Capítulo 57

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Depois de deixar tudo arrumado, tanto o Rogério, quanto eu caímos exaustos na cama.
- Cansou, né parceiro?
- Cansei demais...
- Vou dormir que depois dessa eu fiquei exausto...
- Te cansei, foi? – eu brinquei.
- Cansou, puto. Cansou sim.
- E você nem viu nada!
Bem que eu queria continuar provocando o Rogério, mas o sono falou mais alto e rapidamente eu adormeci e só acordei depois da hora do almoço.
- Dormiu bem? – ele perguntou.
- Ainda estou com sono – confessei.
- Então dorme mais, ué.
- Não posso. Preciso voltar para casa.
- Já? Não vai nem almoçar comigo?
- Acho que não, Rogério. Eu quero ir pra minha casa, deitar na minha cama e colocar os meus pensamentos em ordem.
- Que pensamentos? É sobre o que aconteceu entre nós dois?
- Não. Não fica encucado com isso. Só foi sexo e nunca mais vai acontecer.
- Que bom que nós pensamos da mesma forma.
- Sim. Fica tranquilo que eu não vou me apaixonar por você não. Pode continuar levando essa vidinha hétero que você tem.
- Você me deixou bem mais aliviado agora – ele sorriu.
- Que bom...

- Isso são horas de chegar em casa? – perguntou Rodrigo.
- E qual o problema?
- Todos! Quando for assim me avisa para eu não ficar preocupado!
- Desse jeito parece até que você é meu pai, Rodrigo! Eu sou maior de idade, vacinado e posso sair de casa a hora que eu quiser.
- Beleza. A gente se preocupa e você vem com quatro pedras na mão. Vou me lembrar disso.
Revirei meus olhos e deixei meu corpo cair em cima da minha cama.
- Você por acaso não viu o bilhete que deixei na porta?
- Vi, mas mesmo assim fiquei preocupado.
- Desculpa, pai. Não faço mais isso, tá? – brinquei.
- Acho bom! – ele sorriu. – Posso fazer uma pergunta?
- Diga? – autorizei.
- Quando você pretende procurar um emprego?
- Em breve. Muito em breve. Já está mais do que na hora.
- Que bom que você reconhece. Tipo, não é querendo me passar por chato, mas faz tempo que você não ajuda, né? E eu não tenho tanto dinheiro assim, sabe?
- Eu sei, parceiro – fiquei com vergonha. – Prometo que amanhã mesmo eu vou correr atrás disso.
- Que bom. É assim que se fala!
É claro que o Rodrigo estava certo. Desde que o meu contrato como menor aprendiz havia acabado, eu não trabalhei mais e definitivamente não tinha como ficar vivendo às custas dos meus amigos. Eu 'precisava de um emprego urgentemente.
Acredito que eu não tenha visto o tempo passar enquanto estava com depressão. Já havia passado mais de 4 meses e eu ainda não tinha feito praticamente nada para dar a volta por cima...
- Sabe o que eu esqueci de fazer nas férias? – Rodrigo indagou.
- O quê?
- Esqueci de pedir um notebook pro meu pai...
- Ah, é. Você havia comentado que ia pedir um de presente.
- Pois é. Esqueci. Maior mancada.
- Pode usar o meu, eu quase não uso mesmo!
- Pois é! E você era louco por um e agora nem usa mais. Que relaxo...
- As circunstâncias me impedem.
- Nada te impede. Você não usa porque não quer!
Eu odiava quando ele dava uma de gostosão para cima de mim.
- Odeio quando você dá uma de sabichão pra cima de mim, Rodrigo. Odeio...
- Não é questão de ser sabichão, é a verdade.
- Nem parece que você tem 21 anos, parece que tem 80! Haja saco.
- Isso se chama maturidade, coisa que você não tem!
- Vai ficar tacando isso na minha cara até quando?
- Até você aprender a viver, o que eu espero que não demore muito.
- Na boa? Vou te deixar com sua chatice e vou fazer alguma coisa de interessante. Com licença!
Eu saí do quarto sem nem pensar duas vezes. Não é que eu quisesse ser melhor que o Rodrigo, mas ele às vezes me irritava bastante com aquelas lições de moral que me dava. Eu ficava irritado.
- Que cara é essa? – perguntou Fabrício quando eu sentei no sofá da sala.
- Nada não, guri. Deixa pra lá!
- Só quero ajudar...
- Nada contigo, relaxa. E obrigado pela intenção.
- O vídeo-game do Ricardo está fazendo falta, né?
- Sinto falta é do meu – confessei.
- Hum...
- Mas você pode jogar pelo computador, não pode?
- Ah, sei lá. Não é a mesma coisa.
- Saquei.
- Como foi a viagem lá para Curitiba City?
- No começo eu não gostei, mas depois eu curti. Lá é muito legal e a família do Rodrigo é muito bacana. E você? Como foi o final de ano?
- Bom demais. Passei ao lado da minha família, só por isso já valeu muito.
- Que bom. Passou rápido. Nem dá pra acreditar que já estamos quase em fevereiro!
- Pois é, pois é. Daqui uns dias começam as aulas de novo...
- Coragem! Ainda bem que eu já passei dessa fase.
- Passou por enquanto, né? Ainda tem faculdade pela frente. Ou você não vai querer fazer?
- Vou sim. Quer dizer, eu acho que sim. Nunca parei pra pensar seriamente no assunto. Não sei nem o que eu quero fazer!
- Um teste vocacional é bacana. Eu fiz um quando tinha a sua idade.
- Você fala como se isso tivesse acontecido há mil anos – dei risada.
- Nós temos 7 anos de diferença, moleque. Você ainda é um pivete se for comparado comigo!
- Pivete não, hein?
- Pivete sim. Maior pivetão! – ele brincou.
- Qual é? Só porquê eu acabei de completar 18 anos e você já está chegando nos 30?
- Aí também não, hein? Eu só tenho 25. Quase 26.
- Ah, é? Quando é seu aniversário?
- Dia 26 agora.
- Hum, pertinho já... Então a gente têm 8 anos de diferença, não 7.
- Aham. E no outro dia é o do Vini!
- Sério? Caralho, que coincidência.
- Né?
- E pra completar, vocês ainda têm a mesma idade, né?
- Uhum.
- Da hora.
- Estão falando de mim ou é impressão minha? – o gostosão apareceu na sala de repente.
Não tive como controlar os meus olhos. Eles percorreram todo aquele corpo escultural em uma fração de segundos. Como Vinícius estava lindo!
- Eu estava falando que o nosso aniversário está chegando – explicou Fabrício.
- Ah, pode crer. Mais uma primavera!
Ele sentou ao meu lado e eu senti um perfume novo e diferente invadir o meu nariz. Além de lindo e gostoso, ele estava pra lá de cheiroso!
- Que perfume é esse? – perguntou Fabrício. – É novo, não é?
- Ganhei de presente de uma amiga.
- Amiga? – o companheiro de quarto duvidou. – Amiga? Aham, sei!
- É amiga mesmo, idiota. Gostou do cheiro?
- Da hora. Qual é?
Ele disse o nome, mas eu não lembro qual é.
- Hum...
- Que foi, Caio? – Vinícius me cutucou no ombro. – Por que está tão calado?
- Pensando na morte da bezerra.
- Não vai voltar a ficar deprê de novo não, né?
- Deus me livre! Agora eu estou bem e sei que isso não vai acontecer de novo.
- É o que a gente espera – o futuro médico finalizou.
- Hora de voltar a viver, hein? – Fabrício se meteu.
- Certeza! Amanhã mesmo já vou procurar um emprego.
- E o que você vai buscar?
- Sei lá. Nas condições que eu me encontro, aceito qualquer coisa.
- Acho que eu posso te dar uma forcinha!
- Sério, Fabrício? Como?
- Lá na loja estão precisando de vendedores. Toparia?
- Qual a chance de não topar? Quando eu começo?
- Calma, seu apressado – ele riu. – Não é assim que as coisas funcionam! Primeiro tem que fazer os testes e entrevistas.
- Demorou. Só me falar quando.
- Amanhã mesmo a gente pode ver isso daí. Quando eu for trabalhar, você vai comigo e eu te apresento pro gerente, beleza?
- Combinadíssimo! Valeu pela ajuda.
- Disponha!

BrunoOnde histórias criam vida. Descubra agora