23

730 77 13
                                    

Dormi muito bem como há muito tempo não acontecia.

Acordei disposto, levantei da cama, fui ao banheiro fazer minhas necessidades, lavei as mãos e o rosto, dirigi-me à cozinha, onde coei café e o tomei com leite, acompanhado de pão com presunto e queijo. Saboreei lentamente meu desjejum enquanto pensava nos últimos acontecimentos da minha vida: fui do paraíso ao inferno e retornei ao paraíso. Tudo rapidamente, deixando minha cabeça uma confusão só. Foram muitas, mas muitas emoções contraditórias para uma pessoa que vivia pacifica e calmamente há tempo uma vidinha sem sonhos, mas rotineira, com segurança.

Terminando o café, fui ao banheiro, escovei os dentes (sempre tomo café antes para depois escovar os dentes – acho estranho acordar, escovar e depois comer e beber algo). Tomei banho, troquei-me e fui para o depósito bem cedo. Cheguei primeiro que meus funcionários, abri tudo e fui para o escritório. Percebi que na minha ausência tudo correu tranquilamente, tudo estava em ordem, limpo e muito organizado.

Aos poucos pessoal foi chegando e o Robson foi um dos primeiros.

Ao vê-lo adentrando o estabelecimento, meu coração acelerou, sorri para ele, estendi minha mão e disse:

___ Bom dia, Robson!

Ele pegou minha mãe, apertou mais que o necessário, olhou-me nos olhos e respondeu:

___ Bom dia, patrão! Tudo bem com o senhor? Melhorou?

Achei estranho aquele tratamento da parte dele, mas é claro que entendi. Afinal, o que eu esperava? Que ele viesse correndo, pulasse em meu colo com um monte de bexigas vermelhas em formato do coração e com voz melada disse "Amoooooooooooor... bom diaaaaaaaaaaaaaaaa! Ti amo, bebê!"

Respondi para ele:

___ Estou melhor, obrigado por perguntar!

Os demais foram chegando, me cumprimentando e perguntando sobre mim, o que respondi da mesma forma, com educação e simpatia. Eles eram fantásticos, honestos e íntegros.

E o dia de trabalho começou como outro qualquer: compras, notas fiscais recebidas, entrada e saída de mercadorias, clientes fazendo orçamento, outros comprando, recebimento de encomendas... tudo isso fez com que a hora do almoço chegasse. Pensei em chamar o Robson para comermos algo, mas não o fiz, pois não havíamos conversado a respeito disso.

Então, avisei que iria almoçar e fui até o restaurante self-service que fica ao lado da praça da matriz. Lá, algumas pessoas já comiam. Peguei um prato e fui me servindo: arroz branco, feijão, bife à milanesa, uns torresminhos, salada de rúcula com alface. Pesei, pedi uma Coca Zero, fui para uma mesa mais ao fundo, isolada das demais. Sentei-me e comecei a comer tranquilamente, saboreando aquela comida simples, bem feita e com cheiro maravilhoso!

Estava lá entretido forrando meu estômago, quando ouço:

___ Posso me sentar com você?

Quase caí da cadeira ao reconhecer a voz e olhando para cima dar de cara com o Eduardo.

Sem esperar eu responder ele sentou-se a minha frente com um prato cheio também.

Fiquei olhando-o sem saber o que falar nem o porquê dele estar ali. Depois de umas garfadas cheia, ele tomou um pouco da cerveja que havia trazido, olhou para mim e perguntou:

___ Já me esqueceu? Já arrumou outro? Então você queria só meu pinto...

Senti meu rosto esquentar e minhas orelhas pegarem fogo e respondi bem baixo:

___ Desgraçado... você me usou, me humilhou, me ignorou e vem falar logo isso para mim? Não tem vergonha na cara não?

Ele, com olhos de lobo, respondeu na lata:

___ Mas você gostou do grosso aqui, né? Tanto da minha grossura como pessoa como da grossura lá de baixo... – e sorriu cinicamente para mim.

Minha vontade era jogar o prato de comida na cara dele, mas não o fiz. Apenas recomecei a comer e ignorei-o. Mas ele não se deu por vencido e disse levantando-se:

___ Essa semana vou com meu tio entregar areia e pedra no seu depósito. Quero você, como daquele vez, no banheiro comigo.

Eu ia respondendo, mas ele já de pé antecedeu a mim dizendo:

___ Sem desculpas! Eu, você, banheiro, gozar, juntos, com grossura. – e saiu rindo baixinho, olhando-me sem parar.

Perdi o apetite, esperei-o sair do restaurante, paguei meu almoço e voltei para o trabalho.

Lá, vi que o Robson estava em horário de almoço e, como sempre acontece, eu não tinha trazido meu celular para mandar mensagem para ele. Então, sentei-me em meu escritório e as palavras do Eduardo ficaram remoendo em minha cabeça.

O cowboyOnde histórias criam vida. Descubra agora