Acordei bem cedo, mais até do que normalmente eu acordava diariamente.
Levantei-me rapidamente para não dar tempo de pensar, fui ao banheiro, fiz minha higiene matinal, fui à cozinha, preparei um café bem forte que tomei acompanhado de algumas torradas. Depois, tomei banho, troquei e fui para o trabalho bem antes da hora.
Lá, abri o depósito todo, acendi as luzes, liguei os computadores, acessei as planilhas de materiais que receberia aquele dia, verifiquei o estoque e o tempo voou e os demais funcionários chegaram.
Durante o dia, trabalhei muito, fiz coisas que normalmente não faço, mas era bom, pois não dava tempo de pensar em nada. E era isso o que eu queria: não pensar em nada.
No almoço, pedi um marmitex e comi ali mesmo. Não saí.
Às 17h dispensei os funcionários (que me olharam assustados e agradecidos ao mesmo tempo), e fiquei lá, sozinho. Fui fechando tudo, desligando computadores, conferindo portas e janelas. Ao fechar a porta do escritório, viro-me para trancar as da frente e me deparo com o Eduardo parado, encostado no balcão, olhando-me fixamente. Minhas pernas bambearam, pois não esperava ele por ali.
Fui caminhando lentamente até ele, parei, encostei-me também do outro lado do balcão.
Sem deixar de me olhar, ele disse:
___ Vim me despedir de você e pedir desculpas por todo o mal que ti fiz.
Olhei bem no fundo dos olhos dele e respondi:
___ Despedir? Por quê?
___ Me chamaram para tomar conta de uma fazenda no Mato Grosso. O salário é bom, lá farei o que mais gosto que é tocar boiada, montar, cuidar da terra, de tudo...
Não respondi nada, não conseguia articular palavras com palavras.
___ Bom, vou indo.
E ele se virou e foi caminhando em direção à porta. Não virou pra trás. Não disse mais nada. Fiquei ali, acompanhando o caminhar dele, observando o homem que despertou o sexo, o desejo, o tesão em mim indo embora da minha vida, talvez para sempre. Fixei meus olhos em todos os detalhes para não esquecer: a calça jeans escura justa moldando-se perfeitamente nas coxas fortes dele; a camisa de manga longa listrada de azul e branco, com a manga dobrada até o cotovelo, deixando os fortes antebraços dele à mostra; as costas magníficas se contraindo a cada passo; o chapéu em uma das mãos; a bota de salto...
Assim que ele saiu, sentei-me em um dos bancos dos atendentes, debrucei-me sobre o balcão e um filme passou pela minha cabeça, com todos os detalhes do nosso envolvimento, do nosso sexo louco, do meu sofrimento e entrega, de tudo...
Depois de um tempo, terminei de fechar tudo e fui pra casa.
A tarde estava quente, mas com o ventinho do anoitecer. Algumas pessoas caminhavam despreocupadamente, outras vindo do seus serviços e indo para suas casas, outros se dirigindo para os bares da vida, para o tão falado happy hour...
Ao chegar em casa, destranquei tudo, entrei, abri as janelas para sair o mormaço dos cômodos, fui ao meu quarto, tirei minha roupa e coloquei um short e uma camiseta, ficando descalço. Peguei meu celular, liguei-o e o som de mensagens recebidas apitou. Curioso, acessei o WhatsApp e vi que eram todas do Robson. Meu coração acelerou, corri até a sala e sentei-me no sofá, só então cliquei no ícone com a foto dele e comecei a ler:
"Marcos, não queria, mas como sou homem, resolvi enviar essas mensagens a você.
Espero que não se importe, nem se sinta magoado.
Bom, primeiro, obrigado por ter deixado eu amar você, eu cuidar de você, eu partilhar contigo
Momentos maravilhosos pelos quais passamos juntos.
Sempre tive vontade de ti conhecer melhor e, ao perceber como você estava mal,
Resolvi arriscar e não me arrependo de nada. Foi tudo maravilhoso, foi tudo um aprendizado. Obrigado.
Parei de ler, pois os soluços e as lágrimas impediam que eu prosseguisse. Depois de me acalmar, continuei:
"A dor da separação é inevitável, mas o sofrimento é opcional. Tudo, na vida da gente,
Depende das nossas escolhas, daquilo que nos convém.
Não julgo você pelo que aconteceu. Também não sou perfeito.
Assim, como prefiro não sofrer, tirei meu time de campo, deixando você livre
Para fazer o que for melhor para você."
Novamente parei de ler... não conseguia e pensei comigo mesmo: "Puta que pariu!!! Mesmo com tudo o que aconteceu ele não me condena, não me julga, não me xinga... o que eu fiz, meu Deus? Perdi a chance de ter ao meu lado o homem que sempre sonhei..." enxugando as lágrimas com a costa de uma das mãos, continuei a ler:
"Há um momento certo para desistir de um grande amor e
nada melhor do que o nosso coração para nos dizer quando isso deve acontecer.
Minhas forças já se esgotaram na tentativa de provar tudo o que sinto por você e
nada do que eu possa fazer conquistará seu coração, pois você ainda não sabe o que realmente quer.
Hoje digo adeus definitivo e fecho a porta, você já faz parte do passado.Vai doer saber que nada aconteceu entre nós,
mas preciso procurar minha felicidade em outro lugar."
Pronto. Terminei de ler e chorava copiosamente. Tudo o que estava escrito eu já havia pensado e repensado inúmeras vezes. Mas lê-las ali, e saber que foram enviadas pelo Robson, fizeram-me perceber claramente que jamais o veria novamente ou o teria ao meu lado...
Que ironia do destino: no mesmo dia os dois homens que modificaram minha vida disseram adeus para mim... cada um da sua maneira, cada um deixando marcas em mim, cada um fazendo parte da minha história... adeus, simples assim.
Esgotado física e emocionalmente, desliguei o celular, fui para o banheiro, liguei o chuveiro na água quente, sentei-me no chão e deixei que ela caísse sobre mim, juntando-se às minhas lágrimas, à minha tristeza infinita... ali fiquei um tempão... depois, enxuguei-me mais ou menos e me joguei na cama que estava fria, solitária e triste como minha alma, meu coração e minha vida.
F I M

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O cowboy
RomantizmO impossível pode acontecer... quando menos se espera, o amor e o desejo nascem , mas será que sobrevivem?