Capítulo 40

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Sem forças pra mais nada, eu deixei o meu corpo cair sobra a cama e soltei um suspiro longo e profundo.
- Esse será nosso segredo – eu concordei por fim.
- Ótimo. Eu vou tomar um banho e quando voltar quero ver o meu quarto arrumado, beleza?
- Hã? – eu achei estranho.
Vinícius deu um pulo da cama e foi até o guarda-roupa.
- Levanta logo daí e limpa essa sujeira, antes que o Fabrício volte.
Eu pensei que o autoritarismo seria só durante o sexo...
- Não vai me ajudar? – perguntei.
- Não. Arruma isso logo!
Ele abriu a porta do quarto e a encostou quando passou. Eu achei aquela atitude um tanto quanto estranha...
Sem pensar muito, acabei fazendo o que ele pediu. Limpei o meu corpo com a minha camiseta, tirei os edredons e levei tudo para a máquina. Ouvi o barulho da água caindo dentro do banheiro e senti uma vontade enorme de entrar para fazer um 2º round, mas eu sabia que aquilo seria impossível...
Aos poucos a minha ficha foi caindo. Que tipo de pessoa eu era? O que eu tinha feito com o Vinícius? O que seria de nossa amizade daquele momento em diante?
Se antes de cair nos seus braços eu estava preocupado com o Léo, daquele momento em diante a minha preocupação triplicou porque eu estava com dois problemões e não sabia qual seria o resultado daquelas situações...
Deixei a máquina no processo de lavagem correto e voltei até o quarto do cara. O cheiro de sexo estava forte no ar e eu fiquei mais uma vez matando cachorro à grito!
Eu não sabia o que pensar: por um lado, eu estava me sentindo realizado. Até então aquela tinha sido a melhor transa que já tinha acontecido – com excessão da minha primeira vez com o Bruno, é claro – e por outro lado, eu estava preocupado com o que iria acontecer dali em diante...
Limpei o quarto como pude e quando ele voltou, as camas já estavam no lugar e com lençois limpos. Vinícius não olhou diretamente no meu rosto, abriu o guarda-roupa,colocou desodorante e disse:
- Já pode sair do meu quarto.
- Oi? – eu ainda não tinha nem me vestido.
- Já pode sair do meu quarto!
Eu não respondi nada e me aproximei. Tudo o que havia acontecido entre nós tinha sido magnífico, mas para a minha tarde se tornar completamente perfeita, faltava um pequeno detalhe: um beijo.
- O que você está tentando fazer? – ele se afastou quando eu tentei beijá-lo. – Está louco?
- Mas... – eu tentei me explicar.
- Não vou beijar você, não sou viado – ele recuou dois passos. – Já dei o que você queria, agora vai embora!
Eu senti uma dor instantânea na minha cabeça e à partir daquele momento, eu tive plena certeza que o nosso relacionamento nunca mais seria o mesmo.
- Vinícius...
- Vaza do meu quarto que eu quero dormir em paz!
Ele me deu um tapinha nas costas e abriu a porta do quarto. Eu não sabia mais como andar.
Antes de deixar as lágrimas do arrependimento caírem, eu saí rapidamente dos aposentos do meu colega de república e em seguida, ouvi a porta sendo fechada e a chave sendo girada na fechadura. Que burrada eu tinha feito!!!
Antes de chegar na cozinha eu já estava aos prantos. Eu não podia ter feito aquilo. Definitivamente não podia ter feito aquilo. Como eu tinha sido... Burro, idiota, imprudente, inconsequente e irracional...
Eu tinha me deixado levar pelo desejo e no fim das contas, acabei com uma amizade que nem ao menos tinha se consolidado!
Entrei no banheiro, tranquei a porta e me enfiei debaixo da água quente. Minha cabeça estava a mil por hora e eu não sabia como podia sair daquela situação!
Ah, se eu pudesse voltar no tempo! Por que os adolescentes têm que ser tão precipitados? Por que eu tinha que ter cedido ao tesão e ter feito aquela besteira???
A minha vida estava de pernas pro ar em todos os sentidos possíveis. Embora eu já estivesse estabilizado financeiramente, emocionalmente acontecia justamente o contrário...
Traído pelo namorado e pelo melhor amigo... Apaixonado por um garoto problemático e mentiroso e envolvido com um colega de república que provavelmente não iria nem olhar mais na minha cara depois do que havíamos feito!
É, eu não estava mesmo em uma maré de sorte. Eu me perguntei o que tinha feito de errado para a vida me castigar daquela forma.
Por que todas as coisas que eu fazia tinham que dar errado? Por que nada na minha vida ia para frente? Por que eu estava condenado a ser infeliz???
Eu estava sentindo vontade de morrer. Eu tinha acabado com a minha vida! Talvez fosse até exagero de minha parte pensar tudo aquilo, mas não passavam outras coisas pela minha cabeça...
Depois que desliguei o chuveiro, fui rapidamente até o quarto, coloquei a primeira muda de roupa que consegui encontrar e em seguida, saí de casa sem um rumo pré-definido.
A única coisa que eu queria e necessitava naquele momento era sair daquela casa e ficar sozinho.
O mar. Sim, aquela seria a minha melhor companhia...
Atravessei a rua rapidamente e ainda com as lágrimas escorrendo, desci a avenida e só parei quando ouvi o barulho das ondas.
Não sei quanto tempo fiquei andando, a única coisa que eu tinha certeza era que eu não conhecia aquela praia.
Era tão ou mais bonita quanto Ipanema e Copacabana, porém com suas particularidades. Eu sentei na beira da água e fiquei com os olhos literalmente no horizonte. Parecia que a água e o céu estavam se tocando e eu já não sabia diferenciar o quê era o quê.
A preocupação era tamanha que em meu corpo não havia espaço para cansaço e tampouco lugar para o sono.
Eu estava com o coração aflito, a cabeça doendo e sem coragem para mais nada. Um vazaio enorme tomou conta do meu ser. Eu nunca tinha sentido tanto arrependimento como naquele momento.
Chorei, chorei e chorei mais um pouco. Parece que chorar era a única coisa que acalentava a minha alma e também parecia que eu só conseguia fazer aquilo.
Lágrimas e mais lágrimas molharam o meu rosto e o colarinho da minha camiseta laranja. Por que eu tinha de ser tão imoral daquele jeito?
Foi a primeira vez que eu senti nojo de mim mesmo. Eu senti nojo por ser tão sacana, senti nojo por ser tão sujo, senti nojo por ser tão baixo a ponto de ter me entregado ao Vinícius sem nem ao menos ter pensado no que iria acontecer depois daquela foda. Eu estava com nojo da minha vida, com nojo da minha imagem, com nojo do meu corpo, com nojo da minha moral, com nojo dos meus pensamentos, com nojo de ter nascido. Eu estava com nojo de ser gay.
Como se já não bastasse todos os problemas que eu estava sendo obrigado a enfrentar, sem mais nem menos a minha bunda começou a doer e aquilo me deixou tão incomodado ao ponto de ter que me levantar do chão para a dor amenizar.
Foi nesse momento que eu senti ainda mais nojo de tudo o que eu tinha feito. Por que eu não nasci hetero? Por que eu não podia ser um cara normal e gostar de garotas como os meninos da república?
Por que eu tive que nascer desse jeito? Por que eu tive que vir ao mundo com essa predestinação? Por que aquilo tinha que acontecer logo comigo?
Em todos aqueles anos em que eu sabia o que era, talvez aquele tenha sido o primeiro momento em que eu tenha me feito tantos questionamentos.
Tirei meus chinelos e comecei a andar na beira do mar. As ondas vinham e envolviam os meus tornozelos e de vez em quando, chegavam até os meus joelhos.
Sujo. Eu estava me sentindo sujo e queria tomar um banho. Um banho que lavasse a meu corpo e que lavasse a minha alma. Um banho que tirasse toda aquela impureza, toda a imoralidade, toda a servegonhice e toda a imundice que tomava conta de mim.
Se eu pudesse escolher, eu não queria mais ser gay. Será que aquilo era possível? Será que ainda existia a possibilidade de voltar atrás em minhas escolhas e levar uma vida normal como qualquer adolescente da minha idade? Será que eu podis me tornar um heterossexual?
Seria muito melhor. Seria até perfeito. Se eu virasse um hetero, eu ia poder voltar para a minha casa e voltar para o seio da minha família...
Quanta besteira! É claro que aquilo não era possível. Ninguém escolhe ser gay. Não é uma condição. A gente nasce assim e não tem como lutar contra o que somos!
Eu estava delirando, só podia. Eram tantos problemas rondando a minha cucuruta que eu tinha uma leve sensação que a qualquer momento, eu ia entrar em parafuso.
A cada passo que eu dava, sentia uma fisgada esquisita no meio das minhas nádegas. Será que tinha acontecido alguma coisa comigo? Será que eu estava...
Que vergonha! Que vergonha eu ia passar todas as vezes que encontrasse com o Vinícius na república... E se ele falasse pros outros meninos? O que seria da minha vida?
Quanto desespero eu estava sentindo. Nem o barulho das ondas estava conseguindo me deixar mais calmo. Parecia que eu estava em um beco escuro e sem saída.
A noite começou a cair aos poucos e quando eu não consegui mais reunir forças para continuar andando, resolvi me sentar de novo na areia para tentar achar uma solução para a minha vida.
Senti um pouco de dor, mas não tão forte como antes. Será que era normal? Quando eu transei com o Bruno, não senti nada de anormal...
Eu abracei os meus joelhos e respirei fundo. Não sei se era possível, mas parecia que o vazio que tomava conta de mim aumentava a cada segundo que passava. Eu estava me sentindo sozinho e abandonado.
Em um breve recuar de uma onda que molhou os meus pés, eu ouvi o barulho de um choro que não era meu.
Eu virei a minha cabeça no sentido daquele barulho e quando vi aquele garoto inconfundível sentado a poucos metros de distância, meu estômago deu um giro e meu coração ficou gelado. O que ele estaria fazendo ali? E por que ele estaria chorando?
Não consegui me controlar e sem nem pansar duas vezes, fui atrás das respostas que eu tanto precisava:
- Bruno? – chamei.
Ele levantou a cabeça. Seus olhos estavam muito brilhantes e as lágrimas escorriam pelo rosto de anjo. Quando ele me avistou e nossos olhos se encontraram, não consegui me controlar e fui ao seu encontro.
- Caio? – a voz dele estava muito rouca.
Eu deixei o meu corpo tombar ao seu lado e não liguei mais para a dor que estava sentindo. A única coisa que eu precisava naquele momento era de um abraço. De um abraço do meu amor impossível. Eu precisava de um abraço do Bruno.

BrunoOnde histórias criam vida. Descubra agora