Capítulo 29

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Eu simplesmente não sabia o que fazer. Não sabia se saía do quarto e ia embora, não sabia se chorava ou se me entregava à minha dor.
Eles estavam assustados e com a fisionomia séria. Minhas mãos começaram a tremer e involuntariamente, uma lágrima desceu pelo lado esquerdo do meu rosto.
- Caio, a gente pode explicar – Leonardo se aproximou e tentou segurar em meu braço.
- CALA A BOCA – eu não sei o que deu em mim, mas quando percebi, a minha mão já estava ardendo e ele já estava com o rosto virado. Sim, eu havia batido no rosto do meu "melhor amigo".
Bruno ficou horrorizado e sem reação. Eu podia esperar tudo deles. Tudo mesmo, menos aquilo.
Ele não esboçou reação. Talvez estivesse com vergonha ou não tivesse processado o que tinha acontecido. O fato é que quando ele voltou a olhar nos meus olhos, eu dei outro tapa, mas do outro lado do rosto.
- VOCÊ É UM FILHO DA PUTA – eu berrei. Estava revoltado e com ódio daquele idiota. – QUE ESPÉCIE DE AMIGO É VOCÊ?
Ele me olhou com os olhos cerrados e os lábios unidos. Estava com a face repleta de raiva. Eu nunca tinha visto o Leonardo daquele jeito.
- Isso não vai ficar assim – ele sibilou entre os dentes e tentou revidar as agressões, mas eu fui mais rápido e segurei sua mão antes que ela encostasse no meu rosto.
- Não – eu falei. Minha voz tremia. – Você não tem o direito de me bater depois do que você fez comigo... Você não tem o direito!!!
Não sei de onde eu tirei forças e como eu pude ser capaz de fazer aquilo, mas mais uma vez eu bati na cara daquele desgraçado. Cada tapa que eu dava, a minha mão ardia, mais, porém eu não estava me importando com aquilo.
- Para com isso, Caio... – disse Bruno, aos prantos. – Eu posso explicar...
- EXPLICAR O QUÊ? NÃO ESTÁ CLARO O SUFICIENTE? JÁ NÃO BASTA A VERGONHA QUE VOCÊ, QUE VOCÊS ME FIZERAM PASSAR? AINDA QUEREM TACAR NA MINHA CARA O QUE FIZERAM?
Eu me afastei do nojento do Leonardo, mas ele foi atrás de mim com tudo e deu um soco nas minhas costas, o que me deixou sem ar.
- BATE DE NOVO, FILHO DA PUTA. BATE NA MINHA CARA DE NOVO PRA VOCÊ VER O QUE VAI ACONTECER! – ele gritou.
Eu tossi e recuperei o ar.
Nós nos fuzilamos com os olhos. Eu fechei meu pulso e estava pronto para o que viesse, mas o Bruno segurou o Leonardo pelos ombros e ficou entre nós dois.
- NÃO BATE NELE, LÉO – ele gritou.
- VAI CONTINUAR DEFENDENDO ESSE...? – ele esbravejou.
- ESSE O QUÊ? – eu gritei com todas as minhas forças. – FALA LEONARDO. COMPLETA A SUA FRASE!!!
- ESSE IDIOTA – ele soltou.
- Tá aí – comecei a aplaudí-lo. – Pela primeira vez na vida você falou alguma coisa certa. Eu sou mesmo um idiota. Idiota por ter acreditado em você. Em vocês... Idiota por não ter percebido o tipo de gente que vocês são... Parabéns Leonardo. Você está certo. Eu sou mesmo um idiota...
- Caio, por favor, me deixa te explicar – o Bruno pediu.
- Não, Bruno. Você não tem nada que explicar. Eu já vi tudo. Já entendi tudo. Não se dê ao trabalho de gastar saliva com o inexplicável.
Eu estava tremendo da cabeça aos pés. Minha garganta estava seca e meu rosto molhado. Eu não queria chorar na frente deles, mas não consegui segurar.
- Façam bom proveito um do outro – eu falei. – Vocês se merecem. Duas cobras, dois nojentos, dois traidores...
Eu comecei a soluçar de tanta dor. Como eles tinham sido capazes? Como?
- Caio... – Bruno tentou me abraçar.
- NÃO ENCOSTA EM MIM!!! – eu dei um pulo pra trás,
- Por favor... – ele estava com os olhos irreconhecíveis. Estavam vermelhos e com olheiras. Eu nunca os tinha visto daquela forma antes.
Bruno se aproximou de mim e eu senti um cheiro irreconhecível de cigarro, mas não parecia um cigarro comum. Tinha algo diferente naquele cheiro de fumaça, mas eu não estava conseguindo identificar o que era.
- Deixa ele, Bruno – falou Leonardo. – Já que ele descobriu não tem mais o que esconder.
- CALA A BOCA, SEU IDIOTA – Bitch gritou. – SOME DO MEU QUARTO, SOME DA MINHA CASA, SOME DA MINHA VIDA!!!
Ele não respondeu nada. Eu sequei as lágrimas e saí do quarto. Não queria mais ver a cara deles um segundo sequer.
- CAIO, ESPERA – ele foi atrás de mim e segurou na minha camiseta, entretanto, eu me soltei e continuei andando. – Por favor, pelo amor de Deus, me deixa te explicar...
- ME DEIXA EM PAZ!!! VAI FICAR COM SEU AMANTE E ME DEIXA EM PAZ, PELO AMOR DE DEUS... – que dor enorme eu estava sentindo.
Eu abri a porta da sala e fui pra garagem, mas ele insistiu em me acompanhar e se pôs na minha frente.
- Por favor, me ouve...
Nossos olhos se encontraram e aquilo só fez o meu peito sangrar ainda mais. Como eu ia ser capaz de viver sem aqueles olhos azuis?
- Eu não queria... Eu não queria fazer isso... Eu juro...
- MAS VOCÊ FEZ. VOCÊ FEZ, BRUNO, VOCÊ FEZ!!!
- Ele que veio atrás de mim, amor. Eu juro, eu juro por tudo o que há de mais sagrado que eu não fui atrás dele, ele que veio aqui na minha casa e me tentou... Ele...
- ME DEIXA EM PAZ, BRUNO – eu senti muita vontade de dar um empurrão para ele sair da minha frente, mas eu não consegui. Não consegui ferí-lo.
Ele estava muito nervoso e chorava compulsivamente. O garoto tentou me abraçar, mas eu desviei o meu corpo e abri o portão para sair pra rua.
- Não vai embora, por favor... ME OUVE, CAIO!
- JÁ DISSE PRA VOCÊ ME DEIXAR EM PAZ!
Não sei qual dos dois estava chorando mais. Eu fechei o portão comecei a correr, mas não fui muito longe. Como a casa dele era a segunda da rua, eu virei a esquina, encostei no muro e deixei o meu corpo escorregar até o chão. Minhas pernas não obedeciam mais meus comandos.
- CAIO – ouvi ele gritar e soluçar em seguida.
De que adiantava me chamar depois de tudo o que eu vi? De que adiantava tentar colocar panos quentes em cima de tudo o que eu fui obrigado a presenciar?
Meu coração doía tanto que eu não conseguia panesar em mais nada, só no que os meus olhos tinham visto no quarto do Bruno.
Traído. Duplamente traído. Traído pela pessoa que eu mais amava no mundo e pelo meu melhor amigo, ou melhor, por aquele que eu pensava ser meu melhor amigo...
Eu abracei os meus joelhos e deixei as lágrimas caírem, não me importando com as pessoas que estavam passando pela rua.
- VOCÊ ACABOU COM A MINHA VIDA, FILHO DA PUTA – ouvi ele berrar no quarto.
Quem tinha acabado com a minha vida era ele. Ele e o Leonardo. Como eu tinha sido idiota em ter acreditado nos dois...
- SOME DAQUI. VAI EMBORA. DESAPARECE, EU NUNCA MAIS QUERO TE VER NA MINHA FRENTE – ele gritava.
Eu ouvi barulho de alguma coisa quebrando e me levantei. Eu não era obrigado a ficar ouvindo a discussão do casalzinho. Mesmo sem ter muita coragem, eu voltei a andar, mas ao invés de ir para a estação de metrô, eu desci pra praia. Precisava ver o mar o quanto antes.
Quando eu atravessei a rua, o Leonardo saiu da casa da avó do Bruno. Eu apressei o passo, mas depois de poucos minutos, ele me alcançou, me puxou pelo braço e disse:
- Se você pensa que isso vai ficar assim, você está muito enganado.
- ME SOLTA, LEONARDO.
- Não, eu não vou te soltar. Você vai me ouvir...
Os olhos dele também estavam vermelhos e a marca dos meus dedos era evidente nas maçãs de seu rosto.
- ME SOLTA – eu gritei e puxei o meu braço, mas ele apertou a mão na minha pele e começou a me machucar.
- Eu vou fazer você me pagar pelos tapaz que você me deu, está me ouvindo? Isso não vai ficar barato!!! Vou fazer você se arrepender do dia em que nasceu!!!

BrunoOnde histórias criam vida. Descubra agora