Capítulo 2

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San Antonio - Texas.

O verão havia finalmente chegado no Texas, apesar de todo calor infernal que fazia durante todo ano. Jonathan cavalgava com Apolo, seu garanhão multipremiado e seu companheiro de todas as horas. O sol estava a pino mas sabia que viria uma tempestade por ai. Ajeitando seu stetson branco na cabeça ele aproveitava o vento que batia em seu rosto. Um de seus homens o esperava para consertarem uma cerca rompida, o que precisava ser feito imediatamente, a não ser que ele quisesse que seu gado angus fugisse do seu pasto e fosse roubado por terceiros - o que às vezes realmente não importava, afinal, apesar de toda proteção sempre haviam aqueles que tentavam, veja bem, tentavam tocar em seu gado, o que acabava com o sujeito correndo pra fora de sua propriedade fugindo das balas que sua espingarda emitia.

Ele amarrou Apolo em uma árvore e lhe deixou pastando, enquanto ajudava seu funcionário com a cerca rompida.

- Temos que terminar isso logo Carlos, vem uma tempestade por ai...- sua voz grossa não deixava dúvidas sobre sua autoridade naquela fazenda. O Haras Campbell era um dos maiores, mais conhecidos e mais lucrativos da região.

- Claro chefe, eu trouxe tudo que precisamos. - respondeu Carlos, a mão direita de Jonathan.

Então eles ficaram por quatro horas cavando, colocando estacas no chão e desenrolando arames farpados. Depois que garantiu que a cerca estava perfeita, Jonathan retirou as grossas luvas guardando no bolso da calça jeans surrada que vestia, passou a manga da camisa xadrez pela testa afim de secar o suor que escorria. Ele olhou no relógio e já estava quase no fim do expediente do seu pessoal, montando novamente ele fez um aceno com a cabeça a Carlos e foi pra casa.

Ao entrar na grande e espaçosa cozinha, ele encontrou sua cozinheira, Berta.

Carlos e Berta eram casados e viviam em uma casa na propriedade de Jonathan, que fora reformada há alguns anos atrás pelo mesmo. Desde que Jonathan se entendia por gente naquela fazenda, ele conhecia o casal, que continuou trabalhando para ele mesmo após a morte de seus pais. Os dois conheciam bem a personalidade difícil que Jonathan possuía. Era genioso, impulsivo, determinado e sem nenhum tato pra lidar com sua própria espécie. Ele tinha um coração enorme, que permitia poucas pessoas - como Carlos e Berta - acessarem e conhecerem. Jonathan os amava como se fosse da família, apesar de não demonstrar.

- Bertinha, estou indo na cidade. Precisa de alguma coisa? - chegou por trás da cozinha, dando-lhe um beijo estalado na bochecha. A mesma pulou com o susto, levando a mão ao coração.

- Menino, eu já te di-sse-pra-não-fa-zer-isso! - ela dizia pausadamente batendo levemente nele com a colher de pau. - Quando eu morrer, quero ver quem vai querer vir aqui cozinhar pra você! - ela disse emburrada, voltando as panelas.

- Bertinha me perdoe, não faço mais. Agora, me diga logo, precisa de algo? Quero voltar antes da tormenta chegar. - ele beijou sua testa e ela sorriu, se derretendo como sempre. Ela nunca resistia a Jonathan, apesar das brincadeiras insuportáveis.

- Vou querer algumas coisas do mercado por favor, a dispensa está quase vazia. É difícil alimentar tantos peões ao mesmo tempo...- ela reclamou, mas Jonathan sabia que ela amava cozinhar para os funcionários, além dos vários elogios que recebia por parte dos mesmos. Era a mãezona de todas. Tirando uma lista do avental, entregou a Jonathan que logo guardou no bolso. Deixou as luvas em cima da mesa e se dirigiu a sua caminhonete.

No caminho da sua fazenda para a cidade ele ligou o rádio. Apoiou seu braço na janela, conduzindo com uma só mão enquanto ouvia Black Shelton derramar seu amor sobre uma mulher que "tinha jeito com as palavras". Ele sorria debochadamente enquanto ouvia a música. Ele adorava as músicas do Black, mas que tipo de macho ele era realmente? Ela colocou um FU em meu futuro? Mas que porra de letra é essa... - pensou Jonathan rindo.

Jonathan nunca havia se apaixonado e passava longe de todas as mulheres que começavam a dizer a letra "C" de compromisso. Seus casos eram somente de uma única noite, o que ele deixava bem claro. Ele não tinha culpa se as mulheres tinham coração mole e se apaixonavam fácil. Ele sabia que casamentos não duravam, eram efêmeros. Assim como o amor entre um homem e uma mulher.

Seus olhos se tornaram de um verde mais escuro, assim como os pensamentos que invadiram sua mente. Ele observava a estrada a sua frente com cautela. Seus lábios eram uma fina linha. Ele passou a mão pela barba já grande, pensando que deveria fazer logo, mas não tinha pressa. Ele não devia nada pra ninguém, muito menos a alguma mulher.

Chegando na cidade, ele parou rapidamente na casa de rações onde fez o seu pedido da semana. Confirmada a compra, ele foi em direção ao mini mercado do outro lado da rua. Suas esporas faziam barulho a medida que andava. Ele se distraiu ao pegar a lista de Berta no bolso da calça e foi de encontro a outra pessoa distraída que vinha em sua direção. Ele a segurou rapidamente, puxando-a pra perto de si. Estremeceu rapidamente com a descarga de eletricidade que passou entre ambos, quando a tocou.

- Oh me desculpe, por favor. - ela levantou o rosto e seus olhos azuis o perfuravam. Ele sentiu o doce perfume de morango e sua boca salivou. Engolindo o bolo na garganta, ele levantou a sobrancelha observando aquela pequena e desastrada mulher. Suas mãos ásperas apertaram-na suavemente.

- Isso não teria acontecido, se você não fosse tão distraída! - ele ladrou com raiva. A sua súbita explosão não se devia ao fato do esbarrão em si, e sim aos sentimentos que emergiram dentro de si ao tocá-la.

A pequena morena retirou seus braços do aperto e deu um passo pra trás.

- Eu a distraída? O senhor por um acaso está bêbado essa hora do dia? Pois se não, te digo que quem estava com a cabeça abaixada andando distraidamente era o senhor! - seus olhos azuis faiscavam de raiva, oh sim, ele gostou de ver ela arisca desse jeito.

- Então porque não desviou de mim, já que me viu vindo ao seu encontro? - ele cruzou os braços, esperando sua resposta.

Ela revirou os olhos e ele sentiu sua palma coçando, como ele queria dar-lhe umas boas palmadas. Ela ficou muda momentaneamente, em busca de uma resposta plausível.

- Realmente deve estar cego, não reparou a quantidade de sacolas que eu estou carregando? E além do mais, quando tentei desviar já era tarde demais! - ela bufou de raiva, seu rosto mostrava uma carranca adorável. Ele só queria puxar seu lábio inferior e provar seu gosto. Provar se seus lábios eram realmente macios como pareciam.

- Sei... - ele soltou, e a fúria da linda mulher só aumentou. Ele gostou daquilo, seu ogro interior dava saltos de felicidade.

- Sei? Só isso que irá me dizer?! Não vai pedir desculpas? - ela indagou raivosamente - Bem, eu não podia esperar mais de um cowboy grosso como você, agora com licença. - ela sorriu ironicamente e se virou, indo em direção ao ponto de ônibus como um furacão.

Em Nome do Amor - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora