Capítulo 53

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Rodrigo só podia estar louco!
- Como assim em 2 horas? – eu fiquei sem saber o que fazer.
- 2 horas – meu amigo repetiu. – E eu acho bom você se apressar senão a gente vai chegar atrasado no aeroporto!
- Meu, você só pode estar doido! Nem me pergunta se eu quero ir e vai comprando uma passagem assim do nada?
- Você não tem que querer nada, Caio. Já comprei e agora você vai e não se fala mais nisso! Vai arrumar as suas malas, por favor!
- Nâo vou não. Eu não quero ir e você não pode me obrigar.
- Não vai? Tudo bem, eu arrumo então.
Ele me deixou falando sozinho e foi até o nosso quarto.
- Espera aí, Rodrigo...
- Não quero nem saber – ele estava com a voz totalmente autoritária. – Você vai e eu não vou falar mais nisso.
- Não gostei disso. Não gostei mesmo! Acho que eu tenho direito de escolher aonde quero ir e com quem quero ir... Você não pode simplesmente tomar uma decisão dessas por mim.
- Nas circunstâncias atuais você não tem muita escolha, mano. Ou você acha que vai ficar aqui nessa casa, sozinho, sem nenhum amigo, sem nenhuma companhia, sem nenhum familiar...? De jeito nenhum. Eu só quero te ajudar, já parou pra pensar nisso?
Eu estava bravo e não parei pra pensar em nada. Ele não tinha o direito de decidir por mim, não tinha!
- Ficou calado, né? – Rodrigo riu. – Vai tomar um banho, se arrumar e para de ser criança. Você vai adorar a minha cidade!
Contra a minha vontade, separei uma roupa qualquer e fui até o banheiro para tomar banho. Enquanto lavava o meu corpo, pesei os prós e os contras daquela viagem de última hora e acabei ficando um pouco menos reativo. Ele não estava totalmente errado, mas poderia ter me consultado primeiro.
Antes de sair, nós desligamos a água e a eletricidade e verificamos se estava tudo em ordem pela república. Eu não sabia quantos dias iríamos ficar longe daquele lugar.
- Quantos dias vamos ficar lá? – perguntei com a voz um pouco rabugenta.
- No mínimo 20.
- VINTE? – me espantei. – Tá doido?
- O que você acha? Acha que eu vou perder a oportunidade de ficar perto da minha família?
Não respondi nada. Se antes eu já não queria ir, à partir daquele momento eu senti vontade de desfazer aquela mala e me enfurnar dentro do meu quarto para não sair de lá tão cedo.
- Vamos? – ele perguntou.
- Não quero, mas não tenho escolha mesmo.
- Para de reclamar, hein? Para de reclamar! Pegou seus remédios?
- Não.
- Isso! Parabéns! Como é que o tratamento vai dar certo desse jeito? Onde eles estão?
Revirei meus olhos, respirei bem fundo e disse:
- No criado mudo do nosso quarto, Rodrigo. No criado mudo!
Ele andou rapidamente até os nossos aposentos e voltou com a sacola dos remédios em mãos.
- Agora sim, vamos! Já estamos um pouco atrasados.
Assim que coloquei os meus pés na calçada foi que parei para pensar. Como ele poderia viajar? E como ficaria no trabalho?
- Estou de férias, Caio – ele me contou.
- Desde quando? – me surpreendi.
- Desde hoje.
- Não sabia. Você não me falou nada.
- E você conversa comigo por acaso? Vive trancado no quarto, não quer saber de ninguém!
- Já falei que tenho meus motivos.
- Isso é bem relativo, né?
- Julgar é fácil, né? Queria ver se você estivesse no meu lugar.
- Se eu estivesse no seu lugar, já teria superado, dado a volta por cima e provavelmente já estaria com outra pessoa.
- Duvido!
- Não duvide, porque eu não costumo viver de passado, ao contrário de você.
- Hoje você está insuportável, Rodrigo – fechei a cara. – Insuportável!
- Só estou falando a verdade. Não vou passar a mão na sua cabeça, por mais que você seja meu amigo.
- Nem sei porquê você quer me levar nessa viagem. Eu não sou uma boa companhia mesmo.
- Não se faça de vítima, pelo amor de Deus. Odeio pessoas que se fazem de coitadinhas.
- Então por que você tá me levando? Me deixa ficar aqui, vai ser muito melhor!
- Porque eu... eu prefiro ouvir seus resmungos o mês todo ao invés de te ver dentro de um caixão! Seu idiota, nunca que eu ia te deixar sozinho aqui nessa cidade! Eu não sou louco!
Fiquei calado. Eu não sabia se ele estava sendo bonzinho demais comigo, ou se fez aquilo por piedade.
- Táxi? – meu amigo esticou o braço e o carro reduziu a velocidade até parar.
- Vamos de táxi? – perguntei.
- Prefere ir a pé? – ele parecia estressado.
- Desculpa. Só foi um comentário.
- Aeroporto, por favor – ele disse ao motorista.

BrunoOnde histórias criam vida. Descubra agora