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Eduardo havia escrito

Depois qe deixar minha namorada passarei na sua casa.

Apenas essas simples palavras. Sem mais, nem menos. Não perguntou se podia ir, se queria recebê-lo. Nada. Informou o que faria e pronto. Fiquei olhando aquelas palavras e senti raiva dele e, principalmente de mim, pois meu coração já palpitava. Isso sem saber o assunto que ele tinha que tratar comigo.

Logicamente, na minha situação, comecei a imaginar ele me falando que queria ficar comigo. Por outro lado, a razão, me alertava de que se fosse isso mesmo, por que ele havia me ignorado completamente durante o almoço? Não havia trocado uma palavra sequer durante o encontro em que ambos apenas gozamos iguais a animais?

Comecei a digitar uma resposta bem grosseira, mas desisti. Apaguei tudo e coloquei o celular na mesinha do centro.

Fiquei sentado no sofá olhando fixamente para a parede branca da sala enquanto pensamentos iam e vinham:

"Recebo ou não o recebo?"

"O que ele quer comigo?"

"Vou tomar banho, sair de carro e ele que se foda."

"Mas, e se for algo sério?"

"Ele terminou com a namorada e agora me quer junto?"

"O que faço???"

Falei bem alto para as paredes ouvirem "VAI TOMAR NO CU", levantei de supetão, fui ao banheiro, tomei um banho demorado, esfregando-me com força, querendo tirar de minha pele todas as sensações e dúvidas que ele estava incutindo em mim, transformando minha vida num verdadeiro inferno.

Enxuguei-me, coloquei apenas um short e uma camiseta, fui à cozinha, fiz uma macarronada com linguiça calabresa, cozinhei batata, ovos e cenoura, deixei-as esfriar, depois cortei tudo mais tomate e fiz minha salada preferida, colocando em uma travessa e deixando na geladeira.

Sentei no sofá, liguei a TV e fiquei zapeando até me interessar pela minissérie Criminal Minds, cujo tema daquele dia era um serial killer que sequestrava, maltratava, estuprava e matava com requintes de crueldade gays de meia idade que frequentavam um bar gls em uma cidade americana. Fiquei impressionado como o ser humano pode ser mal com seu semelhante e, salvas as devidas proporções, muitas falas e comportamento do assassino fizeram-me lembrar do Eduardo. Fiquei chocado com isso. Medo não, mas chocado sim.

A campainha tocou eram 22h30 fazendo com que eu desse um pulo do sofá e gritasse de susto. Sentei novamente com a mão no coração que estava disparado.

Tocou novamente insistentemente. Levantei, abri a porta e lá estava o Eduardo de pé, encostado na parede do alpendre, com uma calça jeans escura justa, camisa polo branca, bota e cinto preto. Lindo, lindo e lindo.

Fiquei ali observando-o, fixando meus olhos nos dele e ele fazendo a mesma coisa.

Balbuciei:

___Quer entrar? (que pergunta idiota a minha, se ele estava ali claro que queria entrar).

___ Posso? – respondeu ele.

Abri mais a porta e ele passou por mim, fazendo-me sentir seu perfume marcante.

Fechei a porta, segui-o até a sala, sentamos um de frente para o outro e ele ficou me encarando sem dizer nada.

___ Quer comer? Fiz macarronada e tem salada. Ainda não comi. – disse sem nem saber o porquê.

___ Quero sim. Obrigado.

Fomos até a cozinha, coloquei dois jogos americanos sobre a mesa, peguei pratos, talheres, taças. Coloquei a macarronada em cima da mesa, peguei a salada na geladeira e uma garrafa de vinho ainda fechada.

Eu o servi e também a mim. Ele pediu o saca-rolhas, entreguei para ele e com facilidade ele tirou a rolha da garrafa, servindo-se e a mim também.

Comemos em silêncio absoluto, apreciando a macarronada que havia ficado deliciosa e simples, além da salada que praticamente não sobrou nada.

Ao terminamos, coloquei tudo na pia, ele veio também, começou a lavar tudo, colocava no escorredor de pratos enquanto eu enxugava e guardava. Nossos braços tocavam e roçavam e aquilo me deixava tenso e meu pinto foi ficando ereto debaixo do short (estava sem cueca). Ao terminar, ele encheu a taça dele a minha e, quando foi me entregar enquanto eu enxugava as mãos, ele me viu excitado e a barraca armada. Ficou olhando, riu, colocou a taça dele na mesa, veio chegando devagarinho, igual a um leão prestes a comer a presa, com sua mão grande apertou meu pau, fechei os olhos e gemi. Com a outra mão ele pegou atrás do meu pescoço, me puxou e beijou. A boca e a língua dele com sabor de vinho esmagaram a minha, que se abriu rapidamente sorvendo todo aquele sabor maravilhoso. Ele soltou meu pinto, me agarrou pela bunda, trazendo meu corpo junto ao dele. Ficamos ali, beijando e nossas mãos correndo as costas um do outro.

Depois de um certo tempo, ele se afastou, pegou sua taça, me deu a mão, foi me puxando para a sala. Fui atrás dele, como um cordeirinho pronto para o abate.

Sentamos no sofá maior, um do lado do outro. Ele deu um gole e começou a falar:

___ Marcos... primeiro quero que me desculpe por tudo.

___ Eduardo – eu o interrompi – você não precisa se desculpar, você sempre foi sincero e franco comigo. Não posso reclamar nem querer que você seja diferente.

Ele me interrompe, colocando um dedo nos meus lábios.

___ Por favor, deixe eu falar.

Aquiesci com a cabeça, dei outro gole e fiquei olhando-o.

___ Sei que fui sincero com você. Sei que ti falei que eu curto gozar, não interessa com quem ou onde. Sei que ti ignorei propositadamente, pois nunca quis que você se envolvesse seriamente comigo. Eu achava que seria só sexo, nada mais que isso. Mas hoje, lá na casa do meu tio, percebi claramente que você está gostando de mim, está se apaixonando. Fiquei preocupado com você, pois apesar do meu jeito e de tudo o que fiz, eu sinto uma atração muito forte por ti, como nunca senti por nenhum outro cara, entende?

Apenas balancei a cabeça afirmativamente.

___ Então - continuou ele – você já sabe que estou namorando. Gosto muito dela, você a conhece e sabe que ela é uma excelente moça, de família daqui da cidade. Não quero nem posso magoá-la também. E, se eu ti falar que eu a amo, estarei mentindo. Eu gosto dela, de ficar perto dela. Conversamos muito. E ainda não transamos. Sei lá... enquanto eu não resolver o que há entre mim e você, não vou fazer sexo com ela, pois é isso o que eu faço: SEXO.

Eu ali, mudinho da Silva, ouvindo, digerindo tudo, ora entendendo ora não. Ele continuou:

___ Então, ti mandei aquela mensagem, porque queria ti explicar tudo isso e também ti falar que não podemos ficar juntos, nem para transar, pois sei que seria muito pior para você, pois ti magoaria e machucaria muito mais. Espero, sinceramente, que me entenda e não fique com tanta raiva de mim.

Lágrimas já escorriam dos meus olhos banhando meu rosto...

___ E, como já ti falei, sempre que vejo você a minha vontade é ti agarrar, abraçar, beijar, foder com você. Então, farei de tudo para que não nos encontremos mais, em situação alguma, mesmo nessa cidade tão pequena.

E continuava me olhando e eu com a cabeça baixa sentindo o calor das lágrimas...

___ Bom, era isso. Me desculpe, por favor.

Eu já soluçava e não conseguia falar nada. Meu corpo todo tremia e juntei minhas mãos apertando meus dedos com força.

Ele se levantou, passou a mão na minha cabeça despenteando meus cabelos como amigos de longa data fazem. Foi indo em direção à porta, abriu-a e disse:

___ Obrigado pelo jantar, por ser quem você é. Mais uma vez, me desculpe.

E saiu, fechando calmamente a porta.

Fiquei ali, sentado, empertigado, chorando não sei por quanto tempo. Mente e coração vazios.

Depois, levantei, fui para o quarto, me joguei na cama e dormi.

Bem-vinda escuridão.

O cowboyOnde histórias criam vida. Descubra agora