Jéssica

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– Estou até agora aguardando você me dizer como foi o dia de fotos... – Reclamou Jéssica. Rebeca e ela não se viram na semana que se passou, mas falaram o mesmo tanto de sempre, mesmo assim sua curiosidade ainda não havia sido saciada.

– Sério? Não te falei nada sobre? – Perguntou Rebeca dando um tapa na própria cabeça. – Aconteceu tudo tão de repente, que a ficha ainda não caiu. Quer dizer, esse sempre foi um dos meus sonhos, você sabe disso, mas é um universo muito fechado para nós. Mesmo que a moda plus size esteja crescendo a ideia do corpo perfeito ainda impera... Então, ainda está sendo difícil crer que realmente vá adiante, por isso, não comentei muito com ninguém. Tirei umas fotos, conheci algumas pessoas e eles gostaram de mim. A EVA tá bolando um catálogo mais amplo e físico, não só digital. Mas não sei se minhas fotos já vão entrar no próximo. Ao menos ganhei cachê.

– Então era algum tipo de teste? – Jéssica questionou.

– Não sei ao certo, tinha uma porção de modelos, algumas delas eu já tinha visto de outros lugares, são conhecidas. – Rebeca movimentava, distraidamente, as mãos no tapete felpudo de seu quarto. – Vamos ver se vai dar em algo... Não sei...

– Essa Rebeca pessimista eu não estou acostumada a ver não, hein?! Melhore ou minha mão vai encontrar o seu rosto com uma força e velocidade jamais vista. – Jéssica ameaçou e Rebeca riu.

– Mudando de assunto... – Rebeca falou enquanto esfregava uma palma da mão na outra – Como ficou sua situação com o João?

– Não ficou, amiga. – Jéssica respondeu mudando de semblante com a mesma velocidade com a qual o assunto surgiu. – É estranho, sabe? Parecia que já estávamos juntos há muito tempo, mas isso quase não faz diferença.

– Como assim? – Rebeca tinha um ar de confusão. – Acho que não entendi.

– É que acho que devia estar sentindo falta, não? – Isso a torturava e até causava certa preocupação. – É normal no final de um relacionamento sentirmos falta de quando estávamos namorando? Ao menos enquanto é recente sei lá...

– Nem sempre, ás vezes tudo o que ocupa o espaço é o ódio. – Rebeca riu como se estivesse lembrando de algo. – É o que o meu ex deve sentir até hoje, coitado.

– Alguma coisa eu tinha que sentir. No momento não sinto absolutamente nada. Estou indiferente.

– Não se culpe ou se maltrate por não sentir nada, amiga. Não escolhemos aquilo que sentimos. – Rebeca se levantou e estendeu a mão para Jéssica. – Além do mais, você está num processo de metamorfose. Isso é o mais importante no momento.

– Aonde vamos? – Perguntou Jéssica agarrando a mão da amiga.

– Vamos fazer pipoca! – Respondeu Rebeca com uma piscadela – Tudo fica bem quando estamos comendo pipoca.

O quarto de Rebeca ficava no segundo andar, do lado oposto ao quarto de seu pai. Sua mãe faleceu anos antes vítima de um câncer de mama. Ela nunca comentou muito e Jéssica nunca quis entrar no assunto, sendo assim, quase não falavam sobre.

A característica que mais marcava a casa de Rebeca era o padrão, cada cômodo tinha um padrão de cores e tamanhos dos móveis. A sala tinha um imenso sofá marrom, que combinava com duas poltronas da mesma cor. O quarto de Rebeca tinha como cores principais o vermelho e o branco, e a cozinha era totalmente branca com eletrodomésticos em inox. Todos os padrões de cores eram idealizado por Rebeca, exceto o quarto do pai.

O pai dela praticamente fazia parte da mobília da sala, isso porque todas as vezes que Jéssica havia ido visitar rebeca, ele estava dormindo no sofá com o controle da televisão pousado na barriga.

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