Capítulo 35

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Dormi direto até às 19:45. Estava me sentindo renovado, porém quando me levantei, dei um grito de dor. Parecia que eu tinha sido atropelado, tamanha as dores nas minhas pernas.
Com dificuldade, arrastei as minhas pernas até o banheiro e tomei outro banho. Como estava sozinho, não me importei em pegar roupas e trancar a porta.
Vinícius já tinha ido pra faculdade. A casa era unicamente minha e eu podia fazer o que quisesse, mas não tinha muito tempo para aprontar nada.
Coloquei uma roupa limpa, arrumei a minha mochila e me dirigi até a academia. Não queria deixar o Rodrigo me esperando, mas ao contrário do que acontecera no período da manhã, naquele momento eu me atrasei um pouco.
- Você está atrasado – ele me lembrou.
- Eu sei. Desculpa, amanhã eu saio mais cedo.
- Tá doendo as suas pernas?
- Demais... Parece até que eu fui atropelado.
- As minhas também doem, mas o que mais me incomda é a virilha. Tá doendo demais.
- É a minha também. É justamente o que incomoda.
- Tenso, tenso, tenso. Não vejo a hora de acostumar com essa academia, viu?
- Somos dois. E as novidades lá na empresa?
- Preciso te contar uma coisa: o Leonardo está falando mal de você pra todo mundo.
- O que ele está falando dessa vez? – já comecei a me irritar.
- Disse que você traiu o Bruno e que ele te pegou na cama com outro. É mole?
O sangue subiu pra minha cabeça.
- Eu preciso dar uma surra nesse desgraçado!!!
- Você não vai chegar a lugar nenhum fazendo isso. É melhor você esquecer tudo o que está acontecendo.
- Você fala isso porque não é com você.
- E o que você pretende fazer então?
- Não sei, mas eu preciso fazer alguma coisa. Eu queria acabar com a raça dele... Me ajuda a pensar em alguma coisa?
- Tô fora!!! Não quero me meter nessa briga nem que me paguem...
- Muito obrigado, amigo da onça.
- Disponha.
Rodrigo e eu nos trocamos e procuramos o personal, que estava mais gato que nunca com uma baby look branca. Durante todo o treino, eu fiquei pensando no que o Rodrigo tinha falado. Eu precisava colocar um ponto final nas brincadeirinhas idiotas do Leonardo, antes que sobrasse pra mim.

NO DIA SEGUINTE...

- Sua PA vai ser essa – Breno me mostrou onde eu ia sentar. Fiquei ao lado do Giovanni e perto da Aline, o que me deixou contente.
- Que bom, vai ficar pertinho de mim – ela sorriu.
- É. Vou pedir sua ajuda, posso?
- Claro.
Enquanto não caía ligações, eu estudei os procedimentos na apostila que o Breno tinha me fornecido e aos poucos, eu comecei a entender melhor o funcionamento daquele produto.
Por volta das 4:00, meu cérebro deu um clique. Como eu não tinha pensado naquilo antes?
Claro! O melhor jeito de me vingar do Léo, era contando aos pais dele que ele era gay, mas como eu ia fazer aquilo?
Eu precisava de provas. Eu tinha que dar um jeito de tirar uma foto comprometedora daquele garoto e entregar pros pais dele. Só não sabia como ia fazer aquilo.
- Pensa, Caio... Pensa, Caio...
- Falando sozinho, garoto? – Giovanni se espantou.
- Ah, liga não. É mania.
- Dizem que só os loucos falam sozinhos – ele comentou.
- Ainda não cheguei ao estágio máximo de loucura. Não se preocupe, sua vida não corre perigo.
- Estou aliviado – ele encostou no alambrado de ferro e fechou os olhos.
Como eu ia conseguir a prova da homossexualidade do Leonardo? Por mais que eu pensasse em alguma coisa, nada me ocorria. Acabei ficando com dor de cabeça de tanto refletir sobre o assunto.
- Bom dia, equipe – disse Breno. – Até amanhã, fiquem com Deus e obrigado pelo dia de hoje.
- Tchau, super – as meninas iam saindo e se despedindo.
- E aí, Caio? Como foi seu 1º dia na linha?
- Confuso, mas por sorte só caíram 5 ligações.
- É normalmente é nessa faixa mesmo. Logo você acostuma.
- Sim. A Aline me ajudou bastante.
- Ela é um amor. Bom dia, até mais tarde.
- Até, Breno. Bom dia.
Não sei se foi proposital ou pura coincidência, o fato é que assim que coloquei meus pés fora da empresa, meu celular começou a tocar.
- Número desconhecido? – estranhei. – Alô?
Esperei a pessoa responder, mas isso não aconteceu. A única coisa que eu conseguia ouvir era uma respiração e depois de alguns segundos, um longo suspiro.
- Alô? – repeti.
Nada de resposta. Quem seria?
- Alô? – insisti pela terceira e última vez, mas novamente não tive resposta.
Desliguei. Aquilo não era hora de passar trote para os outros. Fiquei irritado.
A vantagem de se trabalhar de madrugada, era pegar o metrô completamente vazio pela manhã. Isso acontecia porque eu ia sentido bairro, o mesmo não ocorria com quem estava indo sentido centro.
Cheguei na escola em cima da hora. O professor tinha acabado de entrar na sala.
- Bom dia – disse o homem, com cara de poucos amigos.
- E aí, mano? – cumprimentei o Rogério.
- Beleza, fera? – ele me olhou. Os olhos dele estavam mais claros ou era impressão minha?
- Bem e você?
- Bem.
- Vamos jogar uma bolinha domingo? – tomei a iniciativa e fiz o convite.
- Demorou. Que horas?
- De tarde. Lá pelas 4, 5 horas.
- Fechado. Passa lá em casa que a gente vai junto.
- Belezinha.
Ele virou e começou a prestar atenção na chamada. Meus olhos foram surpreendidos por um pano vermelho que estava saindo do cós da calça jeans do Rogério. Meu pau ficou duro na hora.
- Levanta a calça – sussurrei em seu ouvido.
- Não. Eu gosto assim – ele respondeu.
Mordi meu lábio. Então ele mostrava a cueca propositalmente?
Toda a minha atenção foi dispersada graças ao Rogério. É claro que ele não sabia que eu curtia a fruta, mas se ele continuasse deixando aquela cueca à mostra todos os dias, eu ia ser obrigado a mudar de lugar.
- Algum problema, Caio? – ele perguntou, depois do intervalo.
- Não, por quê?
- Parece inquieto.
- Ah, é o calor.
- Que calor? Nem tá fazendo sol hoje!
- E só por que não está fazendo sol eu não posso sentir calor?
- Pode, né?
- Então...
A professora de Educação Física entrou na sala e começou a chamada imediatamente. Ela parecia um sargento de tão brava que era.
Nós descemos até a quadra e começamos a jogar queimada. Um dos meus jogos favoritos, exceto quando eu era a vítima da bolada.
Fizemos times mistos, mas a diversão estava garantida quando era "guerra dos sexos". Meninas contra meninos. Naquele dia, o meu time perdeu.
- Você tem razão – ele estava suado. – Está mesmo fazendo calor.
- Não falei?
- Se eu pudesse tirar essa camiseta...
Eu já estava bastante habituado com a cultura do Rio de Janeiro. Já estava pra lá de acostumado em ver rapazes sem camisa dentro dos ônibus, metrô e no meio da rua. Comportamento totalmente atípico da cidade de São Paulo.
- Vontade de tomar um banho de mangueira – ouvi uma menina comentar com uma amiga.
- Vamos pra praia? – a outra perguntou.
- Vamos, mas primeiro eu preciso ir em casa pegar meu biquíni.
- Já imaginou essa delicinha de biquíni? – Rogério sibilou entre os dentes.
- Já – menti.
- Que delícia que deve ser...
- Verdade.
Delícia seria vê-lo de sunga. Aquilo que seria delicioso. Eu não sei qual é a graça de ver as mulheres de biquíni.
A última aula foi livre e devido a este acontecimento, tive a oportunidade de chegar em casa mais cedo.
- Já chegou? – Rodrigo e eu nos encontramos no portão.
- A última aula foi vaga e eu saí mais cedo.
- Ah, entendi.
- Que cara é essa?
Ele parecia estressado.
- Um trabalho monstro na faculdade. Preciso entregar segunda já. Acho que hoje eu nem vou dormir.
- Que dó – fiquei comovido. – Que pena, sinto muito.
- Paciência. Ossos do ofício. E tá só começando.
- Verdade.
- Posso usar o notebook à noite?
- Deve. Fica à vontade, cara.
- Valeu. Você é um amigão.
Ele passou o braço pelo meu ombro e me abraçou. O perfume do Rodrigo invadiu minhas narinas e eu suspirei. Ele era muito cheiroso.
Quando coloquei a cabeça no travesseiro e fechei os olhos para dormir, meu celular começou a tocar. Novamente se tratava de um número desconhecido.
- Alô? – atendi.
Silêncio absoluto.
- Alô? – repeti, já sem paciência.
Mais uma vez ouvi um suspiro longo e profundo. Quem seria?
- Alô? Ah, vai pro inferno!!!
Desliguei o celular por completo. Não queria ser incomodado durante o meu sono, que transcorreu sem maiores transtornos.

BrunoOnde histórias criam vida. Descubra agora