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Até que chegou o domingo!

Acordei cedo demais, fiquei que nem bobo pensando em não ir, em inventar uma desculpa qualquer. Peguei o celular várias vezes para ligar, mas na última hora não tive coragem. Assim, tomei banho, me troquei várias vezes sem saber qual roupa vestir. Peguei meu carro e fui.

A chácara ficava mais ou menos a uns 7km da cidade, estrada de terra batida, mas sem buracos, com muitas árvores acompanhando as cercas que circundavam todo o trajeto. Fui sem pensar em nada. Apenas fui.

Ao chegar na entrada, observei algumas pessoas na varanda da casa (casa simples, com varando em volta dela toda, com terreiro grande, pomar de um lado com uma horta bem nos fundos).

Estacionei perto de outro veículo, desci e o dono da casa veio sorrindo me cumprimentar e agradecer a minha vinda. Foi me levando para a varanda dos fundos, onde uma mesa de madeira bem rústica estava posta, com umas 12 cadeiras em volta. Por cima da mesa, uma toalha quadriculada de azul e branco, pratos, talheres e copos. O cheiro que vinha da cozinha era maravilhoso.

Ele me levou para dentro, apresentou-me a dona Maria, esposa dele, e mais algumas pessoas que ali estavam. Cumprimentei todos, com o coração acelerado, esperando ver logo o Eduardo. Mas não perguntei nada.

Depois dos cumprimentos, fomos para a varanda, ficamos sentados, conversando, alguns tomando cerveja e eu refrigerante com muito gelo. Conversas sobre o tempo, família, problemas da cidade, do país. Muitas recordações do passado que fizeram todos rirem e se divertirem muito, inclusive eu que, apesar da inquietação, ouvia tudo atentamente e fazia um comentário ou outro.

Lá pelo meio-dia, a Dona Maria começou a trazer travessas com comida: arroz branco, feijão, lombo assado, frango em molho, salada de alface com tomate e rúcula. Tudo muito simples, mas com um cheiro maravilhoso. Então, cada um foi se servindo, sentando e o diálogo cessou, apenas alguns comentários apreciativos a respeito do almoço tão bem feito.

Quando eu estava quase terminando, ouvi o barulho de um carro chegando que estacionou ao lado do meu. Ao erguer a cabeça naquela direção, vi o Eduardo descendo juntamente com uma jovem da cidade, Márcia, conhecida minha, uma moça bonita, educada e que trabalhava na secretaria da escola. Fiquei com o garfo parado, observando os dois vindo de mãos dadas em nossa direção.

Eles chegaram sorrindo, cumprimentaram todos, e ela beijou os donos da casa agradecendo o convite.

Eu tentei não olhar muito para o Eduardo, meu estômago deu um nó, e só conseguir comer o restante empurrando goela abaixo para não parecer desfeita com a dona Maria.

Eles sentaram-se do outro lado da grande mesa, longe de mim (alívio), pegaram comida também, e Eduardo estava todo sorridente e carinhoso com ela, perguntando o que ela queria, chamando-a de "meu bem e meu amor", tocando os cabelos dela, as mãos, o ombro... aquilo era um tormento para mim, vê-lo daquele jeito com ela, acariciando-a e percebendo os olhares de aprovação dos parentes e das pessoas que ali estavam.

Ao terminar de engolir, assim como os demais, me levantei, peguei meu prato, talheres e copo e os levei para a grande pia na cozinha, e comecei a lavá-los vagarosamente. Estava ali, com o coração em frangalhos, ouvindo as risadas e conversas, quando sinto alguém ao meu lado, viro-me e era o Eduardo. Eu fiquei encarando-o sentindo meus olhos marejarem, ele me olhou, não disse nada nem sorriu, pegou dois copos limpos no escorredor de pratos, voltou para a varanda. Eu fiquei ali, com o meu prato ensaboado nas mãos, a água escorrendo da torneira e lágrimas descendo livremente pelo meu rosto.

Para não passar vergonha e ter que dar explicações, enxaguei rapidamente, limpei meus olhos, coloquei tudo limpo para escorrer, nisso a dona Maria entra com mais utensílios sujos e eu pergunto onde é o banheiro. Ela me indica um que fica no final da varanda e eu me dirijo para lá.

Assim que entro, tranco a porta, encosto-me nela, fico parado respirando fundo e tentando acalmar meu coração que está acelerado e fecho meus olhos com força para impedir nova leva de choro. Vou até o vaso sanitário, faço xixi, lavo minhas mãos e meu rosto na pia com muito sabonete e água, querendo tirar todo o vestígio da tristeza que me aperta o peito. Assim que termino, volto para a varanda e sento-me no meu lugar.

Alguns dos presentes são estão alegres por causa das cervejas e vinho consumidos, e contam piadas, riem alto, divertem-se bastante.

Não ouso olhar para onde Eduardo está. Apenas sorrio para as pessoas quando estas me chamam ou falam algo.

De repente, o tio dele fala bem alto:

___ Du, não vai nos falar se está namorando ou se é só mais um dos seus rolos, não?

Eduardo ri alto enquanto a Márcia fica vermelha e pega a mão dele.

___ Ah, tio, assim o senhor me deixa envergonhado e ela já está roxa... olha só?

E a beija com furor, abraçando-a fortemente, sendo que ela retribui.

Todos gritam e eu quase caio da cadeira, querendo me enfiar debaixo da mesa para não ver a boca dele envolvida na dela.

Depois do beijo, eles ficam abraçadinhos, trocando carinho, enquanto a dona Maria torna a insistir:

___ Oh, meu filho, mas é sério mesmo então? É namoro mesmo?

___ Sim, tia, estamos namorando há um mês mais ou menos. – responde Eduardo sorrindo.

Ao ouvir aquilo, a dor me invade mesmo, de uma vez só, pois ele ficou comigo estando com ela, namorando ela. Traduzindo, fui usado por ele para satisfazer suas necessidades e sua tara. Senti-me um lixo por isso e por imaginar o tanto que eu gostei de tudo o que aconteceu entre a gente, chegando a idealizar um possível relacionamento entre nós. Idiota mesmo. Fui um idiota.

O restante do almoço foi uma tormenta: os dois agarradinhos, os presentes fazendo comentários já sobre um possível noivado, casamento, escolha de casas para morar, esse tipo de coisa. E eu ali, sentando, ouvindo, sorrindo em modo automático.

Nenhuma vez ele me olhou ou me dirigiu a palavra. Nenhuma.

Lá pelas 16h30, me levantei, agradeci pelo almoço, me despedi de um modo geral de todos, fui até meu carro e dirigi lentamente para casa. Já não conseguia pensar em mais nada, apenas imagens dos dois juntos passando como um filme pela minha cabeça.

Cheguei em casa, guardei e tranquei o carro, entrei, tomei banho, liguei a TV, deitei no sofá apenas de cueca e dormi.


O cowboyOnde histórias criam vida. Descubra agora