Victória

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– Que cara de desânimo é essa? – Perguntou olhando sua irmã. Jéssica estava deitada e encolhida o máximo que conseguia com ambos os olhos fechados.

– Fale mais baixo. Estou com dor de cabeça. – A voz soava fraca.

– Que porra. Justo hoje... Quer algum remédio? – Perguntou preocupada. – Se sua religião permitir ou sei lá.

– Por favor...

De início aquilo não foi premeditado, apesar de Victória ter se aproveitado da situação. Os planos dela eram todos voltados para curtir com sua irmã, mas o remédio impossibilitaria isso de acontecer. Havia mais de uma opção de comprimido, mas por azar ou truque do destino aquele foi o escolhido.

Jéssica apagou, como se tivesse sido atingida por um dardo tranquilizante. Victória tentou acordá-la de todas as formas possíveis, mas não conseguiu. Foi aí que teve a melhor e a pior ideia daquela sexta-feira.

– Não parece, mas você pesa pra caralho. – Victória reclamou enquanto carregava uma Jéssica em sono profundo para o quarto. Poucas vezes fez aquilo, mas não achava benéfico ela continuar dormindo na posição que estava no sofá.

Depois de ajeitar a irmã na cama, por um instante pensou em ficar, até que ela acordasse. Isso resultaria em perder a festa para a qual ela havia comprado uma fantasia, mas a manteria longe de preocupação. Esse pensamento não durou muito na cabeça de Victória.

Sua fantasia de Eva estava em cima de sua cama no quarto em frente ao de Jéssica, separada para a festividade daquela noite. Mas apesar de achar aquela uma das mais belas e provocantes peças para uma festa em uma escola, seu interesse diminuiu consideravelmente nela e ela sabia o porque. A incomodava o fato de sua irmã e João não terem notado sua roupa de Eva, seu objetivo era sempre marcar ou surpreender de alguma forma. Não foi o caso.

Talvez tenha sido por isso que ao ver a fantasia de Jéssica pendurada na porta do guarda-roupa, que ela decidiu por seguir sua ideia original e ir para a festa, só que com outra fantasia.

A fantasia de diabinha de Jéssica, ficava pouca coisa apertada nela, nada que causasse um desconforto notável. Usaria a máscara, porque apesar de discordar no momento da compra, achou a ideia do toque de mistério sensacional. Aquela máscara seria seu passe livre para se divertir como e o quanto quisesse sem ser reconhecida. Dispensou o tridente e a meia calça vermelha, mas colocou o arco de chifres.

Aquela, dentre todas, foi provavelmente sua noite mais travessa até aquele ponto de sua vida. Sua perversidade extrapolou todos os limites imagináveis e ela conseguiu saciar seu desejo, por ora. Não sabia quando faria aquilo de novo, mas sabia que faria e isso já importava muito. O sexo com João havia sido do jeito que ela imaginava, ele era amedrontado e inseguro, quase um submisso. Ela não havia planejado de fazer isso com ele, mas viu a oportunidade no momento em que o garoto a confundiu com sua irmã, e agarrou sem pensar.

Quando chegou em casa a irmã ainda dormia, sem saber ou desconfiar de nada. Ela jamais descobriria os acontecimentos daquela noite se dependesse de Victória. Jogou a roupa suada dentro de um cesto no banheiro, explicaria para Jéssica que não era legal usar qualquer tipo de roupa sem antes lavar bem todas as peças.

Victória tinha plena consciência de que o que havia feito era errado, mas não se importava. Se tratando de seus desejos a única coisa que importava, era saciá-los. Como, onde ou com quem, era o de menos.

– Vo-você está b-bem? – Foi despertada de suas lembranças da noite passada com a voz de Elias.

– Sim, porque não estaria? – Rebateu a pergunta.

– Já faz quinze minutos que você está esfregando o mesmo lugar. – Elias respondeu sem gaguejar, apontando para o esfregão na mão de Victória.

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