Capítulo 17 - Tempo

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            Acordei melhor disposta, mas ainda sentindo um grande cansaço.

            - Você dormiu bastante filha.

            - Verdade mãe não conseguia manter os olhos abertos.

            - Provavelmente por não ter dormido nada à noite passada.

            Olhei para ela dei uma risadinha, mas não queria prolongar essa conversa, preciso tomar cuidado para não acabar, sem querer, comentando algo que a deixe desconfiada, não quero que minha mãe nem imagine o tipo de relação que tenho com ele, se bem que algumas vezes seria muito bom que ela soubesse de tudo e, além disso, que me compreendesse e apoiasse, mas sei que é uma utopia minha, um sonho.

            Amanhã eu começo meu trabalho na universidade, tenho que confessar que estou nervosa, ansiosa e até mesmo um pouco insegura, eu sei bem que todos já me conhecem por lá, que já demonstrei meu valor, mas a situação agora é outra não estou mais indo como uma aluna, agora eu sou uma pesquisadora, sei que esperam bem mais de mim.

            Estou um pouco mais tranquila em deixar minha mãe sozinha, parece que ela está começando uma amizade com a brasileira que trabalha no mercadinho aqui perto, tenho deixado ela ir fazer as compras do dia a dia por lá, da última vez eu fiquei preocupada com a demora dela, achei que poderia ter se perdido e fui atrás, a encontrei conversando animadamente.

            Como eu queria que minha mãe seguisse sua vida, tivesse mais independência, conhecesse mais pessoas, aprendesse a língua, talvez a necessidade a faça compreender que precisa, já concordou em ter aulas de inglês, mas sei que essa independência dela é algo ainda bem distante, ela não conseguiu cortar o cordão umbilical com a vida dela no Rio de Janeiro, muitas vezes eu a vejo num canto, olhar distante, sei que está com saudades do papai, eu também estou, mas sei que a falta é muito maior para ela, são sentimentos diferentes, nós duas sentimos falta e o amamos, mas de formas diferentes.

            Acordei várias vezes essa noite passada e custava a dormir, sei que é por conta da ansiedade do meu primeiro dia de trabalho, apesar de já ter estado por diversas vezes com meu Dono na presença de outros na universidade, sempre dá um frio na barriga.

            - Bom dia mãe. Achei que ainda estavas deitada.

            - Bom dia filha, está tudo prontinho, hoje é seu primeiro dia e preparei um bom café da manhã.

            - Obrigado mãe.

            - Sabe que não conversamos sobre se você vai almoçar em casa ou não. Fiquei na dúvida e eu preciso saber para estar com tudo pronto se você vier.

            - Mãe eu nem pensei nisso e não faço a menor ideia, mas não se preocupe, pelo menos no começo eu não vou me programar para almoçar em casa.

            - Está bem, vem comer vem.

            Vi que mamãe olhava para a minha gargantilha, para ela é uma gargantilha, assim como muitas outras vão identificar esse acessório, mas eu e meu Dono sabemos muito bem o que é e o que representa. Levei a mão até meu pescoço acariciei minha coleira e tomei entre os dedos o H, todos imaginam ser um H de Henriqueta, mas é um H de Hugo. Abri um sorriso.

           - É muito bonita filha, você fez uma bela escolha.

           - Foi Hugo quem escolheu e me deu de presente, uma surpresa encantadora que ele fez.

           Tomamos o café e conversamos sobre algumas coisas da casa, mamãe me disse que iria ao mercadinho, sei que ela não precisa comprar nada para hoje, sei que ela quer ir conversar um pouco, só espero que ela não atrapalhe o serviço da nova amiga dela.

Hugo & HenriquetaOnde histórias criam vida. Descubra agora