, abraços de bêbados (incrível como com a bebida as pessoas se libertam e mesmo aquelas que você nunca viu na vida conversam com a gente nos tocando, segurando, abraçando... será efeito da bebida mesmo ou vontade de fazer isso?). Assisti com vontade o rodeio, até que o locutor anunciou a próxima montaria sendo a do Eduardo. Meu coração veio à boca e fixei meus olhos na porteira ainda fechada, rodeada de homens. Sabia que ele estava lá, se ajeitando da melhor forma possível. De repente a porteira se abriu, o boi começou a pular e girar em torno de si, enquanto meu peão tentava se equilibrar em cima dele... foram segundos, segundos em que deixei de viver, me fazendo presente no Eduardo, com medo dele cair e se machucar, torcendo para que montasse bem (sabia que ele amava fazer isso, embora eu não entendesse o prazer disso tudo), a adrenalina pulsando em minhas veias... o Eduardo pulou do boi, caindo de pé e a multidão foi ao delírio. A multidão? Me vi gritando, batendo palmas e olhando pra ele. Num relance, ele virou-se para o camarote, olhou para mim, tirou o chapéu da cabeça e se inclinou em minha direção, como se me cumprimentasse. Eu sorri para ele, um sorriso de amor, de alegria, de tesão. Fiquei observando-o se dirigir atrás dos bretes, e o ouvi o locutor anunciando que ele havia tirado a nota mais alta da noite. Agora, faltavam 5 peões para montar, ter suas notas da noite, depois somariam com as dos dias anteriores para saber a classificação final.
Não aguentando mais ficar no camarote tamanha a minha ansiedade, fui dar uma volta pelo recinto. Passei em uma barraquinha de churrasco e comi dois espetos acompanhados de mandioca cozida, molho e pão. Sentei-me sozinho para comer, e fiquei vendo famílias, adolescentes, jovens, casais, crianças andando, conversando, rindo, gritando. Eu ali, solitário. Nessas ocasiões percebo claramente como é a vida de um gay como eu: estar sozinho mesmo rodeado de pessoas... mas não deixei a angústia e a tristeza me abaterem. Terminei de comer, dei uma volta pelo parque de diversões vendo os brinquedos e toda a alegria de quem se aventurava a andar neles. Depois, fui até ao pavilhão das fábricas de móveis, fiquei por lá, andando observando tudo o que estava exposto... quando saí, fui novamente para o camarote bem a tempo de ouvir o locutor falando que iria anunciar os vencedores das montarias. Fiquei bem na beirada, vendo-o todos os peões adentrarem a arena. Na sequência, foram chamados as autoridades presentes, rainha e princesas da festa, e os patrocinadores para proceder a entrega dos prêmios. Surpresa!!! Tive que entrar na arena também. Fiquei envergonhado ao anunciarem meu nome e o valor do prêmio que eu havia doado, mas fui. Parei ao lado dos outros doadores. Não conseguia olhar para o Eduardo, pois ele estava perfilado juntamente com os outros peões. Lá, o locutor agradeceu a presença do público, fez uma oração a Nossa Senhora agradecendo a proteção dos peões e, em seguida, foram revelados a classificação e premiação dos ganhadores das montarias a cavalo. A cada prêmio entregue, o povo gritava, o DJ colocava uma música sertaneja diferente. Fotos eram tiradas para registrar o momento. Depois, começou a entrega da premiação para os vencedores da montaria em bois. E o Eduardo conseguiu a segunda colocação. Fiquei emocionado ao vê-lo receber o prêmio, pois ele chorava. Fiquei enciumado ao ver a rainha da festa grudar nele para tirar a foto. Fiquei triste por ele não olhar para mim... depois de tudo terminando, isso devia ser umas 2h da manhã, as luzes da arena foram desligadas, o locutor começou a falar mensagens lindas de agradecimento, e os fogos de artifício começaram a pipocar no céu. Foi um momento emocionante! Todos olhando para o céu negro, vendo os fogos estourando em várias alturas, enchendo o céu de cores variadas... de repente, sinto alguém encostar em mim por trás. Virei-me, e lá estava o Eduardo olhando para o céu, com o chapéu em uma mão e o troféu na outra. Olhei aquele rosto lindo e másculo, senti o cheiro do perfume dele misturado ao cheiro de homem, um arrepio percorreu meu corpo... fiquei de frente para o palco, sentindo-o quase grudado em mim... fiquei vendo os fogos sabendo que uma pessoa muito especial estava ali, atrás de mim, perto... formou um nó na minha garganta e no meu peito e senti as lágrimas descerem pelo meu rosto. Um milhão de pensamentos se formou em minha mente, lembranças de minha vida solitária, sem amor, sem emoção... da vontade que eu sempre tive de dividir minha vida com outro homem... das noites monótonas que sempre foram minhas companheiras... e chorei. Muito. Sem alarde. Em silêncio. Meu corpo tremia e cruzei meus braços sobre meu peito como se estivesse me abraçando. Então, sutilmente, senti o Eduardo encostando mais seu corpo ao meu. Ele havia percebido o que estava acontecendo comigo, não sei como, mas ele percebeu. Ele se abaixou, colocou a boca bem próxima ao meu ouvido e disse:
___ Não chore... ganhei um prêmio, mas o melhor está aqui na minha frente...
Não consegui me virar para encará-lo, apenas senti as lágrimas quentes descerem mais rapidamente sobre minha face, caindo na minha camisa.
A queima de fogos durou uns 15 minutos, com música ao fundo e o locutor falando palavras lindas... o silêncio mortal tomou conta da arena o que transformou aquele momento em único, em mágico. Ao terminar tudo, o locutor anunciou que a partir daquele momento, a festa se encerrava, mas que no ano vindouro já estavam todos convidados para estar ali novamente. Também anunciou que a barraca com banda ao vivo estava aberta para o público. Então, as luzes se acenderam, me virei e o Eduardo já tinha saído em eu perceber. Saí também, mas fui para o estacionamento, onde peguei meu carro e fui para casa. No caminho, não liguei o som. Queria silêncio. Um branco preenchia minha cabeça e meu coração. Cheguei em casa, tirei a roupa, nem tomei banho, apenas caí na cama e dormi na hora. Não ouvi meu celular tocando...
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O cowboy
RomanceO impossível pode acontecer... quando menos se espera, o amor e o desejo nascem , mas será que sobrevivem?