Capítulo 19 - Desculpa inventada

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            - Deixa eu ler mãe.

            Minha mão tremia - "Algumas poucas perguntas: Será que verás antes de qualquer pessoa? Como será quando souberem de tudo? Terás onde se proteger? Pense bem se quer mesmo correr mais esse risco. Esqueceu o que já aconteceu?" - tentei de todas as formas controlar minhas emoções, não podia deixar transparecer para minha mãe o que eu estava sentindo.

           - Mãe devem ter colocado errado por baixo da porta, é um convite de um menina para uma menina, para uma festa.

           - Mas filha eu vi um monte de pontos de interrogação, pelo menos isso eu entendi.

           - Não tem nada não, deve ser alguma brincadeira deles ou um código, mas como não tem nenhum nome nunca vamos saber quem mandou e nem para quem é. Pena que alguém vai ficar sem receber. Uma desculpa inventada na hora, não sei se uma desculpa esfarrapada, mas foi a única coisa que me veio à cabeça naquele momento.

         - É isso é verdade.

         - Mãe eu vou tomar um banho.

           Fechei a mão quase amassando todo o envelope e fui direto para meu quarto, não sei como consegui me controlar, eu tremia toda e minhas pernas estavam bambas, deixei minhas coisas sobre a cama peguei meu celular e fui para o banheiro. Abri a água e liguei para meu Dono. Chamou, chamou, chamou e ele não atendeu. Eu sabia que ele estaria na reunião, imaginava que estive com o seu aparelho silenciado ou desligado.

           Com a água aberta sentei no vaso e tentei pensar em tudo o que estava acontecendo, as palavras - "...Esqueceu o que já aconteceu?" - me deixaram em polvorosa. Ao que elas se referem? Meu ferimento a bala? A morte de meu pai? Algo acontecido aqui? Lembrei de meu retrato e vestido destruídos.

           Não sei quanto tempo fiquei ali sentada tentando entender, seguir uma linha de raciocínio plausível. Então ouvi batidas na porta.

           - Filha está tudo bem?

           Levei um susto, quase deixei o celular cair ao chão.

            - Está sim mãe estou acabando.

            - Olha vou sair, agora que eu vi que esqueci de comprar um tomate para a salada. Eu já volto.

            - Está bem mãe.

            Levantei do vaso, tirei a roupa olhei no espelho a cicatriz, todos os acontecimentos que me recordo daquele dia me vieram à mente. Estremeci toda ao lembrar do som da arma disparando. Foi um dia terrível aquele, nunca vou esquecer-me, tenho muitas coisas que nunca me farão esquecer. Tomei um banho rápido e quando estava fechando a água meu telefone toca.

            Olhei e vi que era ligação do Dono, deixei a toalha cair.

            - Oi Dono.

            - O que houve, algumas ligações sua. Está tudo bem? Sua mãe?

            - Está bem.

            - Se está tudo bem tinha razão para me ligar com tanta insistência? Sabendo que eu estaria em uma reunião, acabei saindo um pouco dela para poder te ligar.

            - Desculpe Dono, disse que está tudo bem, pois queria dizer tudo bem com ela, mas cheguei em casa e havia outro envelope aqui e foi minha mãe que o encontrou.

            - Bem, mas o que diz esse novo bilhete?

            Contei a ele, conversamos rapidamente e ele disse-me que assim que termine a reunião que ele me ligaria e nos encontraríamos. Estava acabando de me vestir e ouvi barulho na porta, meu coração disparou de imediato imaginei alguém colocando outro envelope e corri para a sala, mas era mamãe chegando. Ainda bem que eu a vi antes e estanquei meus movimentos.

Hugo & HenriquetaOnde histórias criam vida. Descubra agora