Capítulo 41

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Eu oassei meus braços pelo pescoço daquele garoto e ele por sua vez me recebeu com um abraço apertado e caloroso.
- Eu quero morrer, Caio – ele disse no meu ouvido enquanto soluçava.
Se fosse só ele...
- O que aconteceu, Bruno?
Só o que ele conseguia fazer era chorar. Chorar muito mais do que eu. O que será que tinha acontecido para ele estar daquela forma?
- O que aconteceu, Bruno? – eu repeti a pergunta.
Vendo que ele não era capaz de responder, eu esqueci todas as minhas lamentações e tentei saber o que ele estava passando. Algo de muito sério havia acontecido. Será que ele também havia sido expulso de casa?
- Se você não me falar o que está acontecendo eu vou pirar – o desespero começou a tomar conta do meu corpo.
- Na-nada – ele gaguejou. – Não é nada.
- Não é nada porra nenhuma! O que é que está acontecendo com você?
- Nada...
- Fala, Bruno! Por favor, fala o que está acontecendo!
- Eu... Eu não... Eu não tenho... Eu não tenho coragem!
- Aconteceu alguma coisa na sua casa? Seus pais brigaram com você?
- Também, mas não é isso...
- E o que é então?
- Eu não quero falar sobre isso, pode ser?
Ele foi se acalmando e o choro foi sumindo, mas eu estava sentindo algo muito errado com ele.
- Tem certeza?
- Eu... Eu acabei descobrindo que o meu pai na verdade é meu irmão...
Ele deu um suspiro longo e profundo e abaixou a cabeça. Bitch parecia muito entristecido.
- Seu irmão? – achei estranho.
- Sim.
Pausa. Ele respirou fundo umas três vezes seguidas e quando ficou totalmente recuperado, continuou:
- Eu sou filho do cara que eu pensava ser meu avô!
- Hã? Como assim?
- Eu sou o filho que meu avô, aliás, meu pai teve fora do casamento.
- Desculpa, não estou entendendo!
- Eu sou o filho bastardo do meu avô. Eu não sou fruto do casamento de não sei quantos anos que ele teve com minha avó. Sou fruto de uma traição! Será que você me entendeu agora?
De repente ele ficou enfurecido e deu um soco na areia. Eu não sabia o que falar.
- Eu...
- Quando eu nasci a minha mãe não me quis e me deixou na casa dos meus avós, mas minha vó não me aceitou e meus pais acabaram me adotando.
Era uma história meio louca que nem parecia verdadeira, mas ele estava falando sério. A única coisa que me deixava confuso naquele momento era o avô que na verdade era pai e o pai que na verdade era irmão.
- Não sei nem o que te dizer, Bruno. Eu sinto muito!
- Não se preocupe. Não precisa me confortar em nada, até mesmo porquê você não me parece estar em condições de fazer isso.
Suspirei. Eu não estava mesmo.
- Aconteceu alguma coisa com você? – ele me perguntou.
- Não – eu menti. Eu não ia falar o que tinha acontecido com o Vinícius.
- Então por que estava chorando tanto?
- Porque estou me sentindo fraco. Só isso.
Não era de tudo mentira. Eu estava mesmo me sentindo fraco naquele momento.
- Hum... Imagino que sua vida não seja lá muito fácil.
Ele estava exalando cheiro de cigarro e aquilo me deixou enjoado.
- Pode ter certeza que não.
- Por que as coisas têm que ser desse jeito, Caio? Por que tudo tem que acontecer com a gente?
- Eu não sei – aquelas eram perguntas que eu não conseguia responder.
- Tudo cai nas minhas costas... Eu cresci ao lado de duas pessoas que eu pensava serem meus irmãos e na verdade são meus sobrinhos! Eu chamo meu irmão de pai e minha cunhada de mãe... A pessoa que eu mais amei em toda a minha vida não é meu avô e sim meu pai e a minha avó não é nada minha...
Ele só tinha esquecido de mencionar que tinha me traído, mas eu resolvi não tocar naquele assunto.
- Pelo menos você tem uma família – senti uma leve pontada de inveja.
Mesmo ele não sendo filho de sangue daqueles que sonsiderava seus pais, o Bruno estava cercado pela sua família. Eu não.
Há quase um ano eu não sabia o que era sentir um abraço dos meus pais. Eu estava sentindo falta até das brigas que tinha com meu irmão gêmeo.
Nada nessa vida supera o amor de uma família. E isso, apesar dos pesares, ele tinha. E eu? Não tinha absolutamente ninguém! Morava com 5 desconhecidos e em uma cidade que eu não conhecia direito. Ele não tinha tantos motivos para se lamentar, mas eu não tinha como julgá-lo pois não estava na sua pele para saber o que ele estava sentindo.
- É muito complicado sabe, Caio? Eu nunca senti tanta coisa ao mesmo tempo.
- Eu te entendo – comentei. – Também estão acontecendo muitas coisas comigo.
- A gente se parece tanto, não é?
- Uhum.
Nós nos parecíamos em alguns aspectos, porém em outros éramos totalmente diferentes. Eu não sabia até que ponto nós éramos parecidos e onde começavam as nossas diferenças.
- Acho que é por isso que eu gosto tanto de você – ele falou depois de um tempo.
- Gosta mesmo? – eu tinha minhas dúvidas.
- Gosto muito. Você não sabe o quanto eu queria estar ao seu lado agora.
- Você teve oportunidade e jogou fora – eu não me contive e tive que falar.
- Por favor, não vamos falar do passado?
- Não. Não vamos porque eu me comprometi em passar uma borracha em tudo que aconteceu.
- É, mas não é isso que você está fazendo.
- É difícil esquecer, sabia?
- Se você me desse uma segunda oportunidade, eu seria capaz de te fazer esquecer de tudo.
- Eu não vou te dar uma segunda oportunidade, eu já disse!
Ele ficou calado e eu resolvi não tocar mais no assunto. Alguns minutos depois, eu percebi que ele voltou a chorar e aquele choro tão desesperado não podia ser apenas pelo o que ele tinha me contado. O Bruno estava escondendo alguma coisa de mim.
- Bruno, você tem certeza que é só isso?
Ele não me respondeu. Eu já estava quase esquecendo tudo o que tinha acontecido com o Vinícius. A única coisa que eu conseguia prestar atenção naquele momento, era naquele garoto que eu tanto amava.
- Não é só isso, Bruno. Eu sei que não é! O que está acontecendo?
Ele me fitou com os olhos molhados e brilhantes. Eu sequei uma lágrima que ia cair e passei minha mão pelo seu rosto de anjo. Ele fechou os olhos e suspirou profundamente.
- Confia em mim – eu o encorajei.
Desde o primeiro dia em que o conheci, era a primeira vez que eu o via tão sério, embora estivesse chorando.
- Eu tenho algo muito sério para te contar.
Eu estava ficando realmente preocupado.
- O que foi? – perguntei, muito apreensivo.
Bruno ficou calado por um momento e não olhou diretamente nos meus olhos. Eu sabia que havia algo de errado com aquele gartoo e queria muito saber o que estava acontecendo.
- Eu posso estar com AIDS...


BrunoOnde histórias criam vida. Descubra agora