- Deixa eu ler mãe.
Minha mão tremia - "Algumas poucas perguntas: Será que verás antes de qualquer pessoa? Como será quando souberem de tudo? Terás onde se proteger? Pense bem se quer mesmo correr mais esse risco. Esqueceu o que já aconteceu?" - tentei de todas as formas controlar minhas emoções, não podia deixar transparecer para minha mãe o que eu estava sentindo.
- Mãe devem ter colocado errado por baixo da porta, é um convite de um menina para uma menina, para uma festa.
- Mas filha eu vi um monte de pontos de interrogação, pelo menos isso eu entendi.
- Não tem nada não, deve ser alguma brincadeira deles ou um código, mas como não tem nenhum nome nunca vamos saber quem mandou e nem para quem é. Pena que alguém vai ficar sem receber. Uma desculpa inventada na hora, não sei se uma desculpa esfarrapada, mas foi a única coisa que me veio à cabeça naquele momento.
- É isso é verdade.
- Mãe eu vou tomar um banho.
Fechei a mão quase amassando todo o envelope e fui direto para meu quarto, não sei como consegui me controlar, eu tremia toda e minhas pernas estavam bambas, deixei minhas coisas sobre a cama peguei meu celular e fui para o banheiro. Abri a água e liguei para meu Dono. Chamou, chamou, chamou e ele não atendeu. Eu sabia que ele estaria na reunião, imaginava que estive com o seu aparelho silenciado ou desligado.
Com a água aberta sentei no vaso e tentei pensar em tudo o que estava acontecendo, as palavras - "...Esqueceu o que já aconteceu?" - me deixaram em polvorosa. Ao que elas se referem? Meu ferimento a bala? A morte de meu pai? Algo acontecido aqui? Lembrei de meu retrato e vestido destruídos.
Não sei quanto tempo fiquei ali sentada tentando entender, seguir uma linha de raciocínio plausível. Então ouvi batidas na porta.
- Filha está tudo bem?
Levei um susto, quase deixei o celular cair ao chão.
- Está sim mãe estou acabando.
- Olha vou sair, agora que eu vi que esqueci de comprar um tomate para a salada. Eu já volto.
- Está bem mãe.
Levantei do vaso, tirei a roupa olhei no espelho a cicatriz, todos os acontecimentos que me recordo daquele dia me vieram à mente. Estremeci toda ao lembrar do som da arma disparando. Foi um dia terrível aquele, nunca vou esquecer-me, tenho muitas coisas que nunca me farão esquecer. Tomei um banho rápido e quando estava fechando a água meu telefone toca.
Olhei e vi que era ligação do Dono, deixei a toalha cair.
- Oi Dono.
- O que houve, algumas ligações sua. Está tudo bem? Sua mãe?
- Está bem.
- Se está tudo bem tinha razão para me ligar com tanta insistência? Sabendo que eu estaria em uma reunião, acabei saindo um pouco dela para poder te ligar.
- Desculpe Dono, disse que está tudo bem, pois queria dizer tudo bem com ela, mas cheguei em casa e havia outro envelope aqui e foi minha mãe que o encontrou.
- Bem, mas o que diz esse novo bilhete?
Contei a ele, conversamos rapidamente e ele disse-me que assim que termine a reunião que ele me ligaria e nos encontraríamos. Estava acabando de me vestir e ouvi barulho na porta, meu coração disparou de imediato imaginei alguém colocando outro envelope e corri para a sala, mas era mamãe chegando. Ainda bem que eu a vi antes e estanquei meus movimentos.
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Hugo & Henriqueta
Literatura FemininaO retorno de Henriqueta Borges a Londres, agora como uma profissional contratada por uma universidade. Sua nova vida em um país estrangeiro e as adaptações às quais ela precisa se adequar para continuar a sua relação com seu Dono Hugo Hunter, tendo...