Capítulo 75

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Fazia muito tempo que eu não sentia uma pele tão macia como a dele. Parecia até mão de mulher!
- O prazer é todo meu – eu abri um sorriso tímido e fiquei meio sem graça.
- Pelo jeito nós seremos colegas de trabalho, né?
- Acho que sim – dei risada.
- O que será que a Duda quer com a gente? – ele coçou a nuca.
- Não sei, mas se ela chamou é porque deve ser importante.
- Verdade.
- Bom, eu vou nessa. Não posso ficar esperando aqui o resto da manhã.
- Eu também não, mas não tenho muita alternativa. Acho que na verdade eu vou voltar para casa e vir mais tarde.
- Eu vou dar um rolê no shopping e depois eu volto aqui.
- Também é uma boa opção. Bom, a gente se vê então.
- Sim. Desculpa mais uma vez pelo empurrão.
- Imagina, não tem problema não.
Os nossos olhos se encontraram novamente. Como ele tinha um olhar penetrante, meu Deus!
- Então até mais – ele se virou, mas não parou de me olhar.
- Até mais...
Enquanto ele andava, eu não desviei meus olhos um segundo sequer e só consegui sair do lugar quando ele desapareceu de vista. Que carinha interessante...
Já totalmente de volta ao meu corpo e novamente no controle das minhas emoções, lembrei que não podia ficar parado na porta da loja e resolvi mais uma vez visitar os meus amigos no meu antigo emprego. Eu só estava torcendo para o Ivan não ficar me enchendo a paciência.
- Fica calmo que ele não está aqui – disse Alexia. – Parece que teve um problema em uma filial e ele foi cobrir outro gerente.
- E quem está aqui com vocês?
- A loja está sem gerente mesmo.
- Que loucura... Não pode... Isso vai gerar um problemão.
- Fazer o quê?
- E aí, decidiu se vai lá na loja entregar o currículo?
- Já entreguei, gato. O Gabo e eu fomos juntos ontem à noite.
- Arrasaram, mas onde fizeram o currículo?
- Aqui na loja mesmo. A gente aproveitou o horário de janta do Ivan e mandamos ver.
- Aí sim, hein? Gostei de ver!!!
- Já tenho entrevista amanhã. A do Gabo é hoje à tarde.
- As coisas estão acontecendo rápido demais para o meu gosto.
- Também acho. Mudanças, mudanças e mais mudanças.
- Nossa – eu ouvi uma voz conhecida se aproximar. – Bem que eu estava sentindo cheiro de cocô de vaca por perto.
Eu senti vontade de dar um murro na cara do Lucas, mas me controlei e não me dei ao trabalho de responder àquela provação.
- Vamos sair daqui? – falei. – O ar está fedendo a pena de galinha queimada.
Alexia não se controlou e caiu na gargalhada.
- Você não existe mesmo.
- Ah, faça-me o favor! Nunca me dei bem com essa bicha malcomida.
- Nossa, que horror! – ela riu de novo.
- Mas não é? Esse moleque anda sempre de mal-humor, nunca vi. Não gosto dele.
- Ninguém gosta. Só o Ivan.
- Ele deve dar pro Ivan, por isso não acontece nada com ele aqui na loja.
- Ai, Caio, só você mesmo.
- Sou sincero. Não aguento esse cara, mas deixa isso pra lá. Só passei para fazer uma visitinha mesmo. Onde estão os meninos?
- Todos no estoque. Hoje houve abastecimento e eles estão arrumando as coisas.
- Minha nossa, graças a Deus eu saí desse lugar.
- De tanto você falar na sua nova loja, eu estou com vontade de sair daqui também.
- É o melhor que você faz, vai por mim.
- Vamos ver se dá certo a entrevista.
- Vai dar sim, só ter fé. Já vou, flor. Já fiquei aqui tempo demais e se o Ivan sonha que eu fiquei conversando com você, ele come o seu fígado no almoço.
- Eu te ligo para contar se passei ou não.
- Ficarei no aguardo. Se você ligar e eu não estiver em casa, pede para quem atender anotar seu nome que eu ligo de volta.
- Fechou.
- Até mais, amor – dei dois beijos nas bochechas dela.
- Comporte-se.
- Você também.

Rodei aquele shopping até o horário do almoço, mas nada da Eduarda voltar. Que reunião era aquela que não acabava nunca?
Aproveitei que estava perto dos cinemas e dei uma conferida nos filmes que estavam em cartaz. Desde que eu tinha me mudado para o Rio, ainda não tinha ido ver um bom filme. Puro relaxo!
Como não tinha absolutamente nada para fazer e eu tinha uma graninha sobrando, me dei ao luxo de pegar uma sessão de um filme de ação que me parecia ser muito bom. Pelo menos eu tinha certeza que durante o tempo que eu estivesse no cinema, a Eduarda com certeza iria voltar para a loja. Ou será que ela ia demorar o dia todo?
Mas por sorte, as minhas suspeitas se confirmaram. Depois que eu saí da sala de cinema, fui direto para a loja e por sorte, encontrei com ela logo na entrada.
- Duda? – toquei no ombro dela de leve;
- Ah, oi Caio! – ela me cumprimentou com os tradicioneis beijinhos no rosto. – Tudo bem?
- Tudo e você?
- Bem também. Que bom que você veio.
- Aconteceu alguma coisa?
- Não, nada de anormal. Só preciso recolher sua assinatura para a disponibilização da passagem para você ir pro treinamento em São Paulo.
- Ah, sim. Eu já vim aqui duas vezes e você não estava.
- Me perdoa, meu querido. Eu fiquei presa em uma reunião com meu gerente.
- Tudo bem, não tem problema.
- Você pode esperar um momento? Só vou terminar de atender a um cliente e já falo com você?
- Posso sim, fica tranquila. Eu espero ali naquela cadeira...
- Isso, isso mesmo. Já volto.
- OK.
Passaram-se 10, 20, 30 minutos e nada da mulher aparecer. Quando eu estava quase criando coragem para levantar e ir embora para a minha casa, ela apareceu com a maior cara de pau e pediu para eu esperar só mais um pouquinho:
- Perdão, Caio. Estou toda enrolada aqui, mas já te atendo, viu?
- Uhum...
- Já volto.
Que falta me fazia um celular! Se eu tivesse um aparelho, poderia ter ficado jogando algum joguinho ou me comunicando com alguma pessoa. Eu estava começando a achar que estava mesmo na hora de comprar um aparelho novo.
- Caio? Você por aqui? – Gabriel apareceu do meu lado sem eu perceber que ele estava se aproximando.
- E aí, mano? Beleza?
- Tranquilo? – ele sorriu, apertou a minha mão e deu um tapinha no meu ombro. – O que faz aqui?
- Estou esperando para falar com minha gerente, mas ela está enrolada...
- A Eduarda?
- Isso. E você? O que veio fazer aqui? – me fiz de desentendido.
- Eu criei coragem, trouxe meu currículo e tenho uma entrevista marcada. Simples e fácil assim.
- Hum. Que ótimo que aceitou o meu conselho. Você não vai se arrepender.
- Assim espero, hein? Assim espero!
- Caio, obrigada por ter aguardado e me desculpa a demora – quando ela se aproximou, até suspirou de cansaço.
- Tudo bem, Eduarda. Não tem problema.
- Posso te ajudar, moço? – ela se dirigiu ao Gabriel.
- Pode sim, Eduarda. Eu sou o Gabriel, tenho uma entrevista agendada.
- Ah, é mesmo. Nem tinha me lembrado, me desculpa.
- Tudo bem.
- Então, Gabriel, você vai ficar muito bravo se eu pedir pra você voltar amanhã?
- Não – ele me pareceu ser sincero.
- É que hoje eu não tenho como te atender, de verdade... Me desculpa!
- Não tem o menor problema, eu até prefiro. Só me diga qual o horário que eu devo vir.
- Amanhã pela manhã, antes do shopping abrir. Por volta de umas 9 horas, pode ser?
- Combinadíssimo.
- Então estamos combinados. Obrigada pela sua gentileza e compreensão.
- Imagina. Até amanhã então.
- Até.
- Até mais, Caio.
- Falou, Gabo!
- Vocês se conhecem? – ela indagou.
- Aham. Nós trabalhávamos juntos na outra loja. Lembra que eu disse que iria falar para meus amigos trazerem os currículos?
- Ah, sim! Claro que lembro...
- Ele é um deles.
- E quem é o outro?
- Alexia.
- Ah, sim. Eu lembro do nome dela. Nome diferente, né?
- Uhum.
- Mas chega de enrolação que eu já te fiz perder tempo demais por hoje. Por favor, venha até a minha mesa.

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