Capítulo 18

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- Nosso jogo está de pé amanhã? – o garoto dos olhos azuis perguntou.
- Aham – sempre que eu olhava pros olhos dele me sentia flutuando.
- Que horas?
- Você é que sabe. Por mim qualquer hora tá bom.
- Vamos deixar pra tarde, porque quero dormir até o meio dia amanhã.
- Melhor que seja à tarde mesmo, eu tenho que trabalhar amanhã de manhã – me lembrei da Dona Elvira e fiquei com remorso de deixá-la sozinha na manhã seguinte.
- Coitadinho, você trabalha muito...
- Fazer o quê? Nem todos são ricos como você – eu brinquei.
- Eu não sou rico – ele fez cara feia.
- Imagina se fosse, né?
- Quem me dera se eu fosse.
Talvez ele não fosse rico mesmo, mas que ele tinha uma condição de vida boa, ah ele tinha!
O sábado sempre era um dia tranquilo na operação. Quase não atendia. Fiquei a maior parte do tempo ocioso.
- Tudo bem aí, Caio? – perguntou a Márcia.
- Aham.
- Por que está tão parado? – ela me olhou com desconfiança.
Mostrei o meu sistema de ligações e ela percebeu que eu estava livre.
- Acho bom, hein? Acho bom!!!
Dei risada. Ela era louquinha de vez em quando, mas uma excelente supervisora. Pena que ela ia entrar de férias.

- Amanhã às 15 então – ele falou.
- Combinado – o Rodrigo concordou.
- Quem vai? – questionei.
- O Allan, o Mateus, o Pablo e o Igor.
- Mas aí a gente vai ficar em sete – Rodrigo lembrou.
- As meninas também vão – Bruno completou.
- As meninas? – eu achei estranho.
- Que é que tem?
- Nada, ué. Só achei estranho.
- Até amanhã então – ele parecia cansado.
- Até – Rodrigo e eu respondemos.
- Tamires e Priscila jogando futebol? Essa eu quero ver – Rodrigo falou quando ele saiu.
- Também.
- Vamos embora, hoje tem baladinha.
- Hã?
- Os meninos vão pra balada, não te contei?
- Não.
- Onde é que eu tô com a cabeça? Desculpa.
- Também não me interessa muito. Sou menor de idade.
- Putz, pode crer. Foi mau...
- Dá nada não. A culpa não é sua.
- Quem manda ser neném? – ele sorriu e eu dei um tabefe na cabeça dele.
- Neném que faz neném você quis dizer. Palhaço.
- Você e o Léo não estão se falando mais?
- Estamos sim. É que hoje ele teve que ir mais cedo porque vai viajar.
- Ah, tá.
- Qual balada vocês vão?
- Lá na Barra da Tijuca. Não sei o nome do lugar.
- Vão todos?
- Aham.
- Até o Ricardo?
- Aham.
- Caramba...
- Vamos aproveitar o último final de semana livre.
- Merecidamente.
- É.

Depois que eles aaíram, eu fui pro meu quarto e entrei na internet. O Bruno não estava on-line.
Como não tinha ninguém pra conversar nem nada para fazer, acabei dormindo mais cedo, o que me favoreceu na hora de acordar na manhã seguinte.
Tentei fazer o menor barulho possível, porque não queria acordar o Rodrigo, mas acho que não consegui porque ele se mexeu na cama.
Eu já estava quase chegando na esquina quando percebi que havia esquecido o meu celular.
- Merda – reclamei pra mim mesmo.
Abri o portão o mais silenciosamente possível e voltei pro meu quarto. Meu aparelho estava embaixo do meu travesseiro.
- Bom dia – disse Ricardo, com a cara inchada de sono.
- Bom dia.
- Vai sair?
- Sim. Por quê?
- Não, por nada. Curiosidade.
- Como foi a balada?
- Muito boa. Bebi demais.
- Você bebe?
- Qual o problema?
- Não nenhum.
- Ah, tá.
- Vou nessa.
- Vai pela sombra.
Por que ele falou aquilo? Será que ele tinha algo contra a minha pessoa???
- Bom dia, Dona Elvira.
- Bom dia – ela respondeu.
- A senhora está bem?
- Cansada. Não consegui dormir essa noite.
- O que houve?
Nós já éramos íntimos, por isso eu tomei a liberdade de perguntar o que havia acontecido.
- Dois gatos maiditos ficaram em cima do meu telhado. Estavam no cio.
- Ah, que fofo. Sou apaixonado por gatos – me derreti.
- Fofo? Fofo é o caralho – era a primeira vez que eu a ouvia falando um palavrão. – Gatos malditos, um dia eu pego eles!
Acabei dando uma gargalhada. Eu nunca havia visto aquela doce senhorinha fora de si.
- Acame-se. Eles não têm culpa.
- Têm culpa sim. Minha casa não é motel de gatos!!!
Ela estava muito brava.
- Coitadinhos...
- Coitada de mim que fiquei aturando aquele barulho infernal. Acho que vou até fechar isso daqui mais cedo hoje.
- A senhora é que sabe.
Não fiquei insistindo naquele assunto. Ela tinha lá as suas razões. Ninguém merece miado de gato no cio. É realmente insuportável. E ensurdecedor.

BrunoOnde histórias criam vida. Descubra agora