Acordou lá pelas nove horas da manhã, o corpo doía por alguma razão a qual ela ainda não se lembrava. Pouco a pouco foi tomando ciência do espaço ao seu redor, de onde estava e da hora que havia perdido. Procurou por João, não o achou. Bocejou, coçou os olhos, encarou a parede à frente ainda se sentindo sonolenta demais para raciocinar ou andar.
Demorou um pouco mais do que a primeira vez, mas Jéssica se lembrou da noite passada lentamente. Mas dessa vez o sentimento de culpa era menor, dessa vez ela se sentia diferente do que era antes, ela se sentia bem. Não sabia se isso era bom ou ruim, pois independente de como ela estava consigo mesma, havia cometido um pecado dos mais graves. Ainda refletiria se iria ou não se confessar sobre aquilo.
Se dirigiu à cozinha, ainda coçava os olhos, a cabeça estava lenta e sentia seu corpo cansado. Só não sabia ainda se era de tanto ter dormido ou das atividades noturnas com o namorado. Aquela manhã também marcou a primeira falta de Jéssica em três meses, mas ela não lamentaria. Não parecia tão importante naquele momento, mesmo que ela prezasse por uma frequência impecável.
Abriu um dos armários, na esperança de encontrar ao menos um pão duro, porém não encontrou. A fruteira estava guarnecida com bananas, na geladeira tinha leite e em outra porta do armário encontrou uma caixa de cereais no fim. Era o que ela tinha para o desjejum por sua única culpa, era o dever da irmã conseguir o dinheiro e era o dever dela saber quando e no que gastá-lo quando o assunto era a administração da casa. Ela era boa com relação aos números, Victória era boa com relação às pessoas.
Ao se lembrar da irmã, se perguntou se ela havia ouvido algo a noite passada. Não que Victória já não tivesse feito barulhos piores e por períodos maiores, mas ela detestava incomodar e certamente a irmã não iria gostar nem um pouco de ser incomodada após o cansaço de mais um turno de trabalho.
Jéssica colocou o cereal, leite e banana no liquidificador. A intenção era fazer uma vitamina ou algo parecido com isso para não passar em branco no café da manhã, uma vez que não tinha a menor chance de ela descer até a padaria para comprar pão naquele momento. Sentia fadiga, as pernas pareciam que tinham corrido uma maratona, braços pareciam que tinham feito musculação e da mesma forma estavam outros músculos espalhados pelo corpo, alguns deles ela sentia a existência pela primeira vez.
A noite passada marcava algo, era parte de um processo de construção que pouco a pouco ia acontecendo dentro dela naquele mesmo momento. Mesmo sem sentir e mesmo tendo se passado menos de um dia, algo já havia mudado nela. Como se uma chave que estava posicionada no 'off' agora estivesse no 'on'.
O liquidificador fazia seu trabalho, misturando as coisas que ela havia jogado lá dentro, de uma maneira bem lenta. Assim como o ventilador, o eletrodoméstico fazia mais barulho do que desempenhava sua função. Ela não se importava, o rodopio das hélices do liquidificador ativou a lembrança da noite passada por inteiro, como se um flashback estivesse acontecendo. Ela sorria. Sorria com o sorriso mais distraído e não intencional que alguém poderia sorrir.
João era alto e magro. Tinha mãos que envolvia e aconchegava quando ele a pegava pela cintura e a puxava para mais perto. Seus olhos eram apaixonados e eram tão quentes quanto o sol do Éden quando estava com ela. Tinha o beijo leve, tão leve que por vezes ela perdera o equilíbrio por pensar que estava flutuando. Ela sorria.
De olhos fechados, com o liquidificador de som de fundo, imaginava o quanto encaixavam seus corpos de uma maneira única, se encaixavam como se já tivessem feito aquilo muitas outras vezes mais. Quase podia sentir as mãos do namorado passeando pelo seu corpo nu, como se estivesse decorando um mapa com a ponta dos dedos. Estava escuro demais naquele quarto, mas mesmo assim ela conseguia vê-lo claramente. Sabia qual era o olhar que ele dirigia, sabia o quanto aquele par de olhos castanhos se virava, abria e fechava, por causa dela. Sabia o quanto aqueles lábios finos eram mordidos a cada movimento que ela fazia. Era algo suave, um rebolar em ritmo lento, como se fossem as ondas em um dia de mar calmo, ele passeava as mãos por suas costas, ela mordia sua orelha enquanto gemia suavemente em seu ouvido.
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Cidade do Éden
Romance*Romance Erótico* No livro um de Cidade do Éden: Jéssica tenta se descobrir e se libertar, Victória só quer saciar seu desejo e se divertir e João ficará dividido entre as duas irmãs nesse triângulo amoroso quente. A temperatura nunca esteve tão al...