3 - A Entrevista

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Sr. Diário

Sei que eu sou uma mulher adulta e independente, agora, e que, portanto, deveria parar de escrever em você. Também não me esqueci da promessa de ser uma nova pessoa e apagar todas as lembranças ruins da minha vida passada. Porém, eu falhei miseravelmente, então volto a escrever, porque quando coloco meus sentimentos em palavras, passo a me sentir melhor.

Já se passaram duas semanas desde que a minha vida finalmente começou, e a sensação de ser livre é muito boa. No entanto, parece que há algo terrivelmente errado comigo, pois não consigo ser feliz. Estou tão quebrada e sinto que não há uma fagulha de vida em meu ser. Eu tento ser forte, mas o medo me ronda todos os dias, principalmente à noite.

As marcas continuam em meu corpo, fazendo-me lembrar todos os dias do inferno do qual escapei. Não quero mais ter pesadelos, não aguento mais sofrer e, principalmente, não quero mais sentir medo. Só desejo ser uma pessoa normal — pelo menos uma vez. Queria tanto ser amada por alguém... Até pensei em adotar um cachorro, mas perguntei para o seu Souza — o porteiro do prédio —, acontece que ele me disse que não é permitido animais nos apartamentos.

Hoje tive um pesadelo, aliás, todas as noites eu tenho sonhos ruins. Ele tinha me achado e me levado de volta para minha vida de sofrimento. Acordei berrando, chorando, e tremendo incontrolavelmente. Em seguida, fui ao banheiro e vomitei até as tripas. Quem eu quero enganar ao falar que agora estou vivendo? O que estou fazendo não é viver, é sobreviver!

Pensei em tirar minha vida novamente, assim como em todos os demais dias, mas você sabe que não tenho coragem, não quero ir para o inferno. Acabei de sair de lá e não desejo voltar. Então não se preocupe, pois eu continuarei aqui e te escreverei todos os dias.

A vida ainda não está bem, mas caminha para isso. Talvez eu nunca fique bem. Não sei se há a possibilidade de juntar todos os meus cacos e consertar minha ruína. Entretanto, permanecerei aqui, matando um leão por dia e gritando na cara da sociedade que, mesmo depois de uma existência de dor e sofrimento, eu sobrevivi. Eu sou uma guerreira, portanto, estou pronta para a luta.

Até breve, Sr. Diário.

Salua

Era manhã, eu sequer havia levantado da cama logo quando senti meu velho celular vibrar debaixo do travesseiro

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Era manhã, eu sequer havia levantado da cama logo quando senti meu velho celular vibrar debaixo do travesseiro. Ainda com os olhos os olhos fechados por conta do sono, tateei o colchão as cegas, mas finalmente encontrei o maldito aparelho que havia roubado minha paz. Sonolenta, atendi a ligação.

— Alô — minha voz soou rouca, pois mal havia acordado.

— Eu gostaria de falar com a Salua. — Ouvi a voz de uma mulher do outro lado da linha.

— Está falando com ela — resmunguei, sonolenta.

— Você deixou um currículo no Pub Renovare e estou te ligando para marcar uma entrevista.

Meu Querido Sr. Viking [REPOSTANDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora