28 - O Jantar

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>> D A V I D <<


Sabe aquele momento esquisito em que as pessoas permanecem em silêncio e ouve-se somente e o tilintar de talheres raspando nas porcelanas dos pratos? Infelizmente, em uma determinada noite, eu me encontrei bem no meio dele. Para o meu profundo desalento, eu estava sentado à familiar mesa de jantar da casa em que eu cresci, com Salua ao meu lado, e minha mãe ocupou o lugar da ponta, enquanto um homem de trinta anos, perfeitamente alinhado em seu terno grife, cujo cabelo e os olhos eram exatamente o mesmo tom que os meus; o homem que eu poderia chamar de meu irmão — ou de meu traidor—, tomava a cadeira a minha frente. O clima, naquela ocasião estava tão pesado, que ninguém ousou a pronunciar uma misera palavra. O som de mastigações e movimentos que ecoavam pelo ambiente silencioso, misturando-se com a tensão existente no ar.

— Sua noiva é muito bonita David. Parabéns! — meu irmão falou, porém eu o ignorei e permaneci olhando para meu prato.

— Obrigada! — Salua agradece, sem graça, depositando a mão direita em minha coxa.

Olhei-a de canto e logo percebi que ela está constrangida pela minha atitude a mesa.

Fingi que não notei nada incomum e todos continuamos a comer em silêncio.

— Parece que estou ficando para trás. — começou Luís. — Eu, como irmão mais velho, deveria casar primeiro. — Tentou mais uma vez conversar comigo, mas eu prossegui ignorando-o.

Simplesmente não aguentava mais ouvir sua voz. Detestava que ele estivesse fingindo que nada aconteceu, que estava tudo bem ele ter destruído meu sonho.

— Mas parece que ela finalmente fisgou seu coração. — Apontou para Salua, mantendo um leve sorriso no rosto.

Inesperadamente, levei minhas mãos à mesa e a empurrei bruscamente fazendo com que a cadeira arrastasse para trás. Estava pronto para socá-lo e tirar aquele sorriso do rosto dele, quando a minha noiva rapidamente interveio:

— Na verdade, o não fisguei. Eu o enfeiticei porque sou uma sereia!

E assim, do nada, o mundo parou por alguns instantes enquanto todos se olham estáticos, sem esboçar nenhum movimento. Logo depois, inevitavelmente começamos gargalhar sem parar. Eu rio tanto que lágrimas começam a sair dos meus olhos.

— Agora eu sei o porquê vai se casar com ela. Não dá para deixar uma sereia escapar! — Louis declarou em tom brincalhão.

Ao concluirmos o jantar, meu irmão pediu para falar comigo. Ainda que eu estivesse reticente em relação àquela aproximação, pensei em tudo que Salua havia me dito e decidi o seguir até o escritório que pertenceu ao nosso falecido pai.

Louis, um tanto inseguro, fechou a porta. Eu, calado, permaneci apoiado na grande mesa de madeira localizada no meio do cômodo. Meu irmão me lançou um olhar esperançoso, tirou um papel do bolso e me entregou.

— Essa foi a quantia que eu recebi pelo pub. Estou devolvendo a você. —Apontou para o cheque de valor exorbitante em meu nome.

— Não posso aceitar. — Tendei devolver o valor a ele. — Metade desse dinheiro é seu. Nós éramos sócios.

— Mas David. — começou com uma voz melancólica. — O pub era o seu sonho e eu o destruí. Acabei com tudo, não foi justo!

— Esse era nosso sonho. — rebati — Você destruiu o nosso sonho! E tu não faria isso se não tivesse doente.

— Por favor, irmão! Me perdoe. Se pudesse, eu voltaria no tempo e faria tudo diferente. — expressou em meio as lágrimas.

— Ainda bem que não pode. — declarei — Foi graças ao seu erro que encontrei a Salua. Se você não tivesse me traído, eu jamais teria conhecido a linda garota de olhos azuis que se considera uma sereia. Foi por sua causa que conheci a mulher para quem perdi meu coração. A mulher da minha vida. Então, eu te perdoo, pois não posso odiar a pessoa que foi responsável por eu tomar decisões que me levaram até ela. No fim das contas, do seu jeito errado, você foi meu cupido. — Ao terminar de falar, senti-me completamente leve, como se o fato de eu o ter perdoado, tivesse libertado a minha alma das últimas correntes de sofrimento.

Não havia magoa em meu coração, estava preparado para seguir em frente com minha vida; com a minha Salua.

Meu irmão se aproximou de de mim e me envolveu em um abraço apertado. Naquele noite, choramos nos braços um do outro. Voltamos a ser uma família e eu estava muito feliz.

— Tem mais uma coisa Luís. Como prova de que realmente te perdoei, eu quero que seja meu padrinho de casamento.

Os olhos do meu irmão se encheram de água e lágrimas voltaram a cair de seus olhos.

— É uma honra, irmão! Uma grande honra! — Abraçou-me novamente.

Quando voltamos à sala, deparei-me com minha mãe perguntando a Salua como ela deseja que seja a cerimônia.

— Quero algo simples, só para os amigos e família. E quero me casar na praia, com a brisa do vento envolvida pelo sal do mar batendo em meu rosto, jogando meus cabelos para trás, enquanto eu caminho em direção ao David, quando o Sol esteja estiver se pondo no céu. Não quero grandes celebrações ou multidões de pessoas nos assistindo, pois são poucas as pessoas que realmente se importam conosco. Desejo ter ao nosso lado apenas as pessoas que verdadeiramente torcem por nossa felicidade, isso é o suficiente para mim. — revelou, toda sonhadora, como se estivesse imaginando toda a cena na sua cabeça.

— Isso soa lindo, Salua! — Minha mãe expressou, segurando as mãos da minha noiva. — Não vejo a hora de conhecer sua família! — completou, fazendo eu arregalar os olhos em um pânico evidente.

Merda! Dona Dolores tinha que tocar naquele assunto?

Não tinha contado quase nada a minha mãe em relação vida da Salua. Aquilo, ao meu ver, tratava-se de algo é muito pessoal. Se um dia minha pequena quisesse se abrir com minha mãe, essa decisão caberia somente a ela e não a mim, eu somente a apoiaria em tudo, assim como sempre fiz.

— Na verdade... — Suspirou tristemente. — Eu não tenho família!

Minha mãe, um tanto confusa, abriu a boca para questionar aquela revelação, no entanto, eu rapidamente a lancei um olhar reprovador e ela compreendeu que aquele não é um assunto a ser abordado por ora.

— Corrigindo Salua. — Dona Dolores abriu um largo sorriso. — Você não tinha uma família, porque agora você passou a fazer parte da nossa. — Minha mãe abraça minha pequena, e naquele momento, notei o brilho das lágrimas surgindo em seus olhos azuis.

Meu irmão acabou se juntando as duas, evolvendo-as em um abraço afetuoso.

— É sereia... Você acaba de se tornar mais um membro da família Hoffmann. Melhor se acostumar!

E ali, ao ver vejo minha pequena chorando no meio daquele bolo de abraço, eu só consegui pensar no quanto Salua merecia ser feliz. Realmente, já não era mais capaz de viver sem ela.

— Será que vocês podem soltar minha noiva? — Enfiei-me no meio dos dois.

Ambos se afastaram, sorrindo, e eu puxei a sua mão da Salua, fazendo com que ela ficasse de pé. Rapidamente, envolvi o meu braço ao redor de seus ombros.

— Pequena, quero fazer amor com você. Agora. — cochichei em seu ouvido.

Salua me lançou um sorriso malicioso, antes de subir a escada correndo.

Sorrindo, disparei apressado atrás dela e logo ouvi meu irmão gritando atrás de mim:

— Não façam muito barulho! — advertiu, rindo. — Deus me livre ter de escutar minha cunhada gemendo.

— Então tape os ouvidos, Louis. Porque eu a farei gritar de prazer!

— David! — minha mãe repreendeu, fechando a cara.

Simplesmente ignorei os dois e voltei a subir os degraus.

E mais uma vez, assim como em todas as vezes, eu e Salua tocamos ao céu enquanto fazíamos amor. Eu estava preparado para passar todos os dias da minha vida ao seu lado e construir uma linda família. Para falar a verdade, eu mal via a hora de vê-la carregando nosso primeiro filho em sua barriga. Logo eu que sempre dizia que não queria me casar ou muito menos ter filho, estava desesperadamente desejando o contrário. E tudo culpa da pequena desastrada que dormia dormindo em meus braços.

Meu mundo era ela. Minha vida era dela, assim como todas as batidas do meu coração.

Porra! Eu a amava pra cacete.

Meu Querido Sr. Viking [REPOSTANDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora