Cidade do Éden

João

Lá fora as primeiras gotas d'água caíam do céu, começaria a temporada de chuvas no Éden. Apesar de, ainda sim, as temperaturas não ficarem tão baixas, era comum uma garoa fina pela manhã e fortes pancadas de chuva pela tarde. Embora a maioria dos cidadãos não tivesse esse período como o favorito, ninguém reclamava muito. Era nessa época do ano que as árvores eram regadas mais vezes e a cidade gastava menos. O tempo se fechou tão naturalmente quanto a aparição do sol. Sem pedir permissão ou licença, o cinza tomou conta de onde o azul reinava imaculado.

Lá dentro a aula era de matemática, mas o garoto prestava atenção nas gotas que desciam pela janela. Ainda se deliciava relembrando de momentos que haviam acontecido há menos de duas horas. Jéssica naquele mesmo momento estava em sua sala fazendo o mesmo que ele. Mas ao mesmo tempo em que pensava em seus momentos com a namorada, também pensava em sua cunhada.

Em seu celular de tempos em tempos piscava um ponto branco, indicando alguma nova notificação. Lembrou-se de quando piscou a luz verde, enquanto assistia ao filme no cinema. Foi a luz que tirou sua atenção, quase que completamente, das batalhas intergalácticas. A mesma luz que agora piscava em outra cor, mas que também o fazia pensar.

Ainda tinha com ele a surpresa, refletia sobre qual seria o motivo de ter recebido aquela foto. Imaginava que poderia ter sido algum engano, e essa era a explicação mais lógica, coisas assim aconteciam todos os dias em qualquer lugar ou a qualquer usuário da internet.

– E aí, vai vir fantasiado de que? – Perguntou Henry o acordando de seus pensamentos.

– O que? – Perguntou ainda distraído sem saber sobre o que o amigo falava.

– A festa, cara... – Respondeu Henry indicando a lousa. Lá estava o recado da última festa do ano, que aconteceria dali a uma semana. O tema escolhido foi 'Natal Macabro', uma forma de a escola fazer uma festa de Halloween junto com a festa de natal. Aquela era uma época de vacas magras, não havia dinheiro para as duas festas, sendo assim optaram pela junção ao invés de fazer uma só para uma das datas.

– Eu sinceramente não sei se venho. – Respondeu João. Festas nunca estiveram dentro de suas atividades favoritas, se Jéssica não fosse àquela, talvez ele também não fosse.

– Qual é, cara? – Henry parecia muito animado, como sempre esteve quando o assunto era qualquer tipo de bagunça. – É a festa da despedida, depois dessa acabou...

– Ainda poderemos entrar nas festas do ano que vem, mesmo sendo ex-alunos, você sabe né? – Era uma tradição da escola receber os ex-alunos em suas festividades, desde que pudessem comprovar que realmente eram ex-alunos dali. Isso, segundo diretores e coordenadores, fazia com que os alunos criassem um vínculo com a escola ao invés do repúdio.

– Você sabe que não será a mesma coisa. – Argumentou Henry enquanto recebia um folheto sobre a festa que começou a ser distribuído por outro aluno. – Obrigado.

– Obrigado. – Repetiu João ao receber o folheto, não via sentido no anúncio vindo da professora já que haviam folhetos com as mesmas informações.

Virou o folheto distraidamente algumas vezes pela mão, a parte de trás tinha uma descrição de como seria a festa, o local, o dia e horário. A parte da frente exibia uma garota vestida de bruxa e a mesma garota vestida de mamãe Noel. João notou que ambas as fantasias pareciam ter sido tiradas de um catálogo de sexy shop, mas eram essas as fantasias mais comuns. No Éden nada que envolvia quantidade excessiva de roupas era popular, principalmente quando eram eventos em locais fechados e de pouca ventilação, isso mais o fato de qualquer eventual defeito no ar-condicionado, poderia causar desidratação. Seja qual fosse a festa, ela tinha o aspecto quente na atmosfera do Éden.