Capítulo 78

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Confesso que fiquei feliz em saber que os dois estavam disputando a minha companhia, mas infelizmente eu teria que optar apenas por um deles.
- E então, Caio? – Mary perguntou pela segunda vez.
A melhor opção que eu tinha, era escolher o bombadão para ser meu colega de quarto; afinal de contas, nós éramos amigos. O Henrique era – até então – apenas um conhecido com o qual eu havia falado pouquíssimas vezes...
- Eu fico com o Gabriel – falei depois de pesar os prós e os contras das duas possibilidades de escolha que eu tinha.
- Então o Carlos Henrique ficará com o Renato – a mulher finalizou o assunto. – Agora vamos entrar que nós precisamos fazer os check-ins.
Pela primeira vez eu olhei a dimensão daquele hotel. Como era lindo! Imenso, com uma baita de uma estrutura e definitivamente chique demais. Superou totalmente as minhas expectativas.
- Uau – alguém sibilou quando nós chegamos no hall de entrada.
- Como isso aqui é lindo!!! – outra pessoa exclamou.
- Sensacional – ouvi mais alguém dar a opinião.
- Gostaram? – a representante da empresa perguntou com um sorriso nos lábios.
- Muito – não havia como não gostar.
- Unam-se em duplas e façam uma fila na frente do balcão para a gente fazer as fichas!
- Nem me escolheu, né? – ele estava atrás de mim.
- Desculpa, Henrique! Não fiz de propósito, viu? É que eu conheço o Gabriel já tem um tempo e se eu não ficasse com ele, ele ficaria chateado.
- Não tem problema – ele abriu um sorriso sincero. – Fica tranquilo!
- De verdade? – me senti aliviado. Eu não queria que ele ficasse chateado comigo.
- Sim, claro! Na verdade, eu pensei em você porque você é o único com o qual eu troquei ideia. Não conheço mais ninguém! Mas fica tranquilo, não tem problema não. Haverá tempo para a gente se conhecer melhor e fortalecer a amizade.
- Com certeza – concordei.
- Caio? – Gabriel me chamou. – É a nossa vez, vem aqui...
- Já estou indo!
- Vai lá, a gente se encontra por aí.
- Com certeza!
- Onde você estava? Não ouviu a Mary falando pra gente fazer uma fila?
- Estava me desculpando com o Henrique. Calma, já estou aqui!
- Acho bom. Pega seus documentos que a moça vai precisar.
Peguei meu RG e CPF e fiquei esperando a nossa vez chegar. Eu estava ansioso demais para ver o meu quarto...
- Bom dia – disse a recepcionista. Com certeza já havia passado da meia noite. – Documentos, por favor?
- Bom dia – Gabriel e eu respondemos ao mesmo tempo e em seguida, entregamos o que ela havia solicitado.
- Quarto 1-382. 13º andar – ela nos entregou dois cartões e eu me perguntei para que aquilo servia. Onde estavam as chaves?
- Obrigado – Gabriel recolheu os cartões, me entregou meus documentos e arrumou os dele dentro da carteira.
- Por nada – disse a funcionária.
- Vamos? – ele perguntou.
- Acho que não pode subir ainda, o pessoal está ali perto dos elevadores.
- Vamos pra lá, foi isso o que eu quis dizer.
- Ah!
A Janaína e a Alexia ainda não haviam feito a ficha de entrada no hotel. Eu estava curioso para saber qual quarto seria o delas.
As pessoas estavam conversando animadamente. Acho que todos estavam eufóricos com o que estava acontecendo. Parecia até um sonho! Eu nunca teria imaginado que iria ficar hospedado em um hotel tão chique como aquele.
- Bonito aqui, né? – Gabriel olhou para todos os lados.
- Muito. Pensei que iríamos ficar em um lugar mais simples...
- Eu também!
- E aí? – a Alexia pulou na nossa frente. – Qual o quarto de vocês?
- 1-382. E o de vocês? – Gabriel indagou.
- 0-854. 8º andar.
- Nós estamos no 13º - comentei.
- Adorei – disse Janaína. – Quase no colo de Jesus Cristo.
Eu dei risada. Como ela era idiota!
- Assim que é bom, lá nas alturas – Gabo suspirou e aparentemente gostou de ter ficado no 13º andar.
- Todos aqui? – perguntou Mary. – Pessoal, prestem atenção que eu vou passar algumas orientações...
Foram aproximadamente 10 minutos de conversa jogada fora. Tudo o que ela disse, a Eduarda já havia nos passado; então, tudo não passou de perca de tempo.
- Boa sorte à todos, sejam muito bem-vindos e se precisarem de alguma coisa, é só me ligar!
- Onde está seu número? – alguém perguntou.
- Não entreguei meu cartão?
- Não – todos nós respondemos.
- Que cabeça a minha!
A jovem senhora passou 12 cartõezinhos com o nome, função, números de telefones, e-mail, filial e departamento onde ela trabalhava. Fiquei me questionando quantas filiais a empresa possuía.
- Podemos subir, Mary? – perguntou uma das vendedoras, cujo nome eu não me lembrava.
- Podem sim. Subam, descansem bastante e aproveitem bem a estadia!
- Obrigado – nós agradecemos e nos dirigimos aos elevadores.
- Até mais! – ela abriu um sorriso, acenou e em seguida deu as costas e foi embora.
- Ela parece ser legal, né? – Alexia comentou.
- Ela me lambra sabe quem? – perguntou Janaína;
- Não – nós três falamos.
- A Cruella Devil!
- Nossa, agora você foi má, hein amiga? – a Alexia ficou chocada.
- Mas não parece? É igualzinha! Só falta ter metade dos cabelos na cor branca.
- Que horror – eu caí na gargalhada. O pior é que ela estava certa!
- Essa Janaína não vale o arroz que come, viu? – Gabriel balançou a cabeça negativamente e entrou no elevador.
- Mas é verdade, gato! Ela parece mesmo!
- Caio, aperta o 13º aí – pediu Gabriel.
- O 8º também, Caio – lembrou-me Janaína.
- Por favor, pode apertar o 6º? – pediu uma moça.
- Mais algum? – eu questionei.
- Não, obrigada – ela respondeu.
O elevador começou a subir bem lentamente. Será que estava sobrecarregado demais?
- Alguém tem um baralho? – perguntou Janaína. – Até ele chegar no 8º dá tempo de jogar uma canastra!
- Ai, Jana – Alexia riu. – Você é impossível.
- Mas é, menina! Até a minha avó anda mais rápido que isso e olha que ela já faleceu!
- Com licença, com licença – uma moça falou quando o elevador parou no 6º andar. – Obrigada!
- Gostosa – Gabriel deixou escapulir quando as portas se fecharam.
- Se fecha, girassol – Janaína deu um tapa na nuca dele. – Se enxerga!
- Desculpa, esqueci que vocês ainda estão aí.
A Alexia não parava de se olhar no espelho. Ela arrumou os cabelos, as sobrancelhas, passou os dedos nos cantos dos olhos e por fim sorriu.
- Você se ama, não é? – brinquei.
- Ao extremo. É o nosso andar?
- Não, é o deles – Jana pegou as malas e empurrou a nossa amiga. – Anda logo, criatura. Eu quero tomar um banho!
- Nasceu de 7 meses, foi?
- Nasci não, acho que até passei da hora de nascer – ela explicou.
- Por isso que é acefálica desse jeito – Gabriel zombou.
- Eu anotei isso, hein? Eu anotei isso – ela falou. Em seguida as portas fecharam novamente e Gabriel e eu ficamos sozinhos.
- Agora fala a verdade – ele me olhou. – A loirinha não é gostosa?
- Que loirinha?
- Aquela que desceu no 6º...
- Ah! Aham, aham! – menti. – É sim.
- Isso aí, Você é dos meus!
Por que aquele saco de músculos ambulante tinha que ser hetero? Por que ele não podia curtir a fruta? Eu iria ficar muito feliz se aquilo acontecesse...
- Agora vamos procurar nosso barraco – ele foi o primeiro a sair do elevador.
- Onde estão as placas informativas? – perguntei.
- Como assim? Na porta, né Caio?
- Ah...
- Nunca se hospedou em um hotel na sua vida?
- Como esse aqui não – me justifiquei.
- Hum...
- Achei – falei, - Aqui!
- Ah, beleza. Abre a porta aí – ele me entregou um dos cartões e em seguida, começou a mexer no celular.
- Abro, mas cadê as chaves?
Ele deu risada e passou na minha frente.
- Presta atenção que eu só vou fazer uma vez!
Gabriel introduziu o cartão em uma espécie de caixinha que havia perto do trinco da porta e magicamente ela foi aberta.
- Ah... – fiquei constrangido. Eu nunca imaginei que o cartão servia para aquilo. – Entendi.
- Relaxa, não vou contar pra ninguém.
- Estou relaxado.
Quando eu entrei, soltei um assovio. Eu nunca havia visto um quarto tão arrumado como aquele.
Eram duas camas de solteiro; dois criados-mudos, um ao lado do outro; um frigobar; uma televisão de 29" e uma estante. Eu fiquei me perguntando onde nós colocaríamos as nossas roupas.
- Caio, liga a luz aí que eu vou ao banheiro. Preciso fazer xixi!
- Uhum.
Facilmente encontrei o interruptor, mas quando passei o dedo para acender a luz, a mesma ficou apagada.
- Ué?!
Insisti inúmeras vezes, mas nada aconteceu. Será que havia acabado a eletricidade?
Quando olhei para trás, percebi que ao lado da porta havia uma caixinha idêntica a que ficava na porta. Será que era ali que a luz era acesa? Me aproximei, fitei com curiosidade e tentei identificar para que aquilo servia, mas não encontrei nenhuma resposta.
Passei meus dedos por todos os lados e nada aconteceu. Acho que se eu tivesse uma chave de fenda, teria arrombado o local para tentar identificar a serventia daquilo.
- Desisto! – reclamei comigo mesmo e resolvi tirar meus tênis para descansar meus pés.
- Por que não acendeu a luz?
- Ela não acende! – expliquei.
- Como não?
- Deve ter faltado eletricidade.
- Ah, pelo amor, Caiô! – ele riu. – Me empresta um cartãozinho?
Eu entreguei o cartão ao meu amigo e para a minha grande surpresa, ele inseriu o objeto dentro da caixinha que estava ao lado da porta.
- Acende agora – ele sorriu.
Quis morrer de tanta vergonha! E eu pensando em abrir a caixinha com chave de fenda... Isso porque ele tinha feito a mesma coisa na porta, hein? Imagina se não tivesse feito.
- Da hora, né? – Gabriel perguntou.
- É... Que mico!
Ele riu.
- Relaxa. É compreensível. Qual vai ser sua cama?
- Qualquer uma – eu falei.
- Pode ser a do lado da varanda? Sou meio friorento e aqui em São Paulo deve fazer muito frio.
- Faz mesmo. Ainda mais nessa época de outono...
- Estou lascado!
- Pode ser sim, não tem problema não!
- Obrigado, parceiro.
Gabo deslizou uma das portas da estante e começpi a tirar as roupas da mala e a guardá-las dentro daquilo que eu pensava ser uma estante, mas que na verdade era uma espécie de guarda-roupa. Então seria ali que nós iríamos guardar as nossas coisas!!!
- Vamos ter que dividir esse espaço minúsculo – ele falou.
- Só tem esse? O outro lado não abre?
- Não. O outro lado não é porta. Percebe?
- Verdade – eu não havia olhado com tanta atenção assim.
- Você tem muita roupa aí?
- Não muito. Acho que dá pra gente organizar tudo.
- Que bom. Qualquer coisa a gente deixa na mala mesmo e coloca embaixo da cama.
- Verdade.
- Duas gavetas minhas, duas suas?
- Combinado.
Sentei na minha cama e para o meu total agrado, era macia até demais. Eu já estava sonhando acordado só de sentir a maciez daquele colchão.
- A cama é boa?
- Pra caramba! – falei.
- Hotel 4 estrelas, queridão. Valeu a pena!
- 4? Pensei que era 5.
- 5 estrelas é duas vezes melhor que isso.
- Como sabe? Já se hospedou?
- Não, mas conheço pessoas que já se hospedaram no Copacabana Palace.
- Uau... Aquele sim deve ser sensacional.
- A diária mais cara de lá parece que é 14 mil.
- 14 MIL REAIS? – fiquei abismado.
- Algo assim, na verdade eu não me lembro o valor certo.
- Deus me livre! Com 14 mil eu faria tanta coisa...
- 14 mil é só quase um ano de trabalho, né? Para ser gasto em um dia... Tô fora!!!
- Verdade. O que será que está passando na televisão?
- A essa hora? Nada! Deve ter algo legal na tevê à cabo. Dá uma olhada aí.
Me levantei, fui até a televisão e encontrei um controle remoto em um vão que havia no meio do armário. Peguei o objeto, apertei o botão que estava no topo direito e ouvi um "clique" em algum lugar do quarto, mas a tevê não ligou.
- Não ligou – reclamei.
- Claro que não! Você ligou foi o ar-condicionado – ele riu de novo.
Que porra! Até quando eu ia ficar pagando mico naquele hotel maravilhoso?
- E onde está o controle da televisão? – senti meu rosto esquentar.
- Vê se está em cima dos criados-mudos...
E estava mesmo. Me senti extremamente aliviado quando apertei o botão e a televisão ligou. Pelo menos uma coisa eu tinha feito certo!
- Zapeia aí pelos canais, vamos ver se tem algo na tevê à cabo – ele pediu.
Fui passando os canais rapidamente. Pelo menos havia tevê à cabo mesmo. Seria estranho se não houvesse.
- Jogo! Pode deixar aí ou quer ver outra coisa? – pelo menos ele teve a decência de perguntar.
- Pode ser aí, não tem problema.
Só o que ele não havia percebido, é que não era uma partida de futebol e sim um telejornal. O cara ficou bravo quando percebeu o erro.
- Droga, pensei que era jogo!
- A essa hora? Difícil, parceiro – foi a minha vez de dar risada.
- Tem razão! Terminei de arrumar as minhas coisas, se quiser pode arrumar as suas. Eu vou tomar uma ducha.
- Beleza. Vou arrumar sim!
- O resto do armário é todo seu e eu deixei as duas primeiras gavetas pra você.
- Fechado. Obrigado.
- Não tem que agradecer. A parceria aqui é monstra! – ele sorriu.
- Palhaço! – eu levantei, joguei o controle na cama dele e em seguida comecei a tirar as minhas roupas da mala do Rodrigo.
- Vou pro banho, já volto.
- À vontade.
Será que assim como o Fabrício ele também não teria pudor e ficaria pelado na minha frente? Se aquilo acontecesse, muito provavelmente eu teria um troço de felicidade. Ele era gostoso demais e eu talvez não ia conseguir disfarçar o meu interesse...
Antes mesmo de começar a minha arrumação, o telefone que ficava na mesa ao lado do armário começou a tocar. Quem seria? Será que era alguém do hotel querendo falar com um de nós dois?
Percebi que simultaneamente, o telefone que ficava ao lado das camas também estava tocando e foi através dele que eu atendi a ligação:
- Alô?
- E aí, já se instalaram? – era a Janaína.
- Como você descobriu o telefone daqui? – essa foi a minha reação. Será que ela era adivinha?
- Ah, Caio – ela deu uma bela de uma risada. – O ramal do seu quarto nada mais é do que o número do seu quarto, querido.
- Hã?
- Eu vou desligar e você aperta o número do meu quarto, beleza?
Eu não tinha entendido muito bem, mas tudo bem.
- Então tá, né?
Ela nem se despediu e bateu o telefone na minha cara. Qual era mesmo o número do quarto dela?
- Gabo? – chamei próximo da porta do banheiro, que ficava literalmente ao lado da cama dele.
- Que foi?
- Qual o número do quarto das meninas?
- 0-854.
- Valeu!
Eu deitei de bruços, tirei o telefone do gancho e disquei o número do quarto delas. E não é que a Jana atendeu?
- Entendeu agora?
- Ah, agora entendi. Da hora.
- Você é muito lesado.
- Cala a boca, hein? E aí, gostou do quarto?
- Sensacional, né? isso aqui é outra vida. Vou esquecer que o Rio de Janeiro existe. O único problema é o frio, não estou gostando disso.
- Se prepara, às vezes aqui fica uns 8º C.
- Mentira?
- Verdade – exagerei um pouco. Claro que não era impossível de acontecer, mas não era tão comum também. Não naquela época do ano.
- Deus me livre. Como faço para comprar minha passagem de volta pra casa?
- Palhaça! Cadê a Alexia?
- Tomando banho. E o Gabriel?
- Também.
- Mentira? Espera aí que eu vou subir aí agora e vou arrombar a porta desse banheiro!!!
- Sem graça – eu ri.
- Essa delícia está tomando banho? Tira uma foto pra mim, pelo amor de Deus.
- A porta está fechada, filha.
- Que pena! Me promete uma coisa?
- O quê?
- Se você vê-lo pelado, pelo amor de Deus, tira uma foto.
- Não quero vê-lo pelado – menti descaradamente. – E mesmo se isso acontecer, não vou tirar nada. Até parece que eu vou expor a intimidade do meu amigo!
- Desgraçado. Vou ser obrigado a colocar seu nome nas minhas orações.
- Faça isso, ficarei grato – ri.
- Não esquece que a família Santos é do babado na Bahia, hein?
- Hã?!
- Nada, Caio. Nada. Vou desligar que eu já cansei de falar com você.
- Nossa, é assim?
- Essa é a vida, gato. Se acostuma.
- Vaca!
- Me respeita que eu tenho idade para ser a sua irmã mais velha!
- Irmã? Você tem idade para ser a minha avó!
- Filho da puta – ela mudou o tom de voz. – Deixa eu te pegar amanhça, deixa...
- Brincadeira, amor meu – caí na gargalhada. – Você tem idade só para ser no máximo minha irmã mesmo.
O que era verdade mesmo. A Jana não tinha nem chegado nos 30 ainda.
- Então um de nós dois é adotado, querido. Eu sou morena da cor do pecado, você não passa de uma folha de sulfite ambulante.
- Que horror! Sou tão negro quanto você!
- Ah, cala a boca – ela riu. – Você é mais branco que leite. Chega a ser incandescente.
- Quanto exagero, meu Deus!
- Chega de graça e me deixa dormir. Não é para ligar aqui de madrugada, hein? O telefone está bem na minha orelha.
- Ah, é? Bom saber.
- Liga! Liga que eu te esfolo vivo e te sirvo pros peixes da Lagoa Rodrigo de Freitas!
- Muito engraçado. Beijo, não me liga. Boa noite!
- Boa noite, branquelo.
- Ah, que horas é o treinamento mesmo?
- 9 horas, Caio.
- Ah, é. Obrigado.
- Beijo, tchau!
- Beijo – eu sorri e desliguei. Como ela era doida!
Percebi que me daria bem com o Gabriel no quesito organização. Ele era tão organizado quanto eu, senão mais. As roupas estavam elegantemente dobradas e quase não ocupavam espaço no guarda-roupa.
Arrumei as minhas de uma maneira que deixei as camisetas separadas por cor e as calças por modelo. Ficou show de bola. Guardei minhas cuecas e meias na primeira gaveta e a segunda deixei reservada para as roupas sujas. Aliás, como ficaríamos com as roupas sujas?
- Pronto – ele saiu do banheiro vestido, para o meu total desagrado. – Bom demais. A água está quentinha, quentinha.
- Que bom. Agora é a minha vez.
O cara estava usando uma bermuda daquelas de jogador de futebol e uma regata preta. Os braços estavam totalmente expostos e eu fiquei perplexo com o tamanho daqueles músculos. Era grande demais para ser verdade.
- Não me conformo com o tamanho dos seus músculos – soltei de uma vez. Perto dele eu parecia um moleque raquítico.
- Anos de malhação dura, meu caro amigo!
- Isso deve ser bomba! Pronto, falei, tô leve!
- Já falei que não uso bomba, senão o berimbal não toca – ele sorriu.
- Duvido. Muito músculo!
- Faço academia desde moleque, Caio. Não uso bomba. Se você fizer um treino bacana, você também chega lá.
- Eu até treinava, mas parei. Preciso voltar, meu corpo sente falta.
Aquilo era uma grande verdade. Na época que eu fazia academia, eu me sentia muito mais disposto e muito mais elétrico. Eu estava sentindo falta de movimentar meu esqueleto.
- Vamos voltar, pô!
- Acho que vou fazer isso mesmo.
- Faz sim. É bom pro corpo e pra alma. Amanhã quando eu for para a academia do hotel, te levo comigo.
- Aqui tem academia?
- Lógico que tem, Caio. E é claro que eu não vou perder a oportunidade de dar uma treinada básica. Te levo comigo, pode ser?
- Até pode! Vou pensar no assunto.
- Vai pensar porra nenhuma, vai treinar e acabou.
- Desculpa aí, não sabia que você tomava as decisões por mim – brinquei.
Ele foi até onde eu estava e bagunçou todo o meu cabelo. Lembrei do Vini, que sempre fazia isso comigo.
- Bobão! – ele falou.
- Vou pro banho.
- Vai lá, vou ficar vendo televisão. Vou procurar um noticiário de esportes.
- À vontade!
Por que os heteros só pensam em esportes? Essa é uma pergunta que vai ficar sem resposta pro resto da minha vida.
Entrei no banheiro e antes de me dirigir ao chuveiro, fui fazer minhas necessidades fisiológicas. Até o banheiro do quarto era chique por demais.
- Ah, Caio. Essa é a vida que você merece – falei para mim mesmo.
Quase caí de cara na parede, pois quando fui entrar no box para tomar banho, não percebi que havia uma mini-divisória de vidro no chão e acabei tropeçando.
- Porra – meu dedão do pé direito ficou doendo pacas. – Eu mereço!
A torneira do chuveiro era diferente. Era extensa, grande. Não era uma torneira comum.
Eu girei o objeto de ferro para um lado e para o outro, porém a água não caiu sobre o meu corpo.
- Ué?! – repeti a mesma expressão que utilizei quando tentei acender a luz e não consegui. – O que foi dessa vez?
Será que também tinha que inserir o cartão para a água sair? Mas não havia nenhum espaço como a caixinha do quarto para colocar o objeto...
Usei toda a minha inteligência para tentar fazer a água sair, contudo nada aconteceu. Será que o Gabriel tinha fechado o registro pra zoar com a minha cara?
Não... Não era possível... Eu estava quase cogitando a possibilidade de tomar banho na pia do banheiro... Como eu deveria abrir aquilo, meu Deus?
Olhei para cima e passei meus olhos pelo chuveiro. Era tão grande e diferente dos demais... E não havia nenhuma espécie de torneira lá em cima para eu poder acionar a água.
Foi quando eu ia desistir que aconteceu: minhas mãos deslizaram para trás e um jato de água muito forte e muito gelado caiu sobre o meu corpo. Eu dei um pulo tão grande que quando caí no chão, o peito dos meus pés começaram a doer.
- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAARGH – gritei de susto e frio ao mesmo tempo.
E agora? Como eu regulava a temperatura? Será que... Eu girei a torneira e rapidamente a água quente caiu sobre o meu corpo, me deixando completamente aliviado. Ufa!
- O que foi Caio? Tudo bem aí? – ele girou a maçaneta e forçou a porta, mas ela estava trancada.
- Tu-tudo. Eu só tomei um susto com a água fria.
Eu nunca havia ouvido ele rir tanto desde que o conhecera. Ainda bem que a porta estava fechada, já pensou se ele entra e me vê pelado? Aquilo não podia acontecer!
Me lavei rapidamente e depois desliguei a ducha. Pelo menos para desligar eu não apanhei tanto. Me sequei, me vesti e por fim saí do quarto. Ele estava deitado; ou melhor, esparramado na cama com os olhos grudados na tela da televisão.
- Tomou banho gelado? – ele riu.
- Não, eu regulei a temperatura – fiquei com vergonha.
- Só você mesmo. Que berro, hein?
- Lógico, um monte de água fria na minha cara, você quer o quê?!
Ele riu de novo.
- Bobão. Não vai instalar o notebook?
- Vou, mas só amanhã. Hoje não quero usar, se você quiser mexer pode ficar à vontade.
- Ah, obrigado. Fico contente que você não seja regulado. Eu não tenho notebook, ia passar vontade se não fosse você.
- Imagina, pode usar quanto você quiser.
- Valeu, parceiro! Vou instalar então, beleza?
- Uhum. Mas vou te pedir um favor em troca!
- Qual?
- Pode me emprestar o celular para eu ligar lá no Rio? Preciso dar notícias aos meus amigos...
- Claro! – ele jogou o aparelho em cima da minha cama. – Pode usar à vontade.
- Obrigado. Pode deixar que eu vou ligar à cobrar, beleza?
- Relaxa. Entre nós não tem erro!
Eu coloquei a toalha molhada dentro do banheiro e em seguida fui até a varanda para dar o telefonema. Me senti contente por ter aberto a porta da vidro de forma correta. A madrugada estava gelada e estava começando a garoar.
- Já veio aqui ver a vista? – perguntei.
- Ainda não – ele apareceu atrás de mim e quando passou, colocou a mão na minha cintura para me empurrar um pouco pro lado direito. – Puta, muito da hora, hein?
- Bonito, né?
- Não tanto como o meu Rio de Janeiro, mas é bonitinho.
- Nunca veio aqui?
- Primeira vez. Perdi o cabaço – ele abriu um sorriso.
- Bobão!
- Mas deixa eu entrar que está frio demais. Você é louco? Eu, hein?
- Adoro o frio – falei.
- Credo em cruz. Tô fora!!!
Quando ele entrou, eu disquei o número da minha casa e esperei alguém atender, o que demorou a acontecer.
- Alô? – a voz de quem atendeu estava bem sonolenta.
- Quem é?
- Quer falar com quem? – eu não identifiquei quem estava do outro lado da linha.
- Com você mesmo – eu ri. – Quem é? Aqui é o Caio!
- Caio!!! – ele exclamou. – Sou eu, o Fabrício!
- E aí, dorminhoco? Tudo bom?
- Tudo e você? Já chegou?
- Já sim, já estou até instalado no hotel.
- E é legal o hotel?
- Muito bacana! Lindo demais, muito show de bola mesmo.
- Tira umas fotos aí pra gente ver, hein?
- Estou sem câmera.
- Pede para um amigo tirar, não sei. Dá um jeito!
- Pode deixar – eu ri. – Só liguei pra dar notícias. Vou desligar para não vir muita conta.
- Beleza, irmão! Se cuida, hein?
- Você também! Manda notícias aí pro Vini e Rodrigo e fala que está tudo em ordem por aqui.
- Pode deixar! Um abraço, cara.
- Outro, mano. Até mais.
- Tchau!
- Tchau!
Eu ia sentir saudades do Fabrício...
- Já? – Gabriel perguntou.
- Já sim, era só pra dar notícias mesmo. Obrigado!
- Sempre que quiser usar é só falar, beleza?
- Pode deixar. Obrigado!
- Já instalei a internet – ele falou. – Anotei a senha em um bloco de notas que salvei na sua área de trabalho, beleza?
- Uhum. Obrigado.
- Posso ver site de sacanagem? – ele abriu um sorriso imenso.
Engoli em seco. Será que ele estava falando sério?
- Por mim – dei de ombros. – Sem problemas.
- Opa, valeu. Sabe como é, né? 21 dias... Não conheço a cidade... Vou ter que usar muito a minha mão nesse tempo – ele abriu outro sorriso.
- Entendo – dei uma risada sem graça. – Sei como é.
- Ainda bem que você é parceiro. Se você não tivesse ficado no quarto comigo, eu não teria tanta intimidade assim com o outro cara. Por isso eu quis ficar com você.
- Eu sei, também queria ficar com você.
- Porque querendo ou não, a gente já tem um pouco mais de intimidade, já se conhece... Se fosse com outra pessoa, eu ficaria totalmente travado.
- Sei como é.
Pulei de costas na minha cama, tirei a colcha que estava forrada, me cobri e me aninhei de uma forma bem confortável.
- Acho que já vou dormir... Cansei.
- Já vou também, só vou terminar de responder meus recados do Orkut.
- Viciado.
- Pior que sou mesmo, hein? Não consigo viver sem.
- Eu vivo numa boa!
- Eu não.
- Boa noite.
- Boa noite, Caio. Dorme bem!
- Obrigado – eu bocejei, fechei meus olhos e rapidamente adormeci e mergulhei em um sono profundo e muito, muito tranquilo mesmo.

BrunoOnde histórias criam vida. Descubra agora