32 - Bob Marley

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AVISO: o capítulo a seguir contém descrição de cenas de agressão infantil. Se você é sensível a esse tipo de conteúdo, se tais descrições podem despertar certos gatilhos em sua memória, sinta-se a vontade para não lê-lo. Eu, como autora, coloco-me à disposição para ouvir qualquer desabafo e ajudar na medida do possível. Minha caixa de mensagens sempre permanecerá as suas inteiras disposição. Se cuidem!

 Se cuidem!

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>> S A L U A <<

Nove anos atrás

Eu odeio as férias! Por que as aulas não podem continuar para sempre? Fiz essa pergunta a minha professora e ela respondeu que todos precisam de um tempo para descansar, que a vida não pode ser apenas trabalho ou estudo! "Mas eu não quero ficar presa em casa todos os dias!" disse, fazendo uma carinha de tristeza. Ela ficou preocupada, e me perguntou se havia algo de errado em minha casa. Eu queria falar que sim, que meu papai na verdade é um mostro que me bate quase todos os dias quando estou de férias, que ele me deixa passar fome e me tranca todas às noites em um quarto escuro e frio de um porão. Mas não digo nada, pois papai disse que ninguém acreditaria em uma criança de dez anos, e falou que, se eu abrisse minha maldita boca para falar mal dele a alguém, nós mudaríamos de cidade e ele me manteria presa dentro de um porão para sempre! Então, é melhor ter esse pequeno momento de liberdade, do que correr o risco de ser aprisionada. "Não professora, é só jeito de falar, eu só não posso brincar na rua." Respondi a ela.

Eu odeio essa cidade, odeio esse bairro, odeio essa rua, odeio essa casa amarela que parece aconchegante por fora, mas na verdade é um inferno!

Ao abrir a porta, dei de cara com o monstro que me olhou furioso, como de costume. Eu não tinha mais medo do seu olhar, não sentia mais nada por ele, além de ódio e eu era muito nova para odiar alguém. Não passava uma criança, não deveria conhecer aquele tipo de sentimento, só que, para mim, era algo é tão familiar. Odiava o meu pai tanto quanto ele sempre me odiou.

— Não fique aí parada feita uma estátua seu monstrinho, vá para o porão que é seu lugar! — cuspiu tais palavras cheia agressividade.

Eu simplesmente o ignorei, como sempre fazia e passei por ele sem olhá-lo.

— Você deveria me agradecer por eu deixar você ir para escola, sua mãe não tinha o privilégio de poder sair de casa! esbravejou entredentes.

Quase ri daquela ironia. Como se a ideia de me mandar para escola tivesse partido da cabeça dele. Como se ele tivesse decido que eu deveria estudar, porém, não foi exatamente o que aconteceu.

Em um determinado dia, nossa vizinha percebeu que eu não ia à escola como as demais crianças, pois sempre me via brincando sozinha no quintal no horário em que eu deveria estar estudando. Então, ela denunciou meu pai ao conselho tutelar, e ele, como a raposa esperta que sempre foi, alegou que havia perdido a esposa recentemente, e que, na correria do trabalho, esqueceu-se de me matricular. É claro que sua mentira funcionou, mas em contrapartida, ele não teve escolha a não ser me colocar na escola. Portanto, eu não devia agradecê-lo, quando só permitiu que eu saísse para estudar, por medo de descobrirem o monstro que realmente é.

Meu Querido Sr. Viking [REPOSTANDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora