Capítulo 55

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Meus olhos se perderam nos flashes de luz que tomaram conta do céu de Curitiba na chegada do ano novo.
Não sei explicar o motivo, só sei que de repente, senti uma necessidade muito grande de deixar o passado no próprio passado e de voltar a viver novamente.
2.006 já tinha ficado para trás e eu estava mais do que disposto a deixar o Bruno no ano que tinha morrido. Já estava mais do que na hora de voltar a pensar em mim, no meu bem estar e principalmente na minha felicidade.
Sim, o Bruno ia ficar no meu passado. Se ele não me queria, não seria eu que iria insistir e dar murro em ponta de faca.
Eu era jovem, tinha apenas 18 anos e uma vida inteira pela frente. Já me bastava a tentativa idiota de colocar um fim na minha vida e já me bastava todo aquele tempo que eu estava sofrendo por uma pessoa que não merecia o meu amor.
Era hora de mudar. Era hora de seguir em frente. Era hora de ousar e buscar novas oportunidades. Era hora de voltar a sonhar...
Era hora de voltar a trabalhar, de continuar os meus estudos, de conhecer novas pessoas e quem sabe, de conhecer um novo amor!
É claro! Um novo amor! Eu tinha todo o direito do mundo de ter um novo amor. Um novo e verdadeiro amor.
Alguém que me amasse pelo que eu era. Alguém que me amasse com minhas qualidades, mas também com meus defeitos.
Alguém que me amasse pela minha força, mas também pela minhas fraquesas.
Alguém que me amasse pelas minhas escolhas, mas também pelas minhas dúvidas.
Mas acima de tudo, alguém que soubesse me respeitar!
Respeitar minhas incertezas e meus momentos de dor. Respeitar minhas mágoas e frustrações. Respeitar minha vida, meus sentimentos, meu coração. Respeitar o meu amor...
- Feliz ano novo, Caio! – Rodrigo me deu um abraço de urso que fez o meu corpo capotar para trás. Quase caí no meio da rua.
- Quer me fazer cair, é?
- Seria uma boa ideia, quem sabe você bate a cabeça e volta ao normal?
- Idiota!
Ele deu risada.
- Feliz ano novo também, palhaço – eu disse.
- Não vou fazer um discurso daqueles chatos, só vou te desejar que você saia dessa depressão horrorosa. Só isso.
- Eu vou sair. Não sei por qual motivo, mas de repente senti uma força enorme tomar conta de mim. Eu não quero mais sofrer por causa do Bruno!
- Aleluia – ele ergueu as mãos pro céu. – Finalmente! Já não era sem tempo.
- O passado ficou no ano passado. Agora eu vou viver o presente e pensar no futuro!
- Deus seja louvado, faz é tempo que eu queria ouvir isso! Isso merece um brinde!!!
Rodrigo entrou em casa e enquanto ele não voltava, eu fiquei olhando a queima de fogos no céu de Curitiba. Não era nada comparado com a de Copa, mas ainda assim era perfeita.
- Um brinde – ele me entregou uma garrafa de Smirnoff. – A sua felicidade.
- A nossa felicidade – eu o corrigi.
Quem estava de fora podia jurar que nós éramos namorados, mas se eu tinha certeza de alguma coisa nessa vida, era que nunca iria rolar nada entre nós dois.
E assim o meu primeiro dia do ano foi passando. Nós ficamos na rua até por volta das 3 horas da manhã e quando entramos, cada um foi direto para o seu próprio quarto.
- Descansa bastante – Rodrigo me recomendou. – Por que agora a gente vai curtir as nossas férias!
- É tudo o que eu mais quero!
Meu amigo me deu outro abraço e depois se despediu de vez. Eu tive uma noite de sono tranquila e renovadora, como eu não tinha há meses. Parece que eu estava mesmo disposto a deixar o passado para trás.

Acordei com uma barulheira infernal. Eu tinha a impressão que a casa estava caindo, tamanho o barulho que as pessoas estavam fazendo no corredor.
- O que houve? – eu abri a porta enquanto coçava meu olho direito.
- A Marcelle vai ter neném – respondeu uma prima do meu amigo.
- Ah, bacana! Mas precisa dessa algazarra toda?
Os pais do meu amigo corriam de um lado para o outro sem parar. Eu me encostei na porta do quarto que ocupava e fiquei assistindo tudo de camarote.
- Cadê a bolsa? Cadê a bolsa? – o Juan perguntava, todo exarcebado.
- Calma, mano – o Rodrigo apareceu. – Já está no carro!
O futuro papai coçou a cabeça e desarrumou os cabelos. Eu não entendia o motivo de tanto desespero.
- Vamos, Juan! – o pai do Rodrigo puxou o genro pelo braço. – Senão seu filho vai nascer no carro.
Será que a coisa estava tão avançada daquele jeito? Eu dei um bocejo vagaroso e senti vontade de voltar pra cama.
- Vai pro hospital, Rodrigo? – indaguei.
- Vou sim, não quero perder o nascimento do meu sobrinho. Por quê?
- Não, por nada. Só para saber. Será que demora?
- Acho que não porque ela já está sentindo contração desde cedo. Quer ir também?
- Não. Acho que esse é um momento só para os familiares. Transmita as minhas felicitações aos pais, por favor.
- Pode deixar. Fica à vontade enquanto eu não voltar, tá bom?
- Valeu, cara.
Eu não me fiz de rogado. Assim que a barulheira acalmou, fechei a porta e voltei pra cama, que estava muito convidativa.

BrunoOnde histórias criam vida. Descubra agora