Victória

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Lá estava ela, no mesmo chuveiro de sempre. Ofegava tentando respirar entre os beijos ensopados, debaixo daquela água quente. Não via quem era, mas suas mãos conseguiam sentir um corpo forte, bem definido.

Os lábios fartos se misturavam aos lábios finos dela, trocando, entre uma pausa e outra, leves mordiscadas. Seu calor só aumentava.

Sentia uma das mãos de seu parceiro envolta em sua cintura, firme a pressionando contra seu corpo e entre eles um pau duro, pulsante. A outra mão passeando pela sua nuca, revezando entre um cafuné e leves puxadas em seu cabelo.

Sentia a mão grande do homem descer pelo seu corpo em linha reta, enquanto seu pescoço começava a ser beijado. Ela sentia um misto de excitação, cócegas e arrepio, e gemia com o combo de sensações. Ansiava pela chegada da mão daquele homem misterioso até o final da reta que fazia lentamente. Ansiou tanto que se decepcionou quando aquela mão grande chegou lá. Abriu os olhos e se viu em seu quarto, no escuro e com o barulho da chuva que vinha de fora.

- Porque esses sonhos acabam sempre antes da melhor parte? - Perguntou para o vazio do quarto, coçando a cabeça ainda desnorteada. - Mas é claro que ninguém vai responder, Victória. Idiota.

Rolou até a beirada da cama, adiando até o último momento possível para levantar, sentou-se na borda, se esticou, procurou o par de chinelos com os pés (sem sucesso) e bocejou mais uma vez antes de, enfim, tomar coragem para sair dali. Puxou por debaixo do travesseiro a regata branca que usava como pijama, mas que raramente acordava em seu corpo, se vestiu e saiu pelo quarto.

O barulho do chuveiro só podia ser ouvido do lado de fora do quarto, e mesmo assim ainda se mesclava ao barulho da chuva que caía lá fora. Era incomum a irmã estar tomando banho naquele horário, mas não era de se estranhar naquele momento. Chovia muito lá fora, era muito provável que Jéssica tivesse chegado ensopada. Seguiu pelo corredor à caminho da cozinha.

- Porra! - Ouviu a irmã resmungar na cozinha. Automaticamente ergueu uma das sobrancelhas. Se a irmã estava na cozinha, quem estava no banheiro tomando banho naquele momento?

- Bom dia, Jés. - Cumprimentou ao chegar na cozinha. Jéssica estava vestida com um roupão branco e com uma toalha rosa amarrada no topo da cabeça. Ela estava à beira do fogão segurando uma camisa masculina um pouco acima do fogo.

- Bom dia. - Respondeu a irmã ainda de frente para o fogão, outras peças de roupa masculina estavam dispostas pelo chão, completamente encharcadas.

- De quem são essas roupas e quem está tomando banho se você está aqui? - Perguntou, já sabendo as respostas, com um sorriso de canto enquanto conectava a cafeteira à tomada.

- Do João. Chegamos debaixo de chuva agora há pouco... - Respondeu Jéssica. - Falei para ele tomar banho enquanto eu tentava secar as roupas dele. Tem problema?

- Claro que não irmãzinha. Vou ir vestir algo mais decente já que temos companhia. - Respondeu de forma brincalhona. Neste ponto sua mente já havia se inclinado a aprontar algo, mesmo que fosse algo pequeno.

- Obrigada. - Agradeceu Jéssica virando-se de frente para a irmã pela primeira vez naquela conversa.

Victória adicionou pó de café e água à cafeteira e a deixou funcionando enquanto "ia para o seu quarto vestir algo de moletom". Assim como ela havia dito, realmente vestiria algo, mas faria uma escala antes de chegar ao seu quarto.

Na porta do banheiro olhou para trás, tentando perceber qualquer movimentação da irmã que pudesse pegá-la no flagra, mas Jéssica continuava no mesmo lugar, ao que parecia, escondida atrás da única pilastra da cozinha, de frente para o fogão. Victória então colou o ouvido na porta de madeira, tentando ouvir qualquer ruído diferente que fosse lá dentro, mas só escutava o barulho do chuveiro e da água caindo. Girou a maçaneta e entrou.

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