Capítulo 21

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Hanna

Perdida em pensamentos não percebi as horas passarem. Desvio meu olhar e observo a luz da lua que, durante este tempo, avançou pelo chão do quarto traçando seu caminho até mim quase tocando meus pés. Ergo o olhar e encaro a imensa bola prateada que parece me chamar para fora, ela me atrai como um imã. Hipnotizada, levanto-me e caminho até a janela, sua luz sobre mim faz meu sangue pulsar mais rápido e forte.

Dor!

Curvo meu corpo e observo minhas mãos se contraírem contra o vidro, espasmos tomam conta de mim, ficando cada vez mais intensos. Um calor absurdo atravessa minhas veias como se fossem facas, caio de joelhos cortando o carpete com as unhas. Rastejo pelo chão tentando me afastar da luz, clamo por ajuda. Meu corpo parece quebrar em pedaços, a dor rasga minha garganta explodindo em minha boca. Grito, rosno, uivo. Minha consciência vem e vai.

O vidro estilhaça. Vento.

O chão passa rápido sob meus pés. Liberdade.

Salto sobre a murada do deck para as pedras abaixo. Força.

Meu corpo se alonga e fica mais ágil. Adaptação.

Sons e cheiros invadem meus sentidos. Instinto.

Corro por entre as arvores seguindo os rastros. Fome.

Algo está em fuga. Caça.

Um gosto metálico brinca em minha língua e o calor escorre por minha garganta. O coração para. Conquista.

Meus dentes cravam na carne macia e morna, o sabor é delicioso. Satisfação.

- Hanna!

Ergo a cabeça, o sangue escorre por minha boca e pinga no chão misturando-se a terra. Ouço com atenção as vozes ecoando na floresta, galhos partem sob os pés apressados, o cheiro do medo e da raiva invade minhas narinas. Estão atrás de mim. Rosno contrariada e corro, deixando para trás o meu premio.

Sigo rapidamente por entre as arvores buscando me afastar e me esconder na escuridão.

- Não vou voltar para ele! - meu pelo arrepia com a ideia de voltar.

- Hanna! Hanna! - posso ouvir o farfalhar das folhas e dos gravetos quebrando, são muitos e são rápidos.

- Tenho que correr mais... mais rápido. - consigo ouvir meu coração batendo descontroladamente.

- Hanna! - as vozes estão mais próximas e parecem vir de várias direções.

- Droga! Eles vão me pegar. - ofego, busco desesperadamente um caminho, um esconderijo - Não tem saída!

Posso ouvir os gritos dos meus perseguidores, acharam meu rastro.

- Não vou me entregar, não sem lutar, nem que eu tenha que matar.

Escondo-me por trás de uma arvore caída e espero.

Passos se aproximam, são dois, grandes, pelo cheiro são machos. Preparo meu corpo para o ataque.

- Calma... calma... Agora! - minha loba orienta.

Salto sobre um dos licantropos arrebentando sua garganta, seus uivos silenciam em meio ao gorgolejar do sangue. O outro cai sobre mim e rolamos pelo chão, mordo sua pata fazendo-o uivar, em seguida a dor de seus dentes cravando em meu ombro estoura em meu cérebro. O sangue mancha meu pelo. Vermelho e branco.

- Não a machuquem! Quero-a viva! - arfo. Ele está aqui.

Jogo o corpo do licantropo contra uma arvore deixando-o desorientado e encaro Lord Mac Cnáimhsí. Sinto meu corpo ficar maior, mais tenso, mais agressivo.

O Caminho - Clã Mac Mactíre - Livro 1.2 - ContinuaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora