Capítulo 37

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Os lindos olhos azuis do garoto que eu tanto amava estavam irritados e inchados.
Sem mais nem menos eu senti a mão dele cair sobre a minha e fiquei sem reação. O que eu deveria fazer, meu Deus?
- Acredita em mim – ele secou as lágrimas. – É tudo verdade.
- Tudo bem, Bruno. Eu acredito em você.
- Jura? – a voz dele parecia um silvo de um pássaro recém-nascido.
- Eu não posso te julgar e não tenho porquê desconfiar do que você está me falando...
- Então você me perdoa? – ele foi se alegrando aos poucos.
- Um padre que eu conheço me disse recentemente que "pedoar é divino"... Por mais que eu esteja magoado com as suas atitudes, guardar rancor não vai me levar a lugar nenhum. Eu te desculpo.
- Você é demais – ele não se conteve e me abraçou.
O impacto do abraço do Bruno foi tão forte que não consegui me segurar e caí de costas na areia da praia.
- Desculpa – ele tentou se ajeitar e nossos lábios ficaram a centímetros de distância.
Eu abri a boca para falar alguma coisa, mas não consegui dizer nada. Naquele momento eu esqueci onde estava e fiquei entregue ao sentimento. O amor que eu sentia pelo Bruno...
Meus olhos voaram para a boca dele e eu senti seu hálito tocar o meu rosto. Eu queria aquele beijo, mas eu sabia que ele era proibido. O meu perdão não significava que eu ia aceitar namorar com ele de novo.
Mas foi inevitável. Quando me dei conta, nossos lábios já estavam unidos em um beijo silencioso. Se eu não tivesse empurrado o corpo dele para trás, não sei por quanto tempo teria ficado naquela situação.
- Não – eu sentei e balancei a minha cabeça. – Isso não pode acontecer.
- Por que não? – ele estava sério, mas ainda triste.
- Porque eu não quero voltar com você. Eu não quero e não posso voltar com você.
- Por favor, Caio... Me dá uma segunda oportunidade...
- Eu te perdoei. Te perdoo do fundo do meu coração, não vou mais ficar tocando nesse assunto e vou passar uma borracha em tudo o que aconteceu, mas voltar não.
Ele ficou calado e eu comecei a tirar a areia do meu cabelo, que demorou a ficar limpo novamente.
- Tudo bem – Bruno falou. – Eu vou respeitar sua decisão.
- Obrigado. É melhor assim, acredite.
- Mesm te amando como nunca amei ninguém, eu vou respeitar a sua decisão.
- Eu também te amo, mas os meus princípios estão falando mais alto neste momento.
- Tudo bem. Tudo bem. Só de você me perdoar eu já fico muito aliviado, de verdade.
- Perdoo, mas é só o que posso fazer.
- Tudo bem. Eu vou saber esperar o momento certo para te reconquistar...
- Não teria esperanças se fosse você.
- É como diz aquele velho ditado: a esperança é a última que morre!
- Eu insisto que não tenha esperanças. A minha decisão é definitiva.
- Vamos dar tempo ao tempo?
- O tempo é o melhor remédio para as dores do coração.
- É verdade. Podemos pelo menos ser amigos?
- Podemos – eu concordei. – É muito difícil ficar longe de você.
- É difícil pra mim também, Caio. Esses foram os piores dias da minha vida.
- Não tanto quanto os meus, pode ter certeza.
O mar estava ficando agitado e eu olhei no relógio do meu celular. Já passava da meia noite.
- Minha nossa, eu preciso ir... Que tarde!
Bruno também olhou a hora e concordou com o que eu disse.
- Está tarde mesmo, mas eu acho que agiora não tem mais matrô...
- Eu vou de ônibus...
- Posso te pedir uma coisa? – ele ainda estava sério, mas eu não sabia se estava triste ou feliz.
- Pode.
- Vamos ficar aqui até o amanhecer?
- O quê? Está louco?
- Por favor? Me dá esse presente?
- Mas é perigoso...
- Não é não... A praia está cheia de gente...
- Não sei...
- Por favor... Eu te peço, me dá esse presente! Vamos ver o amanhecer juntos...
Eu nunca havia visto o amanhecer na praia.
- Não sei, não – eu estava com um pouco de medo.
- Confia em mim, nada vai te acontecer.
- Como você pode ter tanta certeza assim?
- Porque nós não estamos sozinhos. Deus está aqui com a gente.
Por que ele estava dizendo aquelas coisas?
- Fica? – ele segurou na minha mão novamente.
Suspirei e não consegui resistir ao pedido.
- Tudo bem eu fico. Vou aproveitar a minha folga.
- Ah, é verdade. Você trabalha de madrugada agora, né?
- Sim.
- E como é?
- É chato porque a hora demora a passar, mas é bacana porque a equipe é muito legal.
- Hum... A gente não vai mais se ver na empresa...
- Pois é. Esse foi um dos motivos que me fizeram aceitar a proposta.
- Você não queria mais me ver?
- Não. Eu só aceitei o seu convite para você parar de insistir – confessei. – Eu não queria te ver nunca mais.
Ele fez uma carinha de cachorro sem dono e voltou a fitar o oceano.
- Te entendo – Bruno suspirou.
- Mas tudo bem. O que passou, passou. Deixa lá atrás e vamos seguir em frente.
- Nós vamos construir uma linda amizade, eu te prometo.
- Tomara.
- Prometo que sim. Eu gosto muito de você. Eu te amo...
- Eu também. Preferia que não amasse tanto assim, mas não mando em meu coração.
- Ninguém manda no coração, Caio.
- Infelizmente.
- Você tem falado com o Leonardo?
- Não. Deus me livre. Ele sim eu nunca mais quero falar...
- Eu também não. Por causa dele a gente se separou. Se não fosse por ele, nada disso teria acontecido e nós estaríamos felizes.
- Sem querer ser chato, mas a culpa também é sua. Não jogue a responsabilidade só nas costas do Leonardo porque você sabe que você também é culpado.
Eu nem sei porquê eu estava falando com ele ainda. Talvez eu estivesse sendo um completo burro e idiota, mas o meu coração mandava eu fazer aquilo.
- Vamos deixar esse idiota pra lá – ele comentou.
- É melhor.
Por mais que tivéssemos feito as pazes, o clima entre nós não era mais o mesmo. Eu tinha perdoado o que ele tinha feito, mas não conseguia esquecer. Ia ser muito difícil passar uma borracha no passado ainda mais quando ele estava tão perto da minha vida.

BrunoOnde histórias criam vida. Descubra agora