Capítulo 65

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Acho que de tanto desejar que o Vítor fosse para o inferno, quem acabou tendo um dia infernal fui eu.
- Já fez o que eu te pedi, Caio? – perguntou Ivan.
- Já sim – respondi com um suspiro.
- Ótimo.
- Hoje ele está impossível, não? – Janaína comentou quando o nosso chefe se afastou.
- Impossível? Hoje ele está endemoniado! – reclamei com raiva.
- Credo, menino!
- Que saudades da Sabrina!
- Hum...
- Ainda bem que meu expediente acaba em 3 minutos. Nem vou atender mais ninguém hoje.
- Isso aí!!!
Antes do chato aparecer na minha cola, me despedi da minha nova amiga e fui quase que correndo até o vestiário.
- Calma, homem! Aonde vai com tanta pressa? – Gabriel insistiu em me enxer a paciência.
- Embora. Você não vai não?
- Quero fazer extra hoje. Por que não fica também?
- Nem que me paguem um milhão. Aqui não fico nem mais um segundo. Já chega tudo o que eu tive que passar hoje.
- Exagerado!
- Você fala isso porquê não foi com você. Queria ver se o Ivan tivesse ficado na sua cola o dia todo!
- Isso não passa de teste. Você precisa aprender a trabalhar sob pressão. Você é um vendedor, meu filho. Tem que bater meta, tem que gerar lucro! Eu acho bom você ir se acostumando porque a tendência é só piorar.
- Pior do que está não fica!
- Eu não teria tanta certeza se fosse você! – Gabriel foi tão enfático que eu senti até um frio na barriga.
Será que ia piorar mesmo? Será que o Ivan estava testando a minha paciência para ver qual era meu limite?
- Já que você não vai ficar, a gente se fala amanhã – ele deu um tapinha amigável nas minhas costas e começou a andar. – Pensa em suas reações. Eu sei o que estou falando!
- Obrigado pela dica. Prometo que vou me acalmar. Desculpa qualquer coisa.
- Não fica grilado. Eu te entendo. Fica com Deus.
- Amém, você também.
Não demorei nem mais meio minuto na empresa. Tudo o que eu queria e precisava era da minha cama, do meu lar e dos meus amigos.
Eu necessitava esquecer tudo o que havia acontecido naquele dia. E que dia!

Assim que cheguei em casa, tratei de ir logo atrás de notícis do Fabrício. Será que ele tinha melhorado?
- Estou bem sim – ele me garantiu, mas seu estado ainda não era dos melhores.
- Vai trabalhar amanhã?
- Tenho que ir, né? Só estou atestado hoje...
- O Ivan não gostou muito de você ter faltado não...
- É? O que ele falou?
- Que você é absenteísta e blá, blá, blá – eu revirei meus olhos em desaprovação.
- Deixa que com ele depois eu me entendo!
Hoje ele fez um inferno naquela loja. Não me deixou em paz um segundo sequer.
- Deve ser teste. Relaxa e faz a sua parte.
- O Gabo também acha que ele está me testando.
- Deve estar sim, como você não tem muita experiência, ele quer ver até onde você é capaz de chegar...
- Será que é isso?
- Acho que sim. Não se preocupa e esquece um pouco do trabalho.
- Verdade. Eu vou é dormir que ganho mais...
- Já? Muito cedo!
Pior que ele tinha razão. Estava cedo demais para ir pra cama.
- Vou ver a novela!
- Tem que ver é jogo, não é porra de novela não...
- Cada um com seus gostos.
Eu nunca tinha falado da minha orientação sexual com o Fabrício, mas algo me dizia que no fundo, bem no fundo, ele já sabia da verdade. Só não queria comentar.
Será que o Rodrigo ou o Vinícius tinham falado alguma coisa com ele?
- Que cara é essa? – Vini sentou ao meu lado e me enforcou de brincadeira.
- Cansaço – eu estava mesmo cansado.
- Vendo novela, Caio? Que coisa chata!
- É o que tem pra hoje.
O cara estava gostoso como sempre, mas daquela vez não estava apenas de cueca, o que me deixou muito desapontado.
- Vai deixar eu tomar posse do controle ou está difícil? – ele jogou um olhar severo pra cima de mim.
- Difícil. Eu cheguei primeiro e quero ver o final da novela. Não torra!
- Me respeita que eu sou mais velho que você!
- Foda-se.
- Como é, menino? – ele deu risada e me prensou contra o braço do sofá.
- Isso mesmo que você ouviu, seu mandão! Nem vem que não tem.
- Ultimamente você me tem saído melhor do que encomenda, viu?
- Sempre fui assim, você que não percebia.
- Está colocando as unhas de fora, hein?
- Até parece!
- Brincadeira, fedelhinho. Fica aí com sua novela, eu vou jogar no computador!
- À vontade.
Vini bagunçou meu cabelo e saiu sem falar mais nada.
Menos de 10 minutos depois, Rodrigo apareceu na sala, todo suado e cheio de areia nos pés.
- Estava na praia? – perguntei.
- Aham. Fui correr um pouco no calçadão.
- Bacana.
- Tira dessa merda, meu. Coloca em um filme, sei lá.
- Até você?! Eu quero assistir "Páginas da Vida". Será que posso?
- Cada gosto, viu? Vou pro banho, você pode trazer uma roupa pra mim?
- Não. Vai pegar você.
- É que vai sujar o chão, Caio...
- Depois você varre.
- O que custa, Caio?
- Ai que chato! Eu pego essa porra, Inferno!
- Estúpido.
- Chato!
Ele saiu e eu fiquei preso nas cenas da novela. Quase esqueci de pegar a cueca do meu melhor amigo.
- CADÊ, CAIO? – ele berrou lá do banheiro.
- JÁ VAI!
- PEGA UMA TOALHA LIMPA, POR FAVOR?
- Folgado! – resmunguei mais para mim mesmo, mas acabei atendendo a solicitação. – Pronto!
Eu estiquei o braço e ele pegou a toalha e a cueca.
- Valeu, mano. Você é demais!
- Eu sei, eu sei...
- E modesto também.

BrunoOnde histórias criam vida. Descubra agora